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Eleições  | 30/10/2010 13h10min

Presidenciáveis revelaram mais suas personalidades no segundo turno, dizem especialistas

Para cientista político, Dilma se mostrou mais agressiva e Serra, mais ofensivo e irônico

Engessados por estratégias de marketing no primeiro turno, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) deixaram mais evidentes suas personalidades na segunda etapa da campanha do pleito. Enquanto a petista adotou uma postura agressiva em entrevistas e debates nas últimas três semanas, o tucano se mostrou mais irônico e ofensivo.

A análise da mudança de comportamento dos candidatos é do cientista político Benedito Tadeu César. Professor da UFRGS, ele participou da cobertura eleitoral de Zero Hora, por meio de colunas sobre temas em discussão pelos aspirantes ao Planalto. Na opinião dele, apesar do baixo nível da campanha no segundo turno, os eleitores puderam conhecer melhor cada concorrente.

— Os dois se revelaram mais nesta segunda etapa. Neste sentido, a campanha foi positiva, porque interrompeu aquela imagem produzida dos candidatos no primeiro turno.

— Dilma tem uma postura mais dura, mais agressiva. No primeiro turno, ela havia sido transformada em uma pessoa mais meiga, eu diria anódina. A mesma coisa o Serra. Ele é sabidamente mais agressivo e muito irônico. Em um primeiro momento, foi transformado em uma figura contida. De certa forma, os dois assumiram posturas mais próximas da personalidade de cada um — completa.

 

O cientista político Hermílio Santos, da Universidade de Campinas (Unicamp), concorda que os dois revelaram mais suas personalidades. A mudança de comportamento se tornou mais evidente na transição do primeiro para o segundo turno, na avaliação dele. Dilma alterou o tom por causa do impacto de não ter vencido e Serra pela necessidade de reagir.

— A petista é naturalmente mais assertiva, como ela mesmo diz. O tucano também. Mais ainda porque está atrás. Na campanha, os dois tiveram um teste emocional maior do que político.

Outra mudança de comportamento dos presidenciáveis neste segundo turno foi o apego à religião. Com a polêmica sobre aborto e a constante citação de temas religiosos na disputa, Dilma e Serra passaram a frequentar igrejas e abusar da expressão "se Deus quiser".

— Todo mundo passou a ser crente e religioso. Contudo, tanto Serra e Dilma não são religiosos, não têm práticas religiosas. Porém, Deus virou o grande cabo eleitoral — afirma Tadeu.

O professor da Unicamp acredita que, com a movimentação brusca na campanha provocada pelo tema aborto, os dois candidatos tiveram de reagir imediatamente, com a inserção de manifestações religiosas nos discursos.

— Quando a polêmica do aborto entrou em discussão, eles (Dilma e Serra) calcularam que poderia haver um prejuízo e se apegaram à religião. Isso ficou muito claro nos pronunciamentos e nos debates — analisa.

A modificação no comportamento está diretamente ligada a outra mudança: a do conteúdo das discussões. Temas políticos, de interesse público, deram espaço a posições pessoais. Para o cientista político, debater quem é contra ou a favor do aborto rompe a barreira política do assunto.

— Você pode discutir esse tema no seguinte sentido: falar de políticas públicas à mulher que vai interromper a gravidez ou não. Isso é uma discussão política. Agora as convicções das pessoas não têm nada a ver com campanha presidencial.

Trato com a imprensa

Reservada no tratamento com a imprensa durante o primeiro turno, Dilma mudou o comportamento a partir da segunda etapa. Abandonou o púlpito antes usado para conceder a maioria das entrevistas e se aproximou dos jornalistas.

Na opinião de Tadeu, em uma primeira exposição, quando a ex-ministra ainda não tinha "traquejo" com repórteres, a coordenação montou um aparato para protegê-la. No entanto, sem a vitória no primeiro turno, a aparente postura de presidente praticamente eleita foi afastada da imagem da candidata.

Quando ocupava cargo técnico, segundo o especialista, o tratamento de Dilma com a imprensa era outro, sem necessidade de conquistar votos.

— Como concorrente, acho que inicialmente a coordenação evitou a exposição dela, até pelo uso que pode ser feito das declarações. No segundo turno, interromperam esta posição mais distante. E, obviamente, ela está mais traquejada, pode arriscar mais. Ao contrário de Serra, que já estava acostumado com o convívio junto a imprensa com intuito eleitoral, Dilma teve de aprender.

Na visão de Valeriano Costa, a petista adotou um relacionamento com a imprensa tradicionalmente usado em países como Estados Unidos, porém vista como antipática no Brasil.

— Ela transmitiu uma arrogância em um primeiro momento. Soou como se ela estivesse eleita. No segundo turno, eles mudaram o plano, porque não fazia sentido, não é o estilo brasileiro.

ZEROHORA.COM
Montagem sobre fotos de Juan Barbosa e Mauro Vieira / 

Mudança de comportamento de Dilma e Serra ocorreu na transição do primeiro para o segundo turno
Foto:  Montagem sobre fotos de Juan Barbosa e Mauro Vieira


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