Perfil do Candidato

O Brasil de Lula com alma e coração de mulher. Foi assim que Dilma Vana Rousseff, 62 anos, mineira de Belo Horizonte, apresentou-se como candidata do PT à Presidência da República. Foi mais uma reviravolta que marcou a biografia e a personalidade da economista formada pela UFRGS. Dilma não costumava se valer da condição feminina. Com maioria masculina nas pesquisas de intenção de voto, rendeu-se ao apelo do gênero.

- Ela vai enfrentar um teto de vidro. Parece invisível, mas é de ferro, e coloca mulheres sob suspeição. O preconceito estará presente - avalia Lícia Peres, amiga de três décadas.

Dos pais, o búlgaro Pétar Russév - naturalizado Pedro Rousseff - e a professora Dilma Jane Silva, recebeu lições de piano e boas maneiras. Sob os codinomes de Estela e Vanda, militou em grupos como Polop, Colina e VAR-Palmares, foi presa e torturada. Com o fim do primeiro casamento, com Cláudio Galeno Linhares, uniu-se ao gaúcho Carlos Araújo e se mudou para Porto Alegre, onde ajudou a fundar o PDT. Indicada pelo partido, foi secretária da Fazenda de Porto Alegre, presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE), e secretária de Energia, Minas e Comunicações, de 1993 a 1994 e de 1999 a 2002. Rompeu com o PDT para se filiar ao PT.

No final de 2002, chegou à equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva ungida por Olívio Dutra e credenciada por dois episódios: a luta para fortalecer o sistema elétrico gaúcho em 1999 e a articulação para deixar a Região Sul fora do racionamento de 2001.

- Em 1999, havia apagões quase diários, e a solução mais rápida era construir uma subestação entre março e dezembro. Todos diziam que não dava tempo. Ela não aceitou o impossível, e a obra saiu em tempo recorde - lembra Ronaldo Custódio, então assessor da secretaria.

Desde o fim do casamento de quase três décadas com Araújo, no final de 2000, Dilma não assume relações amorosas. Em 2009, enfrentou um câncer linfático com cirurgia e quimioterapia, sem demonstrar fragilidade em público.

Não envolveram preconceito de gênero os dois choques mais visíveis com Dilma. A ex-diretora da Anac Denise Abreu e a ex-superintendente da Receita Lina Vieira a acusaram de favorecer interesses privados, mas não conseguiram dar consequência às denúncias.