Em um debate de cinco blocos, o primeiro entre os presidenciáveis que disputam o segundo turno, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) protagonizaram uma discussão acalorada e trocaram acusações sobre temas como o aborto e as privatizações dos governos passados.

A pergunta que abriu o debate desta noite na TV Band pedia aos candidatos que elegessem o tema que consideravam de maior importância na discussão eleitoral e explicassem sua proposta de governo direcionada à questão. Serra escolheu a educação: 

— Nós temos que investir pesado no Ensino Fundamental, inclusive colocando duas professoras por sala de aula na primeira série — disse o candidato, referindo-se a um projeto que implementou enquanto governador do Estado de São Paulo.

O tucano ainda reforçou a promessa da criação de 1 milhão de vagas no Ensino Técnico, caso seja eleito, para proporcionar aos jovens uma "perspectiva de futuro".

Dilma não escolheu um tema específico. Afirmou que o assunto em voga no debate é o "processo de garantir que o Brasil continue mudando, crescendo a taxas elevadas, mas olhando para as pessoas". A petista falou em distribuição de renda e na erradicação da pobreza no país: 

— Quero um país de classe média.

Na primeira oportunidade de perguntar a Serra, Dilma acusou a campanha tucana de atingi-la por meio de "calúnias, mentiras e difamações": 

— O senhor considera que esta forma de fazer campanha, que usa o submundo, é correto? — questionou.

Ao responder, Serra também se disse vítimas de ataques pessoais. 

— Nós somos responsáveis por aquilo que pensamos e aquilo que falamos. Vocês confundem sempre verdades com ataques orquestrados — respondeu o tucano, que mencionou o escândalo na Casa Civil e uma suposta afirmação de Dilma, de que seria a favor da legalização do aborto, para dizer que a petista não era "coerente".

Na réplica, Dilma afirmou que Serra regulamentou o acesso ao aborto no Sistema Único de Saúde (SUS), o que foi negado pelo tucano: 

— O que eu fiz como ministro, por sugestão do pessoas que cuidam da saúde da mulher no Brasil, foi uma norma técnica que balizasse os abortos previstos pela lei [risco de vida da mulher e estupro].

No meio da discussão, a petista ainda ironizou o fato de Serra ter sido denunciado por calúnia e difamação: 

— Você está dando um primeiro passo para o Ficha Limpa.

Ao falar sobre os problemas enfrentados pelas Santas Casas, Dilma resgatou a questão do aborto, que tem permeado o debate presidencial, chamando de "gravíssima" uma fala de Mônica Serra, esposa do tucano: 

— Sua esposa, a Mônica Serra, eu vou dizer o que ela falou: a Dilma é a favor da morte de criancinhas. Isso é um absurdo".

Dilma também perguntou a Serra sobre uma possível privatização da Petrobrás, com a mudança do nome da estatal para PetroBrax, a fim de aumentar a aceitação estrangeira em torno da empresa.

A resposta de Serra envolveu nome de petistas, como Luiz Eduardo Dutra e Antônio Palocci, que se "derramaram em elogios" à política econômica do governo FH. 

— Uma hora diz uma coisa, outra hora diz outra, e a culpa é da imprensa — ironizou o tucano.

Dilma voltou a questionar a questão das privatizações, citando a Light, que presta serviços de eletricidade e empresas de telefonia. Para arrematar, a candidata falou sobre o pré-sal. 

— O principal assessor de Serra disse que era a favor da privatização do pré-sal, não é trololó, uma das riquezas mais importantes do Brasil, não é para o final da década, os recursos do pré-sal começam a chegar agora. É um passaporte para o futuro — disse Dilma.

No terceiro bloco, o assunto privatização voltou à voga, quando Dilma perguntou quantas empresas o tucano havia privatizado.

Serra falou da privatização da Telebrás, que teria aumentado o número de telefones no país e que, se não fosse este passo, "estaríamos no tempo do orelhão".

Os candidatos ainda debateram temas como segurança pública e saúde e não deixaram de comparar os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).