"Bambas é Bambas" – e basta.

O estouro da bateria "Coração de Águia", do mestre Estevão, no aquece do ensaio é o melhor argumento para justificar a frase com que todos que reservam as noites de quinta a cultuar a paixão pela azul e branco respondem aos críticos. Se o Carnaval na avenida deixa espaço para desconfiança, na quadra está o que realmente move uma das mais tradicionais escolas da Capital.

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Bem como no primeiro chamamento do intérprete Sandrinho Gessé:

– Se não botar o coração agora, depois não adianta.

● Empolgação contagia

Sebastião da Silva, 39 anos, atendeu ao chamado. Nos últimos 16 anos, ele é sempre um dos primeiros a entrar com a mãe, Maria, 80 anos, na quadra – ainda acanhada mas, segundo a diretoria da escola, em fase de melhorias – da Rua Voluntários da Pátria, no Centro.

Em 1995, Maria foi convidada a desfilar, mas só aceitou com uma condição: se o filho,
que é cadeirante, pudesse participar. Virou uma questão de amor em família. Quando mãe e filho chegam, o cheirinho do entrevero na "Banca da Família", do Jorge Alberto Fróes, 43 anos, já transforma o ambiente. O trailer de xis é sucesso na entrada da quadra.

O samba não demora a esquentar o ambiente. Mas, se ritmo e empolgação contagiam, o calor e a estrutura baixa da quadra jogam contra a Águia. Dizem que a capacidade é para 2 mil pessoas, mas, com a metade disso, a festa parece sob medida.

SERVIÇO
● A quadra da Bambas da Orgia fica na Rua Voluntários da Pátria, 1387, Centro.
● Os ensaios abertos acontecem toda quinta-feira.
● Ingressos custam R$ 10.

Para comer
● Na rua, um xis entrevero sai por R$ 8 e o “pastel gordo” – com 10cm de massa –,
custa R$ 5. Um espetinho sai por R$ 3.
● Na copa, o bolinho de batata é R$ 3, o pastel R$ 3 e o cachorro-quente R$ 4.

Para beber
● Na copa, a cerveja custa R$ 4, o refrigerante R$ 3 e a caipirinha, R$ 3,50.

O que há de bom
● O público é sempre bom na quadra da Bambas da Orgia.
● O acesso é facilitado, na área central da Capital.
● O preço está entre os menores do Carnaval. E ainda há chance de ganhar brindes nas rifas.
● As diretorias de alas estão presentes e com fantasias à disposição para quem ainda
quiser participar do desfile.

O que precisa melhorar
● A quadra é estreita e com teto baixo, o que prejudica o som.
● O calor é constante, mas a diretoria garante que os ventiladores passam por uma revisão.
● A copa é acanhada e a fila é inevitável. Compre sua bebida enquanto a festa rola, não deixe para o intervalo do grupo-show.
● Os banheiros são acanhados.

O samba da cozinha

Entre as panelas e a fritura, a dona Santa Gesuíno, 67 anos, dá seu jeito para curtir o
ritmo do samba na quadra. Sambar mesmo, não dá tempo.

– Mas eu faço um sambinha assim, de ladinho – diz, com um sorriso contagiante de
quem conhece tudo da escola que leva no coração há 40 anos.

Ela e outras duas cozinheiras garantem uma das principais atrações dos ensaios da
Bambas da Orgia: os bolinhos de batata. A cada quinta-feira, são consumidos pelo
menos 15kg de batatas. Em média, 120 bolinhos são saboreados enquanto o samba
rola solto.

Musa, de coração

Goiana, filha de árabe, que procurou no Alegrete uma oportunidade de emprego. O que esse perfil tem a ver com o Carnaval? Desconfianças e caras atravessadas à parte, Afifa Musa fará sua estreia à frente da bateria da Bambas e, para quem chega à quadra da escola, parece que ela sempre foi azul e branco.

– Eu vesti a camiseta mesmo. Tudo o que eu puder fazer por essa bateria, farei – garante.