É pisando no trabalho de Antonio Amâncio da Rosa, 69 anos, que muitas musas do Carnaval brilham na avenida. Mas ele não se importa, pois as sandálias e botas que confecciona há 15 anos ganham destaque calçadas em quem tem samba no pé.

Até o fim da folia, a pequena empresa na Avenida Farrapos, na Capital, entra no ritmo do Sambódromo. Passistas, destaques e membros de alas encomendam sandálias e botas. Antonio e a família varam noites para dar conta de tantos pisantes especiais.

Na porta da concentração

A irmã de Antonio, Beloni Rosa, 50 anos, lembra casos em que alguns pares tiveram de ser concluídos às pressas, com a escola já na concentração, devido à quantidade de trabalho no período carnavalesco.

- Dependendo do modelo, levo um dia inteiro fazendo uma sandália - conta o sapateiro, revelando que cada par custa, em média, entre R$ 200 e R$ 270.
Conforto, segurança e resistência são três qualidades fundamentais para este tipo de calçado. Também pudera: os preferidos das passistas têm salto de 15cm e precisam suportar pelo menos 60 minutos de desfile, além da rotina exaustiva de ensaios, sem prejudicar os pés.

"Amanhã, tenho de fazer melhor"

Além da clientela do Carnaval, dançarinas da noite e travestis também são clientes da loja de Antonio.

Sem conhecimento teórico, o sapateiro iniciou sua carreira há mais de 30 anos, desmanchando sapatos. Aos poucos, se aventurou a fazer modelos femininos, "já que as mulheres são mais consumistas". No Carnaval, Antonio recorda ter começado calçando uma ala inteira da Estado Maior da Restinga, justamente num ano em que a escola foi campeã.

- É um ofício antigo, simples, mas que eu gosto tanto. E a gente cresce assim: o que eu fiz hoje, amanhã tenho que fazer melhor - revela.

Use, mas cuidado!

O ortopedista e traumatologista Pedro Kanan, do Grupo do Pé, da Santa Casa, afirma que um salto alto usado para dançar pode gerar sobrecarga - uma vez que a pessoa fica na ponta dos pés o tempo inteiro e não tem equilíbrio -, causando dores na panturrilha, entorse no tornozelo, tendinite, entre outros problemas. Pode causar até fraturas no tornozelo ou no pé. É um tipo de calçado para utilizar de vez em quando e não rotineiramente.

O especialista explica que, caso a pessoa comece a sentir dores, é importante baixar a altura do salto e procurar um médico. Para descansar após o uso do salto alto, é bom colocar os pés dentro de uma bacia de água morna e elevar as pernas.

BEM LONGE DO SAMBÓDROMO

Passista durante 20 anos e agraciada com 15 estandartes de ouro, a diretora artística da Império da Zona Norte, Ana Marilda Bellos, é uma cliente fiel de Antonio. Foi por intermédio dela que o sapateiro deixou Caxias do Sul e estabeleceu-se na Capital.

- Ele executa com fidelidade o pedido que a gente faz - conta Ana Marilda, que tem 28 botas e quatro sapatos confeccionados pelo sapateiro.

Mesmo calçando inúmeras beldades do Carnaval, Antonio nunca foi ao Sambódromo para conferir de perto suas criações, que já fizeram sucesso em Arroio dos Ratos, Santo Antônio, Alegrete, Rio Grande, Uruguaiana, e até em Portugal e Espanha.

Vale conferir
Mais detalhes do trabalho de Antonio em www.antoniorosacalcados.com.br.