Quatro em cada dez mulheres são vítimas de ciúme

A relação entre Priscila Dornelles, 23 anos, e o noivo já não existia. Ela tentava escapar do comportamento violento dele, que só se revelou com o noivado. Depois de um registro policial feito por ela sobre as ameaças que sofria, André Luís Martins Figueiredo a levou até um morro isolado na Capital e sentenciou:

 

— Se tu me abandonar ou me denunciar, eu juro que te mato e picoto todinha. Ninguém vai encontrar o corpo.

 

Apavorada, ela retirou a queixa. O episódio aconteceu ainda em 2011. Depois disso, Priscila deixou a casa onde morava com André, fez outras ocorrências e o risco seguiu existindo.

 

Final trágico

 

A mãe dela, Sheila Dornelles, hoje aos 51 anos, só soube daquela ameaça muito depois de a história terminar em tragédia, no domingo 29 de janeiro de 2012. Eram 22h30min, um dos horários mais críticos na região — quase 40% dos assassinatos foram registrados à noite.

 

Priscila divertia-se em um ensaio de escola de samba na Vila Cerne, em Canoas, quando um homem se aproximou e a executou com dois tiros. Para a polícia, o crime foi ordenado por André.

 

— Havia muita coisa que a gente não imaginava que acontecia. Depois da morte começamos a ver que ele era um monstro — diz a mãe.

 

Probabilidade

 

Assim como Priscila, 39,5% das 472 mulheres mortas foram por crimes passionais. Se a probabilidade de uma mulher ser morta na região é de apenas sete em cada cem homicídios, quando se trata de passionais, 40% das vítimas são mulheres.

 

— Na teoria, a lei Maria da Penha é maravilhosa, mas ainda é pouco. Muito longe de resolver o problema quando uma mulher está ameaçada. A minha filha já andava com o telefone do delegado na bolsa, evitava ir a alguns lugares, teve que mudar de emprego. E, mesmo assim, aconteceu isso — desabafa a mãe.

 

Mãe faz alerta para outras famílias interpretarem os sinais

Na noite em que Priscila foi morta, ela saía com algumas amigas depois de muito tempo. O ex-noivo não estava lá, mas um amigo dele sim. Ela não desconfiava mas, segundo a polícia, o rapaz seguia ordens de André Luís. Seis meses depois, o ex-noivo, àquela altura já denunciado como mandante do crime, foi assassinado em Porto Alegre. Era taxista e foi vítima de um acerto de contas.

 

Bruno dos Santos Reck, acusado de ser o atirador, já foi pronunciado. Atualmente, está em liberdade e deve ser julgado em 2017.

 

Enquanto isso, a mãe tenta encontrar respostas racionais para a dor. Já refez mentalmente milhares de vezes o que poderia ter evitado o final trágico da filha.

 

— Se eu pudesse mudar algo, e que hoje aconselho às mães, é prestar muita atenção a tudo o que acontece com as suas filhas. Ele era um rapaz muito bom quando começou a namorar com ela, frequentava a minha casa. E quando nos demos conta, não era nada daquilo — diz.

O que pode ser feito

• Integração entre as redes de atendimento a vítimas de violência doméstica.

 

• A violência contra a mulher é um problema de educação e cultura. Trabalhar nessas áreas para uma mudança na realidade.

 

• Professores devem ser capacitados para trabalhar o tema violência doméstica dentro da escola.

 

• O Estado deve possibilitar uma assistência social com acompanhamento efetivo das comunidades mais vulneráveis.

Instalar delegacias para atendimento às mulheres e abrigos para acolhimento de vítimas da violência doméstica e ampliar nos locais onde há em número insuficiente.

 

Fonte: ativista dos direitos da mulher,  Maria da Penha

Mãe de Priscila faz alerta a outras famílias

Carlos Macedo