3º FESTIVAL

DA RECORD

21.out, 1967 | Teatro Paramount (SP)

vencedores

Caetano Veloso

FOTo: WILSON SANTOS CPDOC JB

 
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PONTEIO

Edu Lobo e Capinam

Era um, era dois, era cem

Era o mundo chegando e ninguém

Que soubesse que eu sou violeiro

Que me desse o amor ou dinheiro...

Era um, era dois, era cem

Vieram prá me perguntar:

"Ô voce, de onde vai

de onde vem?

Diga logo o que tem

Prá contar"...

Parado no meio do mundo

Senti chegar meu momento

Olhei pro mundo e nem via

Nem sombra, nem sol

Nem vento...

Quem me dera agora

Eu tivesse a viola

Prá cantar...(4x)

Prá cantar!

Era um dia, era claro

Quase meio

Era um canto falado

Sem ponteio

Violência, viola

Violeiro

Era morte redor

Mundo inteiro...

Era um dia, era claro

Quase meio

Tinha um que jurou

Me quebrar

Mas não lembro de dor

Nem receio

Só sabia das ondas do mar...

Jogaram a viola no mundo

Mas fui lá no fundo buscar

Se eu tomo a viola

Ponteio!

Meu canto não posso parar

Não!...

Quem me dera agora

Eu tivesse a viola

Prá cantar, prá cantar

Ponteio!...(4x)

Pontiarrrrrrrr!

Era um, era dois, era cem

Era um dia, era claro

Quase meio

Encerrar meu cantar

Já convém

Prometendo um novo ponteio

Certo dia que sei

Por inteiro

Eu espero não vá demorar

Esse dia estou certo que vem

Digo logo o que vim

Prá buscar

Correndo no meio do mundo

Não deixo a viola de lado

Vou ver o tempo mudado

E um novo lugar prá cantar...

Quem me dera agora

Eu tivesse a viola

Prá cantar

Ponteio!...(4x)

Lá, láia, láia, láia...

Lá, láia, láia, láia...

Lá, láia, láia, láia...

Quem me dera agora

Eu tivesse a viola

Prá cantar

Ponteio!...(4x)

Prá cantar

Pontiaaaaarrr!...(4x)

Quem me dera agora

Eu tivesse a viola

Prá Cantar!

DOMINGO NO PARQUE

Gilberto Gil

O rei da brincadeira (ê, José)

O rei da confusão (ê, João)

Um trabalhava na feira (ê, José)

Outro na construção (ê, João)

A semana passada, no fim da semana

João resolveu não brigar

No domingo de tarde saiu apressado

E não foi pra Ribeira jogar capoeira

Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar

O José como sempre no fim da semana

Guardou a barraca e sumiu

Foi fazer no domingo um passeio no parque

Lá perto da Boca do Rio

Foi no parque que ele avistou Juliana

Foi que ele viu

Foi que ele viu Juliana na roda com João

Uma rosa e um sorvete na mão

Juliana seu sonho, uma ilusão

Juliana e o amigo João

O espinho da rosa feriu Zé

E o sorvete gelou seu coração

O sorvete e a rosa (ô, José)

A rosa e o sorvete (ô, José)

Foi dançando no peito (ô, José)

Do José brincalhão (ô, José)

O sorvete e a rosa (ô, José)

A rosa e o sorvete (ô, José)

Oi, girando na mente (ô, José)

Do José brincalhão (ô, José)

Juliana girando (oi, girando)

Oi, na roda gigante (oi, girando)

Oi, na roda gigante (oi, girando)

O amigo João (João)

O sorvete é morango (é vermelho)

Oi girando e a rosa (é vermelha)

Oi, girando, girando (é vermelha)

Oi, girando, girando...

Olha a faca! (olha a faca!)

Olha o sangue na mão (ê, José)

Juliana no chão (ê, José)

Outro corpo caído (ê, José)

Seu amigo João (ê, José)

Amanhã não tem feira (ê, José)

Não tem mais construção (ê, João)

Não tem mais brincadeira (ê, José)

Não tem mais confusão (ê, João)

RODA VIVA

Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu

A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata

Não quer mais rodar, não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou

A gente toma a iniciativa

Viola na rua, a cantar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira

Um dia a fogueira queimou

Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou

No peito a saudade cativa

Faz força pro tempo parar

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

Alegria, alegria

Caetano Veloso

Caminhando contra o vento

Sem lenço, sem documento

No sol de quase dezembro

Eu vou

O sol se reparte em crimes,

Espaçonaves, guerrilhas

Em cardinales bonitas

Eu vou

Em caras de presidentes

Em grandes beijos de amor

Em dentes, pernas, bandeiras

Bomba e Brigitte Bardot

O sol nas bancas de revista

Me enche de alegria e preguiça

Quem lê tanta notícia

Eu vou

Por entre fotos e nomes

Os olhos cheios de cores

O peito cheio de amores vãos

Eu vou

Por que não, por que não

Ela pensa em casamento

E eu nunca mais fui à escola

Sem lenço, sem documento,

Eu vou

Eu tomo uma coca-cola

Ela pensa em casamento

E uma canção me consola

Eu vou

Por entre fotos e nomes

Sem livros e sem fuzil

Sem fome sem telefone

No coração do brasil

Ela nem sabe até pensei

Em cantar na televisão

O sol é tão bonito

Eu vou

Sem lenço, sem documento

Nada no bolso ou nas mãos

Eu quero seguir vivendo, amor

Eu vou

Por que não, por que não...

Maria, Carnaval e Cinzas

Luiz Carlos Paraná

Nasceu Maria quando a folia

Perdia a noite, ganhava o dia

Foi fantasia seu enxoval

Nasceu Maria no Carnaval

E não lhe chamaram assim

Como tantas Marias de santas

Marias de flor, seria Maria

Maria somente, Maria semente

De samba e de amor

Não era noite não era dia

Só madrugada, só fantasia

Só morro e samba

Viva Maria

Quem sabe a sorte

Lhe sorriria e um dia viria

De porta-estandarte

Sambando com arte

Puxando cordões e em plena

Folia de certo estaria

Nos olhos e sonhos de mil

Foliões

Morreu Maria quando a folia

Na quarta feira também morria

E foi de cinzas seu enxoval

Viveu apenas um Carnaval

Que fosse chamada

Então como tantas

Marias de santas

Marias de flor, em vez de Maria

Maria somente, Maria semente

De samba e de dor

Não era noite, não era dia

Somente restos de fantasia

Somente cinzas, pobre Maria

Jamais a vida lhe sorriria

E nunca viria de

Porta-estandarte

Sambando com arte

Puxando cordões

E não estaria em plena folia

Nos olhos e sonhos

De mil foliões