Deixe o calor para trás e suba em direção ao silêncio, às cascatas e à natureza intocada do parque ecológico blumenauense
Fernanda Ribas
delicadeza de cada pedacinho de natureza está nos tons de verde, no barulho da água que corre em meio às pedras, no zunido do vento e no cantar dos pássaros. Ao percorrer a trilha do Parque Ecológico Spitzkopf percebi a fragilidade e a imponência da mata atlântica, que resiste, com cerca de 400 espécies da flora, ao tempo e à ação do homem por mais de um século. Um convite à contemplação com acesso limitado nos dias quentes do verão blumenauense.
Subi o Spitzkopf no fim de dezembro, acompanhando o ambientalista Lauro Bacca, que comemorava a sua 90ª subida. Apesar de nobre conhecedor da região, Bacca diz que o passeio é sempre diferente: a cada subida uma nova descoberta e a percepção de que a natureza se recupera lentamente da intempéries causadas pelo homem.
A visita ao topo começa na base do parque com uma conversa com a dona Kolka, proprietária e administradora da área. Desde que passou das mãos da família Schadrack à família da búlgara, que comprou os 113 hectares em um leilão em 2011, as regras de visitação mudaram: paga-se R$ 10 para entrar e ela só pode ser feita nos fins de semana e feriados. Kolka costuma dar orientações sobre o que pode e não pode ser feito ao longo da caminhada. Apesar de breve, o papo rende boas dicas para quem nunca subiu até o topo.
_ Os proprietários têm uma visão bem europeia de contato com a natureza. A ideia em si é preservar e eles têm controle de quem entra e quem sai. O resultado é que está mais agradável ir ao Spiztkopf. Fiquei anos sem ir ao parque porque tinha perdido a graça, havia muitos baderneiros. Hoje está muito melhor _ afirma Bacca.
Apesar de a área pertencer ao Parque Nacional da Serra do Itajaí desde 2004, a União ainda não indenizou os donos dos terrenos. E cabe aos proprietários os cuidados do Parque Ecológico Spitzkopf, desde a permissão da entrada dos visitantes à manutenção do acesso. Espaços que são categorizados como Unidade de Conservação de Proteção Integral devem conciliar a preservação da natureza com o uso público. Como boa apreciadora das coisas da natureza, a pouca estrutura pouco me incomodou. O que me preocupa é encontrar algumas embalagens plásticas ao longo do caminho de visitantes que pouco se importam com o paraíso que deve ser intocado.
No verão de Blumenau sugiro investir algumas horas da vida para se encontrar com o paraíso e ficar em silêncio para ouvir o barulhinho da natureza. Em uma hora e meia chega-se até o ponto mais alto de 913,98 metros e os olhos não se cansam de observar a imensidão verde. Um morro considerado soberano pelo ambientalista:
_ Não é um dos mais altos, mas é isolado, e por esse motivo proporciona a vista mais espetacular da região. É um dos trechos de floresta mais intocados de Santa Catarina. Vale a pena a subida. É um encontro com a natureza.
• Procure informações. Em alguns pontos é fácil se perder pois o percurso não é sinalizado.
• Quase no topo há uma bifurcação perto dos pinheiros. Siga reto, contorne-os e entre na mata fechada até alcançar o mirante.
• É nessa floresta de pinheiros que fica o melhor ponto para fazer uma pausa: há sombra e a temperatura neste ponto é sempre mais baixa que no mirante.
• Evite ir sozinho. Procure ir com duas pessoas ou mais.
• Vá cedo para aproveitar bem o parque e encerre o passeio com um banho em uma das três cascatas.
• Não vá em dias de chuva, a trilha fica com muita lama.
• Se tiver chovido nos dias anteriores ao passeio, vá de bota.
• Leve água, frutas, barra de cereal e bolachas, uma sacolinha para o lixo, repelente, protetor solar e uma toalha para se sentar e observar a paisagem do mirante.
• Evite usar roupas pretas, verdes ou azuis, por atrair insetos.
• Ao longo da caminhada, não olhe apenas para frente. Faça o movimento de olhar sempre para cima e para baixo.
Em alemão Spitzkopf significa cabeça pontuda, em razão do formato do morro. Ele é visitado há mais de cem anos e pertenceu por mais de um século à família Schadrack. Em 2004, com a criação do Parque Nacional Serra do Itajaí, a área passou a ser Unidade de Conservação de Proteção Integral, que concilia a preservação da natureza com o uso público.
• Fica a 15 quilômetros do Centro de Blumenau, na Rua Bruno Schreiber, 3.777, no Progresso.
• O horário de visitação é aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 18h.
• Adultos pagaram R$ 10, estudantes e crianças até 12 anos, R$ 5 e crianças até 6 anos não pagam.
• Tem cinco milhões de metros quadrados de mata atlântica, com nascentes, cascatas, trilhas.
• Da base ao topo são 6 quilômetros. O percurso pode ser feito a pé ou de bicicleta.
• O ponto mais alto fica a 913,98 metros de altura