Lucas Paraizo
lucas.paraizo@santa.com.br
Aeroclube de Blumenau
completa 75 anos e mantém
vivo o aeroporto com cursos
para pilotos e comissários
irar o céu azul e tirar os pés do chão, elevar-se em direção ao desconhecido e, com a graça dos pássaros que assistíamos, flutuar. Voar é talvez um dos anseios mais antigos do ser humano, um desejo poético que hoje é realidade nos enormes, paradoxais e pesados aviões que vencem a gravidade e ganham o céu. Há um charme envolvido na aviação. A criança que sonha em pilotar ou se encanta com a classe da comissária de bordo vê lá em cima um futuro de viagens e caminhos desconhecidos para longe de escritórios e salas com computadores.
Muitos desses caminhos para o ar começaram, e ainda começam, em Blumenau. Mesmo fora da rota das linhas aéreas comerciais do país, o Aeroporto Quero-Quero na Itoupava Central é pista de treinamento e ponto de partida da carreira de pilotos e comissários de bordo no Aeroclube de Blumenau, que hoje completa 75 anos de fundação.
Foi por aqui que Angelo Danna Neto encontrou seu sonho. O jovem nascido em Rio Negrinho, no Norte do Estado, veio para Blumenau com o objetivo de transformar seu gosto por pequenos aviões aeromodelos em algo maior. Hoje, aos 19 anos, já é piloto formado e atua como instrutor teórico do aeroclube:
– Amo aviões desde pequeno e a paixão sempre foi crescendo. Comandei um avião pela primeira vez em um 1º de abril, parece até mentira, quando eu tinha 14 anos. Era um voo panorâmico e o piloto me deixou segurar por alguns instantes. Na hora sabia que seria piloto – lembra.
PREPARANDO VOO
Daniel Fernando Gonçalves de Oliveira (D), que estuda para ser piloto,
a bordo de avião com o instrutor Angelo Danna Neto (E)
ssim como Danna Neto, o aeroclube blumenauense forma todo ano pilotos que vão trabalhar em aviões comerciais ou privados. Daqui saíram, como lembra o atual gestor administrativo, Maurício Hermann Rutzen, profissionais que hoje trabalham em companhias de todo o mundo. Desde as principais do Brasil até outras de países como China, Catar e Emirados Árabes.
– Se não sei nada, tenho até a oitava série do ensino fundamental, tenho boa saúde e força de vontade, consigo sair daqui pronto para trabalhar em uma companhia aérea – destaca Rutzen ao explicar que o aeroclube possui cursos de formação do básico aos níveis mais específicos da aviação.
Quem está trilhando esse caminho é Daniel Fernando Gonçalves de Oliveira, 19 anos, que há oito meses se dedica aos cursos para se tornar um piloto. Ele veio de Brusque e largou a faculdade de Engenharia Elétrica para estudar no Aeroclube.
– Não tem como descrever a sensação de voar. Esse fenômeno de levantar voo é algo que sempre me encantou – diz.
VIDA PARA VIAJAR
Alline Bomfanti (E), Jéssica Trainotti de Souza (C) e Júlia Raquel (D) estudam para se formarem comissárias de bordo
ão são só os pilotos que vivem nas alturas, e há quem se encante pelas outras profissões no universo da aviação. Atualmente no Aeroclube de Blumenau 16 pessoas fazem o curso de comissário de bordo. Uma das alunas é Jéssica Trainotti de Souza, 18 anos, que corre atrás do sonho de criança.
– Tenho um primo piloto de avião e desde pequena me encanto pelo trabalho, pela possibilidade de viajar tanto – diz.
Foi para fugir dos escritórios e conhecer outras culturas que Alline Bomfanti também decidiu entrar para o curso. Viu na carreira de comissária de bordo um escape para a rotina que vivia em uma securitizadora. A jovem de 23 anos espera concluir a formação, passar no teste da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e atuar uma companhia aérea.
NA ROTA COMERCIAL
Piloto se prepara para o pouso na pista do Aeroporto Quero-Quero, que tem 1,4 mil metros de extensão
á quase 20 anos sem pousos e decolagens de voos comerciais, começa a ganhar corpo um movimento para que o Aeroporto Regional de Blumenau, o Quero-Quero, volte a receber aeronaves de transporte de passageiros e cargas. A iniciativa é liderada pelo ex-prefeito e conselheiro da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Félix Theiss.
Ele espera se reunir no início de maio com o prefeito Napoleão Bernardes para apresentar um projeto atualizado sobre o futuro da estrutura.
A ideia é revitalizar o Quero-Quero por meio de uma parceria público-privada. Um grupo de empresários levantaria a verba necessária para realizar investimentos na estrutura, enquanto a prefeitura daria apoio em questões como desapropriações de terrenos e elaboração de estudos técnicos.
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Marcos Ruediger, acompanha de perto os trabalhos.
O desejo de reativar as operações comerciais do Quero-Quero parte, principalmente, do potencial econômico não só de Blumenau, mas do Vale. A região da Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi) reúne cerca de 745 mil moradores, o que, para Theiss, comprovaria a demanda. Outro fator ajuda a corroborar esse argumento: um estudo divulgado no fim do ano passado pela Secretaria de Aviação Civil mostrou que Blumenau teria condições de ter um voo comercial diário para São Paulo, com movimentação anual de 133 mil pessoas.
O plano, porém, pode enfrentar alguma resistência. Não há mais slots (horários reservados para operações de voos) disponíveis em Congonhas, na capital paulista, e os poucos que restam em Viracopos, em Campinas (SP), estão na mira de outros aeroportos regionais já prontos. Há, também, quem dispense a necessidade de um terminal aéreo em Blumenau diante da existência da estrutura de Navegantes, a apenas 50 quilômetros.
Theiss minimiza a questão e diz que não se pode mais pensar em distância em quilometragem, mas pelo tempo de deslocamento até o município do litoral:
– Em horários de pico isto representa, numa BR-470 ainda não duplicada, nada menos de uma hora e meia para ir e mais tanto para voltar. Três horas só para deslocamento daqui até Navegantes é para chorar quando queremos agilizar a produtividade brasileira.
Atualmente, além de abrigar escolas de formação de pilotos, o Quero-Quero recebe apenas voos executivos. A pista tem 30 metros de largura e 1,4 mil metros de extensão – 1.080 deles homologados – e é maior do que a do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, o que atestaria a capacidade da estrutura de absorver aeronaves comerciais.
Pedro Machado
pedro.machado@santa.com.br
SEXTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2016