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Os sons de Blumenau

Neste aniversário, descubra ritmos e artistas que embalam o dia a dia e são exemplo da diversidade local

TEXTOS: Lucas Paraizo

lucas.paraizo@somosnsc.com.br

IMAGENS: Lucas Correia e

Patrick Rodrigues

A

música é talvez a arte mais presente em nossas vidas. Do rádio ligado no carro, das cantigas de roda da infância à descoberta dos clássicos do rock na adolescência, o reggae na praia, o samba na mesa de bar. Para a grande parte de nós não há como dissociar nossas histórias de canções, ritmos e melodias.

Ouso dizer que bom sujeito não é quem só não gosta de samba. É quem não gosta do rock, do sertanejo, da MPB. É quem não enxerga na diversidade de sons uma riqueza sem fim, daquelas que demonstram bem quem somos, de onde viemos e até para onde vamos.

Por isso neste aniversário de Blumenau o Santa optou por mostrar os ritmos que fazem parte da cidade. Por meio de seus embaixadores – os músicos, claro – vamos democraticamente passear por diversos estilos musicais nesse 2 de setembro. Nas páginas a seguir, provamos que Blumenau é terra fértil para partituras e batuques. Só nos resta reverenciar e seguir no ritmo.

Feliz 167 anos, Blumenau!

Larissa Guerra

Com inúmeros sucessos, Os Montanari fazem parte da história de blumenauenses que amam uma “música de bandinha”

No embalo dos bailes

D

ez pessoas (ou mais!) no palco, vários instrumentos, clássicos da matinê e baile por horas e horas com cerveja baratinha – e às vezes até um café colonial no meio da festa para dar aquela recarregada nas energias.

 Os bailões são bem comuns e tradicionais em Blumenau e região, com público cativo que bate cartão nas festas durante a semana ou no sábado. E de lá vem um estilo musical todo próprio, carinhosamente chamado de “música de bandinha” por alguns, naquela mistura que traz toques de música alemã, gaúcha, sertanejo e um clima feito para dançar sem parar. Com sons bem populares e divertidos, os grupos têm espaço cativo nos sons de Blumenau e inclusive em histórias engraçadas, como a do Bar do Stitz que “tem muita coisa boa, tem ovo na conserva e tem até rollmops” da música d’Os Montanari, grupo com quase 60 anos de estrada e inúmeros bailes e sucessos na conta.

Onde ouvir

Clube Recreativo Concórdia

 

Sociedade Primavera

 

Sociedade Serrinha

 

Nova Blumenau

 

Sociedade Palmeiras

Os Montanari

 

                         Lugar: Clube Recreativo
                         Concórdia, na Itoupava Central

 

Em um clube com uma sala dedicada ao Museu dos Clubes de Caça e Tiro, a banda Os Montanari se reúne para a foto antes de tocar em um jantar dançante. Na Itoupava Central e Vila Itoupava, na região Norte de Blumenau, estão os locais onde o grupo mais se apresenta e anima bailes e festas. Lugares como a Sociedade Primavera ou a Serrinha fazem parte da história do grupo, que se diz bem recebido na região e traz boas lembranças de shows.

Léo Maier até criou uma música para Blumenau e é na Nova Rússia que ele busca inspiração para suas composições

Alles blues, Blumenau!

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arece que Blumenau criou um apreço ao longo dos anos pelo gênero de gigantes como BB King e Muddy Waters. Diversos shows de blues ocorrem na cidade e lendas da música norte-americana já se apresentaram por aqui (Linsey “Hoochie Man” Alexander e Rip Lee Pryor, para citar dois exemplos recentes). Marcado pela guitarra, linhas de baixo e harmônica, o estilo nascido das raízes negras nos Estados Unidos faz sucesso e tem adeptos fiéis na terra de sotaque germânico. A cidade virou até tema de blues na guitarra de Léo Maier, um dos representantes do gênero que homenageou a terra natal em Blumenau Boogie, canção do seu disco mais recente.

Onde ouvir

Butiquin Wollstein

 

Factory Beira Rio

 

Baader Kaffee Bar

 

Polpetta (Calçadão Brueckheimer)

 

Cafundó Bar Cultural

 

Léo Maier

 

                           Lugar:

                            Nova Rússia

 

O recanto verde no Sul de Blumenau é onde o guitarrista vai para clarear os pensamentos e manter contato com a paz da natureza, seja em passeios de bicicleta ou trilhas. Maier lembra das vezes em que dormiu na antiga casa que recebia visitantes no Parque das Nascentes e de quando levou o violão para lá, sempre acompanhado do blues. “Não lembro se cheguei a compor algo lá, mas é um lugar que até hoje me traz inspiração e faz parte da minha história”, diz.

A Igreja Luterana do Centro emociona Vitor

A tradição dos recitais

B

ach, Beethoven, Schubert, Schumann e Chopin são nomes fundamentais da música clássica que até hoje fascinam com suas composições. Há quem se destaque na hora de reler essas obras, ao estudar a fundo partituras e reverenciar as grandes composições. Em Blumenau, alunos de escolas de música como a do Teatro Carlos Gomes levam a tradição dos recitais ao público e é fácil destacar o jovem Vitor Zendron como um expoente da música clássica na cidade. Aos 20 anos, ele está há mais de um ano estudando música na Alemanha e vez ou outra volta a Blumenau, onde se apresenta sozinho ao piano. É um exemplo da renovação em um estilo infelizmente pouco popular, mas que sempre surpreende e emociona ao ser tocado.

 

Onde ouvir

Teatro Carlos Gomes

Recitais em igrejas pela cidade

Vitor Zendron

 

                          Lugar:

                          Igreja Luterana

                          do Centro

 

“É um lugar que me traz boas lembranças, me remete à música de Bach e é tem uma conexão com Deus”, explica o pianista Vitor Zendron sobre a igreja em Blumenau. Com sua bela decoração, o espaço é palco de recitais na cidade e elogiado pela sua acústica adequada para a música clássica. Prodígio do piano blumenauense, Vitor já se apresentou lá algumas vezes e guarda boas recordações da igreja.

Com três décadas de estrada, a história da Vlad V começou no palquinho do colégio Pedro II

Cidade das guitarras

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alvez seja um pouco da herança germânica, já que é grande a lista de bandas de hard rock e heavy metal na Alemanha, mas Blumenau já foi terra de várias bandas que apostam no som mais pesado das guitarras. Há uma cena underground na cidade que se estende pelo Vale do Itajaí e reúne bons sons, inclusive de bandas relativamente novas – como a Viletale. Com um pé no rock progressivo, a Vlad V é provavelmente a maior representante do gênero por aqui. Na estrada desde 1986, quando estreou no palco do festival Blumenália, o grupo tem uma base forte de fãs que acompanham a trajetória de três décadas e segue se renovando com frequência – inclusive com o disco Stratovladis recém saído do forno. Vocalista e compositor da Vlad V, Jean Carlo diz que gosta de se inspirar nas paisagens da região na hora de compor.

Onde ouvir

Don Pub

 

Ahoy! Blumenau

 

Mansão Wayne

Vlad V

 

                          Lugar:

                          Colégio Pedro II

 

É ao lado do antigo palquinho do teatro do colégio Pedro II, no Centro de Blumenau, que os membros da Vlad V lembram o início da banda. Foi lá que Jean, fundador do grupo, estudou o ensino médio e foi apresentado a algumas bandas que o influenciaram a seguir carreira no rock. Pelas ruas nos arredores da escola, os amigos matavam aula para ouvir e tocar Led Zeppelin. Foi naquele palco, também, que a banda fez o seu segundo show – em 1986.

Artistas da MPB, como Mareike, têm relação íntima com os palcos do Carlos Gomes

Música no palco

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iretamente ligada ao Teatro Carlos Gomes, a música popular brasileira em Blumenau conta com representantes que encantam a plateia daqui e levam o nome da cidade para outros Estados. É só conferir as premiações na conta do blumenauense John Mueller, por exemplo, ou o número de CDs lançados nos últimos anos por músicos da cidade. Intérpretes como Mareike, instrumentistas como Mazin Silva e Caio Fernando, letristas como Gregory Haertel... Os sons de Blumenau têm a qualidade de muita gente que pensa na música de forma elegante e sutil, com a leveza das canções sobre o dia a dia ou amores passageiros. Tem até produção pensando no mundo infantil, como o projeto Quando Eu For Grande, da dupla Mayla Valentin e Jackson Carlos, e não é difícil encontrar alguma apresentação no teatro ou um show mais intimista em algum espaço pela cidade.

Onde ouvir

Teatro Carlos Gomes

 

Cafundó Bar Cultural

 

Botequim Wollstein

 

Mareike

 

                          Lugar:
                           Teatro Carlos Gomes

 

Palco da maioria dos shows de música popular em Blumenau, o Teatro Carlos Gomes é mais que uma casa de shows para artistas como Mareike. É onde ela se apresenta, lança seus discos e inclusive se imagina quando está preparando os shows. “Já cantei no pequeno teatro e no principal e usei eles em vários formatos diferentes. Gosto de pensar em como cada canção vai soar lá. Quando estou no estúdio me imagino cantando no Carlos Gomes”, diz a cantora.

Na casa da Oktoberfest, a Vox 3 se destaca há mais de 20 anos com suas paródias bem-humoradas

Humor na Oktoberfest

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k, tem vezes que o clichê é realmente justo. Não dá para separar a música em Blumenau do som que toma as ruas da cidade em outubro. E eles chegam com seus vestidos, Lederhosen e as letras que misturam português e alemão em canções feitas para dançar (ou desfilar) pelas ruas ou pavilhões do Parque Vila Germânica. As bandas germânicas da Oktoberfest são uma força inexorável dos sons da cidade, presentes no folclore e nas tradições daqui.

A presença do ritmo em Blumenau é tão grande que tem até gênero musical criado na cidade. O chucrute music é um termo cunhado pelos blumenauenses da banda Vox 3, que surgiu em 1996 e representa esse estilo que mistura música alemã com paródias. Com algumas formações desde então, o grupo é dono de sucessos como Trinca mais não trepa, Sexy Frida  e Tobata Rebaixada. A promessa para a Oktober de 2017 é Dez Choppito, versão do hit Despacito.

São músicas que têm o humor e a sátira na raiz, feitas para dançar e que já levam no seu estilo todo o clima da festa de outubro. O melhor exemplo? A clássica Dança da Marreca da Banda Cavalinho. A Cavalinho, aliás, é outra guardiã da música de Oktoberfest em Blumenau há décadas, que mesmo com trocas de formação segue como uma das principais atrações da festa ano após ano. E bandas novas também surgem a cada edição, como a Fridas – formada só por mulheres – ou a Herr Schmitt, além de outras tradicionais como a Banda do Barril e a Banda do Caneco.

Impossível, também, falar da música alemã em Blumenau sem citar Os Velhos Camaradas, coral que leva para os shows na Oktoberfest um clima de bar alemão com muito chope, música e bom humor. Blumenau não é só isso, mas é também a cidade da Oktober e das músicas alemãs. Está na nossa cultura e ocupa muitas linhas dessa partitura.

 

Onde ouvir

Oktoberfest

 

Sommerfest

 

Demais festas germânicas pela cidade

 

Bar Estação Eisenbahn (todas as quintas-feiras)

 

 

Vox 3

 

                          Lugar:

                           Parque Vila Germânica

 

Seja dos tempos de Famosc, Proeb ou Parque Vila Germânica: o espaço no bairro da Velha é a razão de ser de boa parte das bandas alemãs da cidade. Muitas inclusive surgiram na festa e se destacam como as grandes animadoras da maior festa germânica do continente. “Tudo surgiu lá naqueles pavilhões, é um motivo de inspiração para a gente, um lugar que faz parte da nossa história”, explica o líder da Vox 3, Rogério Joel França.

 

Bona cresceu no Boa Vista e foi no bairro que ele fez suas primeiras rimas

Presença urbana

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 rap e o hip-hop são, talvez, as expressões mais contemporâneas da música e surgiram bem longe das pistas das casas que bombam toda semana em Blumenau ao som de Drake e Kanye West. Movimento puro da música negra e da cultura urbana, da rua, o rap nasce nas comunidades, nos bairros, nas praças e nas pistas de skate. E são nesses espaços que você encontra facilmente os adeptos do estilo na cidade, do grupo de amigos fazendo um freestyle despretensioso às batalhas organizadas na Prainha. Influenciado por Marcelo Rocha (M. Rocha), pioneiro do estilo em Blumenau, o rapper Bona é um dos destaques na cena da cidade – desde os tempos da dupla Dálmatas, ao lado da esposa D’Lara. Com um disco lançado este ano e o movimento Sul Vive,  ele luta para estimular e dar visibilidade ao rap feito pela região.

Onde ouvir

Don Pub

 

Batalha da Prainha

 

Greenplace Park

 

Em eventos nas praças de bairros

 

Bona

 

                          Lugar:

                           Bairro Boa Vista

 

É na região onde foi criado que o rapper Bona mais relaciona a sua música com Blumenau. “É onde tudo começou para mim”, conta,  falando das rodas de rap na praça principal do bairro que virou inspiração para a sua arte. Embora não more mais lá, é no Boa Vista que ele visita os pais e amigos de infância e relembra o começo de carreira na música.

A Malungo se inspira na arte de rua local para criar um som que mistura riffs de guitarra e batidas bem brasileiras

Dançando em Blumenau

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á quem duvide, mas Blumenau teve seus dias de glória no rock e nas guitarras rápidas. Festivais como o Blumenália nos anos 1980 ou o Skol Rock nos anos 1990 estão aí para não deixar ninguém mentir que muita gente já se reuniu para shows de rock por aqui. E a terra rendeu bons frutos, é só perguntar para qualquer um que viu os blumenauenses da banda Madeixas tocando na MTV Brasil em 1999 – naquela época em que o canal era o auge musical do país. E o que falar da juventude idiota levantando as lajotas nas pistas do George Som ou no Rivas que foi imortalizada na música Dançando em Blumenau da banda Stuart (depois regravada pelo gaúcho Wander Wildner). Bandas que hoje estão na memória, mas marcaram um pedaço da cena roqueira local. Hoje, o rock blumenauense busca outros caminhos para se manter renovado. É o caso da Malungo e sua mistura de ritmos brasileiros.  O grupo conseguiu destaque nos últimos anos e representa uma das vertentes do som por aqui  com a sua batida urbana e descontraída.

Onde ouvir

Ahoy! Blumenau

 

Das Antiga Bar

 

Don Pub

 

Winchester Pub

 

Feirinha da Servidão Wollstein

 

Banda Malungo

 

                         Lugar: Mural de grafitti na

                         Avenida Martin Luther.

 

 

“A nossa música tem uma relação muito forte com a cidade, com a questão urbana. Todo o fluxo de Blumenau aparece na nossa musicalidade”, conta o baterista da Malungo, Natan Hostins, ao explicar a relação da banda com a arte de rua blumenauense. Na foto, eles posam ao lado de uma arte do saudoso Clóvis Truppel, o Risco, um dos principais artistas blumenauenses, que morreu em 2014.

A Confraria do Samba representa o ritmo dos pandeiros, cavaquinhos e tambores

Boemia e ziriguidum

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omeçou em uma mesa de bar perto da Praça do Estudante em Blumenau, entre um papo bom e umas cervejinhas. Alguém puxou um samba e pronto! Virou tradição e o ritmo foi crescendo, a amizade aumentando e a mesa de bar se tornando uma banda. A boemia, aquela que nos tem de regresso, é a que une e incentiva o samba brasileiro – o que não poderia ser diferente por aqui. Tem ziriguidum também em terras blumenauenses e uma das bandas mais famosas do gênero tipicamente verde-amarelo é a Confraria do Samba, há anos animando rodas de samba na cidade. Outro grupo conhecido na região é a Família Oliveira, com sua trupe de oito integrantes apaixonada pelo ritmo. Além de alguns botecos na cidade especializados no clima bem brasileiro, com samba e pagode, o estilo faz bonito em eventos como o Festival de Botecos ou em associações. Alguém aí aceita um caldinho de feijão para acompanhar?

Onde ouvir

Boteco São Jorge

 

Butiquin Wollstein

 

Festival de Botecos

Confraria do Samba

 

                          Lugar:

                          Boteco São Jorge

 

O clima da casa combina com o samba e vice-versa. E foi na mesa de bar que a Confraria do Samba surgiu e é ali que eles continuam fazendo seu som e animando rodas de samba em Blumenau. No Boteco São Jorge, no bairro da Velha em Blumenau, eles se sentem em casa para unir boa comida, bebida e música.

Téo Abreu começou cantando com o irmão e é presença constante nas festas do gênero em Blumenau

Balada sertaneja

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onvenhamos que a música sertaneja de raiz, aquela bem caipira, não costuma figurar muito nos palcos de Blumenau, mas a vertente que começamos a chamar de universitário uns anos atrás deu certo – e muito – na terra da Oktoberfest. Casas de show especializadas, duplas pipocando na cidade, shows nacionais o ano todo, espaço nas rádios e um público fanático. Blumenau tem uma quedinha pelo sertanejo de balada que virou tão popular no Brasil. A dupla Téo & Edu é provavelmente a principal expoente da safra na cidade, com uma carreira que durou anos e deixou seis discos lançados até o término, no ano passado. Metade do duo, no entanto, seguiu no mundo da música. Agora como Téo Abreu, o blumenauense tem a agenda lotada de shows cantando os hits da extinta dupla com o irmão e também lançando novas composições, levando o sertanejo de Blumenau pelas estradas desse Brasilzão.

Onde ouvir

Riska Western Saloon

 

Obs Bar

 

The Boiler Pub

 

Rivage

 

Téo Abreu

 

                          Lugar:

                          Parque Ramiro Ruediger

 

“O Ramiro me inspira pela diversidade das pessoas. Andar lá e ver as pessoas praticando esportes, se divertindo, tocando violão, fazendo música. É um lugar que eu gosto muito”, explica Téo. É no gramado do parque que o rapaz que cresceu no bairro da Velha sente a conexão com a vida em Blumenau. Quando quer relaxar e ficar em silêncio, ele diz que se inspira em recantos espalhados pela área rural da cidade, onde encontra a tranquilidade ao lado do violão.

Edição
Larissa Guerra

Reportagem

Lucas Paraizo

Imagens

Lucas Correia e Patrick Rodrigues

Design e desenvolvimento

Arivaldo Hermes