JORNADA EM
DUAS RODAS
PEDALADAS
Mais do que lazer, a bicicleta pode ser o veículo ideal para desbravar cada canto de Santa Catarina neste verão. Conheça as recomendações de ciclistas e viajantes experientes para planejar seu roteiro
TEXTOS | SIMONE FELDMANN
O Brasil tem 70 milhões de bicicletas em uso, segundo dados da Associação Nacional dos Transportes Públicos, mais do que a quantidade de outros veículos registrados no país – cerca de 50 milhões. Mas não se veem tantas magrelas sendo utilizadas com a finalidade de viajar e explorar o país. A proposta pode parecer um grande desafio, mas só são necessários preparação física e alguns cuidados.
O casal Karina Ferreira, de Joaçaba, e Ismael Godoy, de Curitibanos, prova o quanto é fácil pegar a estrada – eles já pedalaram até Montevidéu, no Uruguai, e ainda levaram Estopa, a cadelinha de estimação, para curtir a viagem com eles.
Como já tinham o hábito de pedalar por Florianópolis, onde moram, para realizar as atividades do dia a dia, a ideia surgiu como uma forma de aproveitar as férias de um jeito econômico. O resultado foi positivo:
– Vimos muitas paisagens lindas desde o início da viagem, além das boas pessoas que encontramos pelo caminho. As que quiseram nos ajudar, as que gritavam e acenavam quando passávamos ou simplesmente sorriam. Isso é impagável e lindo. Engrandeceu nossa experiência de uma maneira indescritível – recorda Karina.
As bicicletas foram as mesmas já usadas na cidade, com algumas adaptações, a prova de que não é preciso um grande equipamento para dar o primeiro passo. Outros utensílios usados na viagem foram comprados aos poucos, como a barraca de montanhismo e o fogareiro multicombustível, importantes para trechos em que não há estrutura disponível na beira da estrada para hospedagem ou alimentação.
A viagem foi toda registrada e os vídeos foram publicados no Youtube, no canal O bonito do caminho, no qual o casal relata os melhores e piores momentos do percurso, além de dar dicas para quem também deseja se aventurar.
CIRCUITOS DE CICLOTURISMO
Quem prefere mais segurança na hora de viajar sobre duas rodas pode optar por um roteiro de cicloturismo. Algumas rotas são autoguiadas e outras podem ser feitas com agências de turismo. Santa Catarina foi o primeiro Estado a ter uma rota estabelecida. O Circuito do Vale Europeu, no Médio Vale do Itajaí, criado há 10 anos, passa por nove municípios e proporciona paisagens rurais, contemplação da natureza e banhos de cachoeira.
Pelo site oficial (tinyurl.com/valeeuropeu) é possível conferir os roteiros para cada dia de passeio, com um resumo do que esperar dos lugares escolhidos, além de recomendações de restaurantes imperdíveis e hotéis. O circuito tem 300 quilômetros que devem ser percorridos em sete dias.
COSTA VERDE E MAR
Primeiro circuito de cicloturismo no litoral do país
Cidades: Bombinhas, Porto Belo, Itapema, Balneário Camboriú, Camboriú, Ilhota, Luiz Alves, Penha, Balneário Piçarras, Navegantes e Itajaí
Atrativos: praias, cachoeira, voo livre, mergulho e gastronomia
Percurso: 270km em 6 dias
Dificuldade: intermediária
Informações: tinyurl.com/costaverdeemar
ROTA DAS BALEIAS
Cidades: Garopaba, Imbituba, Palhoça e Florianópolis
Atrativos: praias, observação de baleias, museus e gastronomia
Percurso: 177km em 5 dias
Dificuldade: intermediária
Informações: tinyurl.com/
rotabaleias
VALE EUROPEU
Principal destino dos cicloturistas no Brasil e o primeiro no país planejado para ser percorrido de bicicleta
Cidades: Pomerode, Indaial, Rodeio, Dr. Pedrinho, Rio dos Cedros e Timbó
Atrativos: cachoeiras, arquitetura colonial, rafting e passeios na mata
Percurso: 300km para 7 dias
Dificuldade: intermediária
Informações: tinyurl.com/
valeeuropeu
SERRA-MAR
Das montanhas ao litoral
Cidades: Urubici, Santa Rosa de Lima, São Bonifácio, Santo Amaro da Imperatriz e Florianópolis
Atrativos: cachoeiras, montanhas, hospedagem rural e águas termais
Percurso: 297km em 7 dias
Dificuldade: intermediária
Informações: tinyurl.com/serramar
CIRCUITO DO PIRAÍ
Passeio curto recomendado a iniciantes
Cidade: Joinville
Atrativos: produtos coloniais, campos de arroz, arquitetura germânica, plantas ornamentais e montanhismo
Percurso: 39km em 1 dia
Dificuldade: fácil
Informações: tinyurl.com/pirai
CIRCUITO DAS ARAUCÁRIAS
Serras, planaltos e vales, com Mata Atlântica e araucárias
Cidades: São Bento do Sul, Corupá, Rio Negrinho e Campo Alegre
Atrativos: cachoeiras, rapel, maria-fumaça, museus, gastronomia italiana, polonesa e alemã
Percurso: 250km em 6 dias
Dificuldade: difícil
Informações: tinyurl.com/
rotaaraucaria
CAMINHOS DO ALTO VALE
Cidades pacatas e pouco trânsito, com predomínio de áreas rurais
Cidades: Taió, Mirim Doce, Santa Terezinha, Rio do Campo e Salete
Atrativos: turismo religioso, cachoeiras, museus e gastronomia italiana, ucraniana e alemã
Percurso: 180km para
fazer em 5 dias
Dificuldade: fácil
Informações: tinyurl.com/altovale
QUASE UM PATINETE
QUASE UM PATINETE
No início do século 19,
o embrião da bicicleta
era de madeira e não
tinha pedais – o usuário
praticamente caminhava
com ela, sem controle
da direção. Mais tarde,
descobriu-se que os pedais ajudariam a tracionar, mas o ciclista ia sentado sobre a roda da frente – maior do que a traseira –, o que causava acidentes ao acionar o freio. O modelo de duas rodas com pedais no centro foi disseminado só no fim do século 19
AVENTUREIRO EQUIPADO
Veja o que é essencial para pedalar com conforto e segurança
14
1
4
6
2
3
7
8
9
10
11
12
13
5
1
O QUE OS OLHOS NÃO VEEM
Óculos devem ser fechados ou bem ajustados ao rosto para proteger de pedras, poeira e insetos. As lentes devem ter proteção ultravioleta: as escuras são ideais para dias de sol; as amarelas, para dias nublados ou à noite; e as fotocromáticas se ajustam à quantidade de luz do ambiente
2
BEBEU ÁGUA?
Hidratação é fundamental durante uma viagem de bike. Leve pelo menos dois litros de água e reabasteça sempre que possível. Tente beber pelo menos 200ml de água a cada uma hora
3
NA HORA DA BOIA É JOIA
Frutas secas, castanhas, barras de cereal e lanches leves para comer durante a pedalada. Em viagens longas, leve um fogareiro e uma panela pequena. Aposte em cereais, como arroz, e comidas enlatadas
4
NÃO OLHE PARA TRÁS
O retrovisor é obrigatório para bicicletas. Assim como em veículos, o espelho proporciona mais segurança e evita que o ciclista olhe para trás com frequência
5
QUERO UMA REDE PREGUIÇOSA
Adapte a bicicleta com um reforço no guidão para poder apoiar o corpo quando estiver mais cansado
6
É PRA LÁ QUE EU VOU
Planeje o roteiro com pontos de parada e lugares de apoio sinalizados. Escolha um aplicativo que permita acessar a rota off-line – adaptadores de celular ao guidão custam menos de R$ 50
7
LUZ NA PASSARELA, QUE LÁ VEM ELA
Os faroletes podem ser fixados abaixo do guidão. O facho de luz deve ser regulado de forma que não aponte para os olhos dos motoristas
8
OLHA EU AQUI
Os refletores devem ser fixados o mais baixo possível, para que reflitam a luz dos faróis de carros e motos. Precisam ser posicionados nas duas rodas, nos pedais, na parte de trás da bicicleta, embaixo do banco e no garfo da bicicleta, próximo ao eixo da roda
9
PISANTE MANEIRO
Opte por um tênis ou calçado que não escorregue. Dê preferência a solados rígidos, que não dobram facilmente. Isso proporciona uma pedalada melhor e diminui o risco de lesão nas articulações do tornozelo. E lembre-se de amaciar bem o calçado antes de partir para evitar bolhas
10
ESTIQUE A PANTURRILHA
E músculos das costas, braços e pescoço também. Para evitar lesões e cãibras, é recomendado caprichar nos alongamentos antes – para ativar a irrigação sanguínea – e depois da pedalada – para relaxar e evitar lesões
11
LEVE A VIDA LEVE
Os alforjes se adaptam à bicicleta para levar o essencial: roupa, água, comida ou ferramentas. Escolha um impermeável e com tamanho adequado à viagem. Distribua o peso entre a frente e a traseira para garantir estabilidade.
12
RETAGUARDA PORRETA
Invista em uma garupa mais forte para poder carregar os alforjes
13
COM QUE ROUPA EU VOU
Escolha peças claras e chamativas. Uma dica para evitar queimaduras nos braços é usar roupas brancas de manga comprida
14
MENTE ILUMINADA
No capacete, instale faróis frontal – para ajudar a iluminar o caminho – e traseiro, para sinalizar a quem vem de trás
PNEUS IDEAIS
ASFALTO
O ideal são pneus mais finos e lisos, que deslizam melhor no asfalto e oferecem menos resistência ao solo. Ranhuras m “V” melhoram a curva em estradas com água
TRILHAS LEVES
Pneus largos e com cravos resistentes são ideais para trilhas suaves. O pneu com piso invertido (ranhuras em vez de cravos) são indicados para estradas com buracos
TRILHAS PESADAS
Pneus podem ter cravos maiores ou menores, que são indicados para tipos diferentes de solo. Cravos mais altos dão maior aderência em terrenos irregulares e com pedras. Cravos largos ou altos e espaçados são recomendados para algumas modalidades de mountain bike
RESERVE ESPAÇO NA MOCHILA
HIGIENE
Sabonete, xampu, condicionador e creme hidratante, pente, escova, cortador de unha, escova e pasta de dente, fio dental, papel higiênico, toalha, filtro solar e protetor labial
CALÇADOS
Sapatilha ou tênis para pedalar, tênis ou bota extra e chinelo
ROUPAS
Leve duas bermudas do tipo ciclista, três pares de meia de pedalar, uma calça de tactel, jaqueta corta-vento, boné ou chapéu, três camisas de manga curta e uma de manga longa
FERRAMENTAS
Jogo de chaves allen, kit de reparo de câmara, bomba de ar, câmara reserva, chave de fenda, alicate de bico, chave de corrente, chave de raios, chave de boca regulável, canivete, lubrificante, raios extras, pastilhas de freio, gancheira do quadro, pano e escova de limpeza
PRIMEIROS SOCORROS
Fita-crepe, esparadrapo, micropore,
gaze, algodão, band-aid, água oxigenada, agulha, pinça, termômetro, analgésico, anti-histamínico, sal de frutas, pastilha para garganta, colírio, soro de reidratação em pó e isqueiro
EQUIPAMENTO
Máquina fotográfica, farol e pisca, celular, cabos e carregadores
CABEM NUM ESPACINHO
Capa de chuva, sacos plásticos,
recipientes para água, tranca, extensor, canivete, mapas e caderneta de anotações
SEM OS PÉS NO CHÃO
O ajuste do banco dependerá da sua altura, que deve regular o equipamento para evitar dores nas costas. O selim deve estar ajustado de forma que a perna fique quase reta na pedalada. Ao parar, é possível que você não toque o chão e tenha de descer, mas evitará sobrecarga nos joelhos
PARA OS HOMENS
É importante que tenha o corte no meio, para evitar
que machuque a região do períneo
PARA AS MULHERES
O selim deve ser mais curto, mas com a região traseira maior
PARA OS REFORÇADOS
Indicado para quem está acima do peso, este modelo não causa desconforto
VEJA CINCO DICAS PARA FAZER A SUA VIAGEM DE BIKE
APLICATIVOS
Ficar sem internet na estrada é
comum em lugares remotos.
O recomendável é salvar o
percurso no celular para acessar
off-line. Confira três aplicativos
que podem ser usados para elaborar o roteiro:
Strava: rede social para ciclistas que serve como GPS e possibilita compartilhar as viagens realizadas com os amigos:
Android: leiadc.sc/Strava1
IOS: leiadc.sc/Strava2
Bikemap: ajuda a encontrar rotas cadastradas por outros usuários e permite inserir os próprios trechos
Android: leiadc.sc/Bikemap1
IOS: leiadc.sc/Bikemap2
GPSies: Aplicativo que funciona como GPS, é possível gravar rotas para acessar off-line
Android: leiadc.sc/GPSies1
IOS: leiadc.sc/GPSies2
PARA LER
O projeto Até Onde Deu Para Ir de
Bicicleta (bit.ly/ateondedeu) é
um espaço para troca de
informações sobre ciclismo e
oferece três e-books gratuitos
sobre o assunto:
Guia para viajar de bicicleta – Vol. 1
Aprenda a adaptar ou montar a bicicleta, como escolher um roteiro ideal e o que levar na viagem
Guia para viajar de bicicleta – Vol. 2
Saiba como treinar para uma viagem de bicicleta, como lidar com imprevisto e outras dicas
Guia de hospedagem
para cicloturistas
O guia foi desenvolvido de forma colaborativa por ciclistas de todo o Brasil. São listadas hospedagens amigas do ciclista
PASSE AS FOTOS
VALE EUROPEU
COSTA VERDE E MAR
CAMINHOS DO ALTO VALE
CIRCUITO DAS ARAUCÁRIAS
CIRCUITO DO PIRAÍ
SERRA MAR
ROTA DAS BALEIAS
TOPO