NOITES DE VERÃO

AO RELENTO

CAMPING

Santa Catarina reúne bons espaços para acampar e a prática é acessível para quem deseja se aventurar pela primeira vez, mas é importante ficar atento às recomendações de segurança na mata

TEXTOS | SIMONE FELDMANN

Fugir da rotina e entrar em contato consigo mesma. Isso é o que motiva a publicitária Luisa Cerejo a acampar sempre que possível. Escoteira desde os oito anos, ela se define como uma amante de trilhas e da natureza. É com satisfação que Luisa compartilha detalhes sobre a arrumação da mochila e a forma correta de montar e organizar a barraca, mas reserva para si os lugares favoritos para acampar:

– Sabe quando você gosta tanto dos locais que vai, que espera que eles não sejam tão conhecidos? – justifica.

Antes de encarar uma aventura, é essencial avisar parentes ou amigos sobre o local que vai ser visitado e o horário previsto para retorno, alerta o tenente Bruno Lisboa, do Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros. Também é importante manter um telefone celular com bateria para entrar em contato em caso de emergências. Outro fator fundamental é calcular a quantidade de água e comida para o tempo previsto de acampamento.

Habituado a realizar acampamentos em locais com e sem estrutura, Andry Eiryton Miranda Coelho, de Jaraguá do Sul, registra seus passeios e dá dicas em seu blog Acampamentos Amigos do Sul. Ele afirma que não existe barraca perfeita que atenda a todos os estilos de passeio, antes de comprar o equipamento é necessário pensar em alguns pontos, como com que frequência ela será utilizada e o investimento previsto.

Entre as características mais importantes está a quantidade de chuva que a barraca suporta. O ideal é que seja superior a 1.5 mil milímetros. Caso seja inferior, a recomendação é cobrir a barraca com uma lona, lembrando de deixar um espaço de pelo menos um palmo entre o teto e a cobertura. Também é importante conferir a ventilação do espaço e verificar se os zíperes têm proteção contra infiltrações.

Para quem está começando a se aventurar em acampamentos, Andry recomenda optar por uma barraca iglu, na qual seja possível ficar em pé dentro e que conte com uma varanda coberta, com espaço para deixar objetos como calçados e a mochila. Ele ressalta que a opção tem o melhor custo/benefício e é razoavelmente leve e fácil de montar.

– Acampar não é ruim, mas se você não tem o mínimo de estrutura pode ser desastroso e se traumatizar para toda vida. Muitas pessoas desistem por experiências ruins na primeira tentativa – ressalta Andry.

SEM RECEIO DE DORMIR FORA DE CASA

Se você está preocupado porque nunca acampou, mas tem vontade de fugir para um lugar onde ninguém perturbe o seu descanso,
a natureza é o destino ideal. Mesmo para iniciantes, pode ser uma terapia, se tudo
sair como planejado.

Saiba o que é necessário, os materiais indispensáveis, as técnicas obrigatórias e
os cuidados que você precisa tomar para
viver em harmonia com a mãe terra

BARRACA IGLU

Há vários modelos, mas geralmente são de náilon com as armações de fibra
de vidro. Bastante leve e prática, perde apenas em durabilidade. É uma
boa opção para quem
está começando
a acampar

Lona plástica

ajuda a conter a umidade do solo e deve ser do mesmo tamanho da barraca para não acumular água nas laterais

FOGUEIRA

Logo depois de montar a barraca, é necessário reunir os materiais para a fogueira. A recomendação é colocar os itens em um local seco, de preferência em cima de uma lona. Evite acidentes ao observar a distância mínima de segurança entre a fogueira e seus objetos

Combustíveis

Folhas, gravetos
e papel

Galhos

Toras

CLIQUE NOS BOTÕES E ACENDA A FOGUEIRA

Combustão

Acenda os itens que queimam mais rápido, como papéis e folhas. Vá acrescentando à pequena chama gravetos e galhos. Quando ela estiver estabilizada, coloque as toras

Lembre-se:

Ao deixar o local do acampamento, verifique se a fogueira está apagada. Jogue água ou terra sobre ela e pise bem para apagar as fagulhas

Abertura mais larga voltada para o vento

FOGO DE CAÇADOR

Bom para o verão, ótimo para cozinhar

Abertura estreita para apoiar a panela

Toras verdes

50 cm x 15 cm

FOGO REFLETOR

Ideal para o inverno, pois evita que o calor se disperse

Toras verdes (recém-cortadas) direcionam o aquecimento

NA HORA DA BOIA

Leve uma panela pequena
e aposte em alimentos
práticos, como enlatados,
frutas secas, salame,
pão sírio, barras de cereal, arroz e macarrão. Não
esqueça de porções de
sal e outros temperos
de sua preferência

MOCHILA

Distribua o conteúdo de forma equilibrada. Conforto é tudo!

É desnecessário ter muitos compartimentos internos

Mas os encaixes e bolsos externos são úteis

NÃO DEIXE NADA PARA TRÁS

Saiba como organizar a mochila para garantir espaço a todos os utensílios indispensáveis

CLIQUE NOS BOTÕES

água

hastes da barraca

CALÇADOS

Na hora de escolher, leve em conta o peso, a impermeabilidade e a transpiração

Botas

Indicadas para terrenos irregulares e previne  torções

Tênis

Ideal para caminhadas em terrenos planos, é leve e confortável

POR DENTRO

Nada melhor do que saber o local exato de cada coisa, ainda mais se você estiver em um local escuro no meio da mata.

Mantenha calçados e itens de higiene perto da porta e a lanterna sempre à mão.

Leve sacolas para colocar roupas sujas e recolher o lixo

BARRACA CANADENSE

De formato triangular, tem geralmente armação de aço. Bastante durável, porém, mais pesada. Ideal para acampamentos onde não se tenha que caminhar muito e por diversos dias

alimentos
e utensílios
de cozinha

manta térmica

roupas e toalhas

mochila

calçados

água para limpar

colchonete ou saco
de dormir

lanterna à mão

Cuidado com animais venenosos na mata

A natureza também pode assustar quem está acostumado ao estilo de vida urbano. Um cuidado essencial é com animais peçonhentos. Em geral, os anfíbios, como os sapos, não apresentam grande perigo, mas é importante evitar o contato, pois todos têm glândulas de muco e veneno. Em caso de contato com boca, olhos e mucosas, há risco de irritação, explica o biólogo Vitor de Carvalho Rocha.

Quanto às serpentes, a forma mais fácil de identificar as peçonhentas é observando a presença de dois orifícios conhecidos como fosseta loreal – olhando de frente, o animal aparenta ter quatro narinas. A coral verdadeira, que também é presente em Santa Catarina, não tem essa característica, mas é fácil de ser identificada por conta da coloração: são anéis vermelhos, pretos e brancos ou amarelos.

Anderson Rosa, do Laboratório de Ecologia de Anfíbios e Répteis da UFSC, alerta que ao encontrar uma serpente o ideal é deixar que ela siga o caminho dela, pois dificilmente atacará sem que seja encurralada. Geralmente, em épocas mais quentes há maior avistamento de cobras. Ao acampar, evite mexer em troncos caídos e em buracos.

Se alguém for picado, ligue imediatamente para os bombeiros (193), não faça torniquete, mantenha a pessoa calma – quanto maior a frequência cardíaca, mais rápido o veneno se espalha pelo corpo –, lave a ferida com água e aguarde o resgate. Tenha em conta também que apenas hospitais de referência têm soro, como o Hospital Universitário da UFSC.

VENENOSA?

As aranhas mais venenosas de SC têm teias irregulares
parecido com algodão

No Estado, duas são as mais perigosas:
a marrom e a armadeira. Elas não fazem teias geométricas, mas podem estar em troncos de árvores e buracos

Caso seja picado, beba muita água e acione os bombeiros

Isso queima!

É necessário tomar cuidado com lagartas em troncos de árvores. Uma espécie presente em Santa Catarina pode causar alterações na coagulação e hemorragias graves. Elas são marrons com faixas em caramelo contornadas de preto
e com manchas
brancas. Além disso,
elas têm cerdas esverdeadas que lembram um pinheirinho

COBRAS

As serpentes com a
presença de fosseta loreal (orifício entre os olhos e as narinas) são peçonhentas. Em épocas mais quentes, elas são avistadas com maior frequência. Ao acampar, o ideal é não mexer em troncos caídos ou buracos

Fosseta loreal

Mas a cobra-coral verdadeira é uma exceção: ela não tem a fosseta, mas também é venenosa

Coral verdadeira

Quando os anéis têm as mesmas cores, mas não se fecham na barriga do animal, trata-se de uma cobra coral falsa

Coral falsa

COMUNICAÇÃO

Mantenha um celular com bateria e informe os familiares sobre o local que será visitado

BARRACA BIVAK

Cabe uma pessoa com a bagagem pessoal e tem formato aerodinâmico, que ajuda em locais com vento forte. É fácil de montar e embalar. Ideal para viagens de moto, bike ou para caminhantes solitários

Valeta em
forma de U ao redor da
barraca ajuda a escoar a água

NA CHUVA

Estique a lona para ter mais espaço seco ao redor da barraca

Fixar as pontas da lona no chão usando espeques

Verifique se os zíperes têm proteção contra infiltração de água

NA HORA DO APERTO

Quando você receber o
chamado da natureza, faça
as necessidades longe do
acampamento e de cursos d’água. Cave uma cova com cerca de 50 cm de profundidade. Cada vez que usar, cubra com uma camada de terra. Na hora de ir embora, lembre de tapar todo o buraco

CABEÇAS D’ÁGUA

Se estiver caminhando nos rios, fique atento às chuvas sobre os morros a distância. A água acumulada poderá escoar com maior força e arrastar o que estiver à frente, de repente. O fenômeno é precedido por um zumbido, o som das águas chegando. Saia do rio e fique em pontos mais altos

ESCORREGADIO!!!

Sempre preste atenção nas pedras dos rios
e cachoeiras, o
limo pode causar acidentes e morte

POR ONDE ANDAR

Busque trilhas bem definidas, com sinalização e fluxo de pessoas. Não explore regiões desconhecidas sem um guia

ONDE ACAMPAR

clique no mapa e veja onde ficam os campings de Santa Catarina

TOPO

Fontes: Andry Eiryton Miranda Coelho, campista e autor do Blog Acampamentos Amigos do Sul; Ana Paula da Rocha, do Centro de Informações Toxicológicas do Hospital Universitário da UFSC; Marlene Zannin, bióloga responsável pelo Centro de Informações Toxicológicas do HU da UFSC; Luísa Cerejo, publicitária e campista; Tenente Bruno Lisboa, do Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros; Vitor de Carvalho Rocha, biólogo do Laboratório de Herpetologia da UFSC; Anderson Rosa, do Laboratório de Ecologia de Anfíbios e Répteis da UFSC