PENA LIVRE

Detentos da Penitenciária Industrial de Joinville lançam livro por editora nacional com contos produzidos em Oficina de Escrita Literária

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uas armas são de papel e não servem para cortar cabeças, e sim enchê-las de sonhos, reflexões e devaneios. Em tempos de convulsão no sistema carcerário brasileiro, detentos da Penitenciária Industrial de Joinville desmentem as generalizações. Três mulheres e 14 homens entre os cerca de 600 internos na unidade assinam o segundo volume do livro Contos Tirados de Mim – a Literatura no Cárcere, lançado no final de 2016. O primeiro saiu em abril e um terceiro está programado para o próximo março.

Os livros são resultado da oficina de escrita literária ministrada pelo editor Alex Giostri na penitenciária. Em dois encontros semanais com os apenados de maio a julho do ano passado, ele lhes passou noções sobre elaboração de personagens e encadeamento da trama. Na etapa seguinte, também em duas sessões por semana, cada aluno deveria ler seu trabalho em voz alta, defender a ideia e apresentar o processo de criação, de pensamento e de organização no desenvolvimento.

– É um programa ressocializador, pois além da leitura há o aprimoramento da identidade e do caráter. Por isso, tem que se trabalhar também o lado emocional por meio de personagens e ambientação, sempre fazendo um paralelo com a situação deles – diz o editor.

Participante da Feira do Livro de Joinville desde 2012 com a editora batizada com seu sobrenome, sediada em São Paulo, Giostri teve a ideia do projeto no evento de 2015. Naquela ocasião, ele havia levado para a cidade o ator Luís Melo para fazer a leitura do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves. Após a atividade, calhou de ambos conhecerem o juiz João Marcos Buch, igualmente um entusiasta das letras como forma de reeducar os detentos – tanto que havia autorizado cinco presos a ir à feira declamar poemas escritos por eles.

– Eu já aplicava em Joinville a recomendação do Conselho Nacional de Justiça que institui a remição de pena pela leitura – explica Buch, autor de Crônicas – Relatos – Vivências, publicado pela Giostri.

Pela lei, o interno pode ler um livro por mês e escrever uma resenha a respeito para ser avaliada por professores. Se a avaliação for positiva, são abatidos quatro dias da pena. Chancelada por Buch, a proposta de Giostri não diminui o período de condenação, mas interessou aos presos que já se beneficiavam da remição pela leitura na Penitenciária Industrial de Joinville, considerada referência no país. Conforme o magistrado, ali o índice de retorno à prisão é de 15% a 20%, enquanto a média nacional gira em torno de 70%.

– Quando você tem a noção de que quem escreveu é uma pessoa que está presa, você acaba lendo com outros olhos, se emociona ainda mais – afirma Buch.

Para Melo, que viu a iniciativa nascer, o impacto extrapola em muito o universo literário. O ator esteve no lançamento do primeiro volume e ficou impressionado com o envolvimento dos detentos e de seus familiares:

– Eles se sentem lidos e ouvidos. Também acena para uma possibilidade depois que forem libertos.

Os textos a seguir foram escritos por detentos da Penitenciária Industrial de Joinville e extraídos do livro Contos Tirados de Mim

edro nasceu em um lar onde a desesperança e a precariedade fizeram com que Joana, a mãe, entregasse a criança aos cuidados de sua tia. Joana foi mãe do primeiro filho aos 17 anos, quando Diego nasceu, o pai – Carlos – estava desempregado e já fazia parte do submundo paulista. Foi em meados da década de 1980 que Joana anunciou a nova gravidez.

Acreditando estar sem saída, Carlos confiou sua sorte em um lucrativo assalto que lhe garantiria o sustento, por alguns anos, de sua necessitada família, porém foi abraçado pela Justiça, que o separou de sua mulher grávida, com Diego de colo.

Aflita quanto ao futuro dos filhos, Joana decidiu doar Pedro assim que o menino nascesse. Ela temia os próprios pais, claramente contra a criação e nascimento do menino Pedro.

Pedro foi recebido com muito amor por sua nova família, também humilde, mas na qual a escassez e necessidade não foram suficientes para abalar a união dos parentes.

Joana encontrou conforto e segurança na figura de um novo “amor”, 32 anos mais experiente, um homem que garantiria a Joana um novo lar. Roberto não demonstrava ser contrário ao fato de Joana ser mãe de dois filhos, um dos quais não era criado por ela. Roberto era radialista, mas já era casado, e ao que parecia Joana não desconfiava da bigamia exercida pelo novo marido.

Roberto até se mostrava contente com a decisão de Joana ir em busca do filho mais novo.

Diego tinha sete anos e sentia falta de um irmão para viver a infância. Pedro tinha seis anos quando enfrentou uma nova separação e, sua mãe adotiva, relutante e com muito sofrimento, foi obrigada devolver a forte e bonita criança antes que a sobrinha Joana acionasse os meios legais, acusando a tia de sequestro. Joana garantiria à tia fartura e estabilidade para o crescimento do menino.

Passados quatro anos de convívio no novo lar, a mulher de Roberto se apresentou à Joana, e se separou de Roberto, que foi acolhido e perdoado por Joana. Foi nessa fase que Carlos, o pai biológico das crianças, ganhou a liberdade do cárcere e quis se fazer presente, ao menos como pai. Roberto não se esforçava para esconder sua aversão à possibilidade de Carlos reatar com Joana por causa dos filhos, e assim iniciou sua luta para desatar os laços maternais.

Pedro e Diego ficaram contentes ao saber que iriam morar com o pai e a madrasta no litoral. Joana, como mãe, surpreendeu ao não contrariar a decisão do marido, e permitiu abster-se da companhia dos filhos.

As duas crianças foram morar com o pai e a novidade e alegria era a grandiosidade representada pelo mar. Eram pré-adolescentes e estavam descobrindo a vida.

Eles se aperceberam do desprendimento da mãe, mas seguiram vivendo normalmente por dois anos. Carlos acabou retornando à prisão, tentando proteger os filhos. Pedro e Diego, com catorze e dezesseis anos respectivamente, não podiam permanecer na casa da madrasta, e o ciúme, possessividade e insensatez do padrasto bloquearam o retorno dos meninos para sua mãe.

Joana se repreendeu em silêncio a mais essa repressão de Roberto. Diego ficou amparado pela família de um amigo. Já Pedro redescobriu sua família adotiva e foi ao seu reencontro no interior paulista. Pedro foi viver em uma chácara, mas não se sentiu parte da família, pois eles viviam de uma maneira diferente da dele, eram evangélicos. O menino decidiu morar sozinho. Foi ao Mato Grosso do Sul tentar ser convocado para o alistamento militar, encontrou dificuldades e, desestruturado, descrente de sua capacidade, se rendeu ao obstáculo e à ilusão de uma oferta de trabalho como motorista de uma famosa casa de show em Campo Grande.

Decidiu não se apresentar no exército, ficou iludido naquela vida por quatro anos e não progrediu em nada. Já não acertava uma escolha e se permitia aos vícios oferecidos pelo seu padrão de vida. Optou por não continuar ali, mas não sabia a quem recorrer, o que fazer. Estava totalmente sem objetivo concreto pré-estabelecido.

Seguiu às escuras para Minas Gerais e lá se apaixonou por uma garota, Jéssica.

Logo, Jéssica revelou uma gravidez não esperada e Pedro se viu como um pai. Desesperado com a situação, cometeu um assalto, foi preso e foi abandonado pela garota, que perdeu o filho por ter uma gestação muito tumultuada.

Durante a sua estada no cárcere, Pedro descobriu, repensando a vida, que viver, que a falta de coragem para enfrentar as adversidades, é a maior causa do fracasso humano.

Ainda preso, Pedro já possuía uma visão mais ampla do mundo, no entanto ainda não tinha um objetivo fixo a seguir. Só o que sabia até o fim desta história é que a sua meta era a felicidade. E que cabia a ele decidir se iria em busca dela ou não.

 

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Dannylo Cegala de Almeida

Decisões impensadas

Caminho sem volta

Elizabete Oliveira Dias

d

a janela, por entre as grades, Lúcia olhava o céu e relembrava sua infância. Via uma lua prateada que nascia sorridente no horizonte e com graça iluminava a noite escura. Era primavera, o ar tinha cheiro de flores e relva e Lúcia lutava contra as lembranças ao sentir aquele perfume que lhe trazia tantas recordações.

Lúcia crescera com todo amor, numa casa rodeada por varandas, pomares e flores da estação. Nas manhãs, logo ao acordar, ela colhia morangos frescos que, como grama, rastejavam perto do poço onde a família pegava água. As plantações beiravam uma vertente que brotava entre as pedras, causando a impressão de reino encantado ao lugar.

Ali viviam Ana e Roberto, pais de Lúcia e mais três filhos. Ana e Lúcia reinavam absolutas neste universo masculino onde as regras/ordens eram ditadas pela matriarca, que ostentava mansidão e firmeza de caráter. Tinha os olhos ternos, meigos e pretos como jabuticabas, que se destacavam mais ainda entre os primeiros fios de cabelos brancos que surgiram dando-lhe serenidade. Embora Ana aparentasse ter mais idade, mal havia completado trinta anos e tinha algumas manchas no rosto causadas pela lida para a lavoura sem se proteger do sol, o que não a impedia de ser uma mulher interessante. Roberto por descendência tinha traços europeus, porém sua altura era mediana. A mistura de raças contribuiu para que o casal tivesse filhos lindos. Os meninos herdaram do avô paterno a estrutura óssea bem definida e altura maior que a do pai, enquanto Lúcia, por sua vez, era a fotocópia da mãe. Não fosse a pele mais clara, poderia dizer que eram a mesma pessoa se comparadas no álbum de fotografias da família.

Os anos passaram num piscar de olhos. Lúcia já estava na adolescência, sua família havia se mudado para Marialva, interior do Paraná, onde iam trabalhar no cultivo de uvas e as crianças poderiam concluir os estudos. Eles moravam a poucos quilômetros da escola. Todos os dias Lúcia fazia o trajeto a pé e no caminho ia se juntando aos filhos da vizinhança. Nessa época surgiram os primeiros sinais de rebeldia na adolescente. Lúcia não gostava de estudar e passava as tardes com alguns amigos na pracinha da cidade, ou mesmo andando pelas ruas.

Ana e Roberto não sabiam mais o que fazer, entretanto, entendiam que alguma coisa estava errada. A filha não se parecia em nada com a criança meiga e encantadora que eles haviam conhecido, a quem haviam dedicado todo amor possível.

Nessa época, Lúcia conheceu Rodrigo, filho do delegado da cidade que, na verdade, se sentia meio que dono do lugarejo. Ele era vândalo ao extremo, porém aos olhos de Lúcia era encantador e gentil, além de achar que parecia um artista que vira em algum filme. De fato Rodrigo era lindo, porém arrogante e presunçoso a ponto de não transparecer nenhuma beleza especial. Ela se apaixonou e ele lhe apresentou o mundo das drogas, do álcool e do crime.

Não havia mais limite para a rebeldia de Lúcia e, assim, num final de tarde, começando a escurecer, mãe e filha discutiram. Ela fez as malas e foi para o mundo, sem rumo, ao lado de Rodrigo; sonhava conquistar

a liberdade.

Rodrigo gritou...

— O céu é o limite — e saíram numa moto felizes em busca de aventura. Durante anos ela pôde ouvir os gritos de Rodrigo e agoniada acordava.

Desesperada, sem saber o que fazer, Ana implorou à filha:

— Minha filha não vai, você não sabe o que te espera lá fora...

E mais uma vez ela agonizava arrependida sem saber como se livrar das cenas que volta e meia a faziam perder o sono.

Muitos anos se passaram e Lúcia ainda se lembrava do apelo da mãe.

Agora ao olhar a lua prateada, Lúcia voltava no tempo e lembrava

sua primeira noite de liberdade, imaginava as lágrimas nos olhos de

sua mãe.

Naquela noite a lua estava com o mesmo brilho, e Lúcia só desejava um mundo de felicidade.

Compreendia que não tinha mais como voltar atrás, percorrera um caminho sem volta.

Perdera a liberdade que poderia vir a ter, para a tão sonhada liberdade da juventude.

Joãozinho e o compadre

Paulo Ricardo da Rocha

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hegou sexta-feira, fim de expediente e Joãozinho combinou com a rapaziada da empresa tomar uma gelada no bar da Jacira como sempre faziam. Joãozinho se empolgou e conversa vai, conversa vem, quando deu por si já eram quase oito horas da noite. Chamou seu compadre e disse:

— Cumpadi, eu vou beber a saideira e vou pra casa.

— Capaz, Joãozinho, a costela já está quase assada, hoje é sexta-feira, amanhã nós não trabalhamos. Toda a turma da empresa está aqui e você vai fazer o que em casa?

— Olha, cumpadi, eu conheço a muié.

Joãozinho era aquele marido que fazia tudo para agradar a esposa. Também procurava não dar motivos para brigar ou discutir com ela, a tratava sempre com muito respeito, mas sabia que a confusão seria inevitável.

Comeram a costela, tomaram mais umas cervejas e outras bebidas. A essa altura Joãozinho já estava pra lá de Bagdá, azul de bêbado, ficou soltinho.

Começou a contar piadas. Ele tinha o dom e um jeito engraçado de falar por seu estilo capiau, bem da roça, bem do interior. Mas, mesmo falando errado, cada sílaba que ele contava era como que se fosse um gol numa partida de futebol, todos comemoravam, pulavam, rolavam de doer a barriga de tanto dar risadas e já diziam: “Manda mais uma rodada de cerveja.”

Já era tarde e nenhum sinal de que a rapaziada quisesse ir embora. O Joãozinho chamou o compadre e disse:

— Olha, cumpadi, eu tenho que ir embora senão a muié não vai me deixar entrar em casa.

Deixou o dinheiro para ajudar nas despesas e foi embora, bêbado, trançando as pernas. Sentou embaixo de um poste, acendeu um cigarro e começou a pensar: “E agora? Já é mais de meia-noite, eu bêbado, como que vô dizê pra muié que eu estava trabalhando e que eu estava com a turma da firma? Ah, meu Deus, e agora?”

Ele tinha que andar mais um pouco até chegar em casa. Olhou de longe todas as luzes da casa apagadas. Ficou alegre. “A muié tá dormindo”, pensou.

Só que ela deixou a porta trancada, fechou todas as janelas. Ele não tinha a chave de casa, tinha que bater na porta e acordá-la, mas sabia que ela ia brigar com ele. Não tinha outro jeito.

Tomou coragem e começou a bater na porta. Ela não atendeu.

Continuou batendo e dessa vez ele dizia:

— Oh, bem, abra a porta! Ah! Poxa, muié, abra a porta, eu estou cansado tenho que comer e tomar banho, trabaio o dia inteiro. Ah, bem, abra a porta, meu amor.

Escutou barulho perto da porta, sabia que ela já tinha acordado e estava escutando ele. Bateu na porta e insistiu dessa vez dizendo:

— Porra, muié, logo hoje que eu trouxe um buquê de flor pra muié mais bonita do mundo você vai me deixar pra fora.

E pela primeira vez ela disse:

— Eu não vou abrir, vai lá pro boteco beber com aqueles pinguços amigos seus, vai dormir com eles.

— Ah, porra, muié, me perdoe. Você sabe que eu te amo, benhê, abra a porta, muié.

E ela dizia ...

— Não vou abrir, vai lá pro boteco.

Joãozinho insistia, dizendo:

— Pô, muié, logo hoje que eu trouxe um buquê de flor pra muié mais bonita do mundo! Ô, amor, abra a porta.

Depois de muito tempo discutindo, ela disse:

— Tá bão, eu vou abrir, mas nunca mais faça isso, seu cachaceiro.

Ela foi abrindo a porta lentamente, olhou nas mãos dele, não viu o buquê e foi logo perguntando:

— Cadê o buquê de flor que você disse que trouxe pra mulher mais bonita do mundo?

No que Joãozinho entrou, ainda bêbado, respondeu para a mulher:

— Ué, mas cadê a muié mais bonita do mundo?

 

Textos produzidos em 2016 foram reunidos em dois volumes lançados pela editora Giostri, de São Paulo

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Denis, o contador

de histórias

VALDEMIR DA SILVA

n

asce o dia e Seu Denis já ordenha as vacas, enquanto Dona Rosa aquece a chapa do fogão de lenha, tomando seu tradicional chimarrão matinal. O sereno estampa o cenário como uma tela de pintura que ainda não secou. Enquanto Pedro, Ana Paula e Paulinha ainda se espreguiçam nas pesadas cobertas feitas com penas de ave e algodão, logo escutam Dona Rosa gritar lá da cozinha para eles lá nos quartos:

— Vamo levantá, criaturas! Vamo! O pai de vocês já está voltando do curral.

Dona Rosa capricha no cafezinho, torresmo, queijo, bacon e ovos fritos, leite puro, pão caseiro e polenta frita, tudo para seus filhos ficarem fortes e bonitos. Seu Denis logo chega, e todos já estão de pé, pois hoje será um dia especial: o sol está nascendo e Ana Paula vai montar pela primeira vez na égua tordilha chamada Branca. Pedro está mais ansioso ainda, pois deseja ver sua pequena irmã se esborrachando no pasto e se mata de rir com Paulinha.

Dona Rosa degusta seu chimarrão com flores de marcela e cana-de-cheiro. Logo vão todos lá no campo e, enquanto se esquentam ao sol, Seu Denis vem da baia caminhando com os arreios nas mãos, e marchando do seu lado vem a ilustre Branca, com uma pose de rainha. Quando para ao lado da família, para em posição, ele pega Ana Paula no colo, coloca seu pé de forma correta e logo ela se ajeita na sela, Branca já começa a dar seus primeiros trotes. Dona Rosa e Seu Denis conhecem muito bem a égua que têm, e a soltam. Ana Paula começa a passear numa marcha bem lenta com Branca sítio afora.

O jovem Pedro já tem seus olhos voltados para seu garnizé, que além de fazer pose vive se estranhando com o cachaço Chico, que nada mais é que um porco reprodutor do sítio e pertence a Paulinha, diz:

— Para todos que descobriram o spray roxo de matar bicheiras, coitado do porco, está vivendo num chiqueiro com o cocho cheio de ração. O bicho está com 220 quilos!

Este sítio teve muitas fases, tudo foi construído, desde a horta até as baias, chiqueiros, galinheiros e plantações de cana, aipim, feijão e pés de frutas, tudo feito com muito esmero e de uma forma muito simples, pois foi construído com tempo e dedicação.

Quando Seu Denis ainda era piloto de avião, já sonhava com uma aposentadoria neste local, no qual pôs o nome de Pinhão Aqui é Bão. Dona Rosa sempre viveu neste estilo colonial, queijos e pães foram sempre sua especialidade, mas hoje sabe que, além de tudo, o crescimento e a educação de seus filhos estão em primeiro lugar. Ela vem no horizonte trotando a Branca, Ana Paula fazendo pose de competidora, e agora Denis e seu filho Pedro supervisionam as plantações.

Dona Rosa e as filhas vão fabricar uma saborosa cuca de banana, e desta vez a protagonista será Paulinha, que vê na internet as novidades. Mas será sua primeira fornada de cuca, que vai fazendo com suas próprias mãos.

Quando anoitece, Seu Denis logo queima uma lenha e logo todos se assentam ao redor do fogo para escutar suas histórias, que são de arrepiar. Enquanto com os olhos esbugalhados de medo, Dona Rosa toma seu tradicional chimarrão, Seu Denis faz gestos com as mãos e conta suas histórias de arrepiar e Pedro, com um pedaço de corda enrolado nas mãos, joga em cima de suas irmãs e grita

“A cobra!” E las fazem uma gritaria e eles caem na gargalhada. E a família Silva pensa e discute a respeito do futuro.

Quais serão seus sonhos e metas? O pequeno Pedro quer montar um grande aviário e Ana Paula quer praticar hipismo e ser uma medalhista nas Olimpíadas. Paulinha sonha em cultivar uvas e quem sabe ser uma produtora de vinhos. E Seu Denis sabe que ainda tem uma grande missão pela frente de educar, instruir e conscientizar seus filhos para que seus sonhos não se percam no tempo e que suas felicidades, alegrias, conquistas sejam como cada semente ali plantada e brotem, satisfazendo suas vontades e também alimentando o coração da família Silva.

Em um dia de sol, Seu Denis convidou todos da família para fazer um passeio de trem na ferrovia nova. Pedro, Ana, Dona Rosa e Paulinha acharam o máximo, pois já fazia anos que eles não saíam do velho sítio.

Ana foi para o seu quarto se arrumar e os demais fizeram o mesmo. Seu Denis liga o carro e dá umas buzinadas, é mais ou menos assim: “Bi, bi, bi, bi”, e fala:

— Todos já estão prontos para partirmos para a ferrovia?

Não demorou e já saíram todos correndo porta afora. Dona Rosa fica por último, para fechar a porta da casa, e vai na direção do carro. Ao entrar no carro, Seu Denis colocou um som, aí todos seguiram para a ferrovia, onde pegaram o trem e seguiram viagem.

Ana e Pedro ficaram conversando, enquanto Paulinha ajudava sua mãe a sentar-se no banco do trem. Logo Seu Denis se aproximou da família e ficou de pé, não queria se sentar, então ali ficou, observando as pessoas.

Ao passar 20 minutos do passeio, ouvem-se uns tiros e cavaleiros em redor do trem, e os que ali estavam ficaram se olhando, pois não sabiam o que estava acontecendo. Alguns minutinhos passados e uma voz que vem de dentro de uma caixa de som que fica no teto do trem fala:

— Todos fiquem tranquilos, porque nós vamos parar por um instante. Vamos ver o que está acontecendo. O barulho vem de trás do trem, nós não sabemos o que está acontecendo, por isso iremos parar.

O trem começa a perder velocidade e vai parando.

Como é curioso, Seu Denis pega e vai até o final do trem. Ao chegar lá, ele vê uns homens com lenços nos rostos e rapidamente pergunta:

— O que está acontecendo por aqui?

Um dos assaltantes diz:

— Bem, bravo, aqui está havendo um assalto, e você pode passar todos os pertences.

Então Seu Denis pegou e entregou o que ele tinha no momento; os seus pertences eram relógio, pulseira de ouro, sua corrente que mais gostava, e que também era de ouro, Seu Denis ficou muito chateado. Ao entregar os pertences aos assaltantes, ele se dirigiu ate a família, enquanto isso os demais assaltantes seguiram para os outros vagões fazendo um arrastão com todos que ali estavam, não parava de chegar bandidos, todos mal-encarados, estavam todos com armas em punho. Seguiram para a frente do trem, onde estava o cofre, quando chegaram ao vagão do maquinista ele quis reagir, mas como tinha muitos assaltantes ele não pôde fazer nada, então colocaram fogo no vagão, após saírem galopando rapidamente do local.

Após o acontecido, o maquinista ligou para os bombeiros, que não demoraram e logo chegaram para acalmar o incêndio.

Os bombeiros logo conseguiram e foram embora. As pessoas, que estavam em choque, agradeceram. A voz do alto-falante voltou e disse:

— Tudo resolvido, agora nós iremos partir – e o trem começa a andar.

Seu Denis fala para a Dona Rosa:

— Amor, eu fui roubado e nós ficamos na pior, temos que retornar para casa.

Enquanto isso Ana, Pedro e Paulinha ficam só observando o pai, no estado de nervosismo.

— O trem está chegando na estação e nós iremos sair e seguir para casa.

Ao ver todos bravos, por voltar mais cedo do passeio, Seu Denis pega o carro e a família e seguem direto para o sítio.

No carro, Seu Denis coloca uma música para acalmar a todos e para ficar mais tranquilo. Ana e Paulinha começam a cantar. Não demora e logo estão chegando ao sítio.

Ao chegarem, todos descem do carro e se dirigem para a casa. Ao entrar na casa, Dona Rosa foi para o fogo fazer um chá e os demais foram arrumar suas coisas, que estavam no carro. Após isso foram para o fogão a lenha, Pedro pegou a lenha e colocou no fogão para secar. Logo o chá está pronto e Dona Rosa pega e serve os filhos e o marido.

O marido fala para todos:

— Esse passeio de trem foi o pior de minha vida.

No final de ano nós iremos para a praia passar a virada do ano.

Todos só olham.

Essa foi mais uma história do Seu Denis e sua família