ENTREVISTA

Coronel paulo henrique hemm |

Comandante-geral da PM em SC

“É inviável 
ficar um policial somente”

Número 1 da Polícia Militar desde o começo do segundo mandato de Raimundo Colombo, o coronel Paulo Henrique Hemm, 55 anos, se mostra tenso ao encarar a escassez de policiais pelo interior. Admite preocupação e reavaliações da distribuição, mas garante que o quadro já foi pior e tende a melhorar a partir de contratações previstas. Confira os principais trechos da entrevista concedida na terça-feira.

Em cidades pequenas há um PM por turno de 12 horas. Como o senhor avalia essa realidade?

A situação do efetivo policial sempre foi o maior desafio. Não é de hoje, é de muitos anos. Sabemos disso, por trabalharmos no serviço operacional. O nosso efetivo hoje é de 10.175 policiais. Desde que foi implantado o subsídio, tivemos que rever as escalas de serviço porque começamos com banco de horas.

A situação já foi mais crítica?

Com certeza. Pode verificar, fazer essas observações, procurar as associações. Ouve o momento das escalas 24hx48h (24 horas de trabalho e 48 de descanso) que eram improdutivas e não estavam dentro do que previa a lei. Colocamos, em cada município desses, cinco PMs. Não podíamos deixar a cidade sem polícia.

Um único PM por turno preocupa?

Preocupa, com certeza. Não é o ideal. A princípio colocamos cinco PMs (em cada uma das 102 cidades com baixo efetivo) e de lá para cá, em alguns desses municípios que acredito que você tenha ido, de repente tem dois ou três porque alguns deles foram para a reserva, e temos que buscar recompor, fazer análise técnica. É inviável ficar um policial tão somente, mas também precisamos verificar a situação da mancha criminal e a criminalidade que afeta os grandes municípios. Estamos buscando soluções com os comandos regionais, para que tenha ao menos um policial e a cidade não fique desguarnecida 24 horas.

Em outubro o senhor fez um documento listando 102 cidadezinhas com baixo efetivo. Mudou o cenário?

Mudou. Quando comunicamos ao secretário (da Segurança Pública, César Grubba) foi justamente porque precisávamos mudar a escala. Conseguimos retirar alguns policiais de cidades maiores para compor as cidades menores, para que ficassem com cinco policiais. Elas permanecem com o efetivo que não é o ideal, como em todo o Estado, e estamos buscando que mais policiais possam ingressar.

Em São Cristóvão do Sul, que abriga a penitenciária de Curitibanos com mais de mil presos, há um só PM por turno de 12h. Isso poderia ser reavaliado?

Acho que hoje a gente busca no dia a dia reavaliar situações, não só em São Cristóvão, mas outras cidades que exigem. Vamos buscar junto ao comando regional.

São Cristóvão do Sul ainda vai receber uma nova ala de segurança máxima com mais 100 presos dos mais perigosos do Estado...

É possível (colocar mais PMs) e vamos rever diante dessa situação, embora saibamos que a segurança dos presídios e penitenciárias já não é mais com a PM. Mas pela situação de perigo, de fuga de preso.

O senhor já declarou que a grande preocupação está nas grandes cidades. Mas as cidades pequenas enfrentam onda de assaltos a bancos. É preciso uma estratégia mais forte no interior?

Estamos pagando uma conta que não é só nossa. Tivemos 90 presos em flagrante envolvidos em furtos e roubos em caixas eletrônicos e bancos em 2012. Em 2013, foram 45, em 2014, 51. Já em 2015, tivemos 56 e, agora, em 2016, foram 20. Houve situações em Penha, Piçarras, Três Barras, ocorrências bem sucedidas pela PM. A preocupação com o patrimônio também faz parte da nossa missão. Mas a preocupação maior é colocar no mesmo patamar agências bancárias, população e policiais.

O senhor quer dizer que as ações cabem também aos bancos?

A Febraban e as organizações têm que tomar os cuidados necessários e fazer a parte delas. Quando somos acionados para ocorrências na Caixa Econômica, as (imagens das) câmeras de monitoramento levam quatro, cinco dias para chegar. Não podemos esperar. Mas sabemos de que no Planalto Norte há ação intensa de quadrilhas, assim como no Sul, com pessoal do Rio Grande do Sul. Quando há assalto a banco e a PM está em desvantagem, com certeza acionamos apoio. Não vou fazer com que o meu policial perca a vida por um dinheiro que tem seguro. Quando temos informações privilegiadas, fazemos operações, como em Três Barras.

Mas estão atirando contra os destacamentos da PM e fazendo reféns...

Exatamente, o que fizemos para reforçar o efetivo das cidades pequenas: armar melhor os nossos policiais com armas pesadas e buscar realmente apoiá-los em condição de desvantagem. Esses assaltos acontecem em toda parte. Se for verificar a situação do Rio Grande do Sul...

Há alguma estratégia imediata para sufocar logo essas quadrilhas?

Buscamos o trabalho conjunto na informação, o que compete mais após o fato à Polícia Civil e para que possamos nos antecipar aos fatos, trocar informações para que de imediato possamos localizar. Temos trabalho em conjunto com a Polícia Civil e Gaeco e procuramos dar apoio com PPT, Choque, Bope.

A Aprasc defende um novo levantamento do efetivo nos batalhões para uma redistribuição de policiais. O que o senhor acha?

Estamos fazendo há algum tempo. A nossa distribuição é eminentemente técnica. Observamos as localizações estratégicas, a mancha criminal, o número de ocorrências, a relação de aumento populacional.

Está confirmada a nomeação em junho de 658 PMs?

Está confirmada. A situação exige que sejam chamados para recompor o efetivo e ao menos dar algumas respostas para a sociedade. Temos edificação com 16 novas salas de aula na academia que vão ser inauguradas em maio, mas há cursos em formação e vamos regionalizar os cursos com turmas em Joinville, Blumenau, Balneário Camboriú, Chapecó, Lages e Criciúma.

O interior será beneficiado com novos policiais?

Com certeza. O Alto Vale, o Oeste, por exemplo, que é o mais problemático. A redistribuição exige em todo o Estado. A formação leva oito meses, vão estar prontos para a Operação Veraneio. Em determinados momentos eles poderão executar algum tipo de missão mesmo em curso, o que vai gerar sensação de segurança.

O senhor que é do interior (radicado no Oeste) acredita que ele está desprotegido de segurança?

Desprotegido não. A PM está presente nos 295 municípios. Não está com o efetivo ideal, mas desprotegido não. Temos problema maior que nos afeta acima até do efetivo policial: são as leis, que não nos protegem, muito menos ao cidadão de bem. Prendemos 38 mil em 2015. Mas as pessoas que nós prendemos estão indo para as ruas. Há uma reincidência grande. Um ladrão de rolex que envolveu numa ocorrência havia saído de audiência de custódia há 15 dias (foi morto em confronto com um PM em Palhoça). Esse homem-aranha da Trindade (ladrão de apartamentos), eu pergunto: até quando ele vai ficar preso? Os marginais não respeitam as leis, estão audaciosos, enfrentam a polícia e consequentemente vai existir o confronto.

Os policiais da reserva que retornam ao serviço não podem atender ocorrências?

Fizemos pedido ao secretário (da Segurança) que sejam contratados mais 250 policiais (da reserva). Hoje estão sendo contratados para a guarda, são 1.234 policiais em atividade. Na nossa mudança, para mudar a legislação, solicitamos que sejam empregados para irem às ruas, no policiamento. Podem ficar até oito anos. Está com o grupo gestor (do governo do Estado), assim como a solicitação de mais 1.200 novos agentes temporários, jovens que trabalham no atendimento das centrais de emergência e dão apoio no videomonitoramento.

Escolhido em votação pelos catarinenses, o tema segurança será prioritário em 2016. Durante todo o ano, acompanharemos indicadores criados junto com especialistas na campanha Segurança SC - Essa Causa é Nossa. Você também pode participar desse movimento! Acesse no link abaixo o site da campanha e saiba como. Em redes sociais, utilize a hashtag #SegurancaSC e compartilhe sua história sobre o tema.

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