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O LUXO QUE VEM DO DESPERDÍCIO
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Por: LUCIANA ZONTA


Casal reaproveita produtos jogados fora para equipar casa e aumentar renda doméstica

BALNEÁRIO CAMBORIÚ - O interior da pequena casa de madeira de Sérgio dos Santos Souza, 43 anos, se abastece do desperdício urbano. Do lixo descartado por quase 80 mil pessoas, o catador de latinhas e a companheira Maria Luiza da Silva, 57, tiram seus tesouros. Decoram a casa, trocam móveis e eletrodomésticos, "compram" presentes para os filhos. Os três cômodos do lugar guardam nada menos do que 23 relógios de parede, todos achados na rua.
O requinte de ter sete televisões em casa, privilégio da elite, é uma realidade na casa de Sérgio e Maria Luiza. Somente na sala, são três. Todas encontradas na lata do lixo e funcionando. Uma delas tem até aparelho de CD. "Dei de presente de aniversário para o meu filho. Só falta colocar bateria", conta Maria Luiza.
O sofá, a estante, a mesa da cozinha, o armário do quarto e o fogão também foram encontrados na rua e trazidos no carrinho utilizado para transportar o material. Nas paredes, há mais de uma dezena de quadros, pôsteres de artistas famosos e muitos relógios de parede, alguns parados por falta de pilhas.
No teto, seis passarinhos decoram a sala.
Apenas uma das aves foi presente de um amigo. As outras, encontradas na lata de lixo ou esfalecendo no meio da rua. A mais recente "aquisição" de Sérgio foi batizada Branco, um passarinho arisco cujo peito claro constrasta com as asas pretas. "Encontrei quase morto quando resolvi tratar. Passei água da minha boca para o bico dele. Hoje, está forte", orgulha-se. Até o velho cachorro de estimação foi tirado das ruas.

Porta-jóias guarda artigos de luxo

Embora a união do casal não seja oficializada, Sérgio e Maria Luiza gostam de exibir as alianças no dedo anelar esquerdo. Os anéis foram encontrados separadamente na lata de lixo, possivelmente resultado de relacionamentos que não deram certo.
De dentro de um porta-jóias em forma de gaveteiro, Maria Luiza ainda tira colares, brincos e anéis de bijuteria que Sérgio traz de presente para ela no final do dia. "As pessoas jogam muita coisa boa fora. É até um pecado", diz.
A corrida pelo o que os outros jogam fora rende ao casal R$ 420,00 por mês. Sérgio, que não sabe ler nem escrever, costuma levantar às 4h30min para trabalhar. Meia hora depois, já está na rua. Garrafas plásticas, jornais e latas de alumínio têm prioridade.
Maria Luiza sai para catar material três vezes por semana. Quando está em casa, senta-se no quintal para descascar restos de fio de cobre que recolhe das construções. O quilo do cobre puro vale R$ 3,00, item mais valorizado da lista dos recicláveis.

Associação reforça a luta dos catadores

A coleta de material reciclável desenvolvida por quase 500 pessoas em Balneário Camboriú e Camboriú ganhou reforço extra em agosto. Catadores de alumínio, garrafas plásticas e papelão decidiram fortalecer a atividade com a criação da Associação Ecológica de Catadores de Material Reciclável. O projeto, que tem o apoio técnico da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, busca a ascensão social da categoria, considerada o principal vetor de conservação ecológica no município. A associação reuniu inicialmente 35 famílias, que se dividem entre a coleta, armazenamento, processamento e comercialização do material reciclável.
Uma exposição fotográfica sobre o cotidiano dos catadores vai visitar escolas municipais com o objetivo de conscientizar crianças e jovens para a separação do lixo. A primeira escola que receberá o projeto será a Armando César Ghislandi, no Bairro Vila Real. No período da exposição, o tema também será abordado nas disciplinas de Ciências, Língua Portuguesa e Ensino Religioso.
Projeto semelhante foi colocado em prática em Itajaí. A Cooperativa dos Coletores de Material Reciclável da Foz do Rio Itajaí (Cooperfoz) entrou em funcionamento no dia 17 de julho com a participação de 30 sócios fundadores. A prefeitura assumiu o aluguel de dois galpões. Os catadores estão trabalhando principalmente com garrafas plásticas, alumínio e papelão.

Rendimento pode atingir R$ 800,00

O presidente da Cooperfoz, Silvano Rech, estima que inicialmente o rendimento mensal dos cooperados deve girar em torno de um salário mínimo. O presidente da Associação de Coletores de Balneário Camboriú, Claudionor Gonçalves aposta que, a médio prazo, o rendimento individual possa chegar a R$ 800,00. "A meta também é ampliar o número de sócios", diz.
A associação está tentando negociar o aluguel de um galpão para a instalação da unidade. Hoje, o caminhão da Coneville que realiza a coleta seletiva recolhe em torno de uma tonelada por dia de lixo reciclável. "Mas o potencial de coleta é infinitamente maior, já que poucas residências ainda se preocupam com a separação do lixo", argumenta a gerente dos serviços de coleta de lixo da empresa concessionária, Rosicléia Maestri.

Os números

- O Brasil é o compeão mundial no ranking de reciclagem de latas de alumínio entre os países onde esta atividade não é obrigatória por lei

- Em 2002, 87% do lixo recliclável foi reaproveitado, correspondendo a 121,1 mil toneladas de latas de alumínio ou 9 bilhões de unidades

- A reciclagem de alumínio no Brasil envolve perto de 2 mil empresas e movimenta R$ 850 milhões por ano

- Estima-se que mais de 150 mil pessoas vivem exclusivamente da coleta de latas de alumínio no país

- Em Balneário Camboriú e Camboriú, 500 pessoas vivem da coleta do lixo reciclável. A atividade é considerada o principal vetor da preservação ambiental no município

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