| 13/12/2008 20h28min
A caminho da fazenda que foi do prefeito Loureiro da Silva, em Tapes, Duda decidiu que entraria na disputa para a presidência do Grêmio. Entre ida e volta, de carro, ouvindo Coldplay e Amy Winehouse, Fernando Antônio Kroeff, 53 anos, se deu conta de que nas quase três horas do percurso pensou só no Grêmio: 
— Os amigos do meu pai comentavam que eu seria presidente um dia, mas não era algo que tivesse como uma obrigação. Minha vida estava estabilizada, mas a paixão falou mais alto.
Em vídeo, conheça mais do novo presidente:
Duda herdou do pai os negócios da família, como a fazenda Capão Alto, em Tapes. Uma vez por semana, costuma ir à propriedade, onde planta arroz e inverna bois — compra o animal 
novo, engorda e vende para frigoríficos. Na manhã da visita de Estilo 
Próprio, quem faz as honras da casa, original desde os tempos do prefeito Loureiro, é a funcionária Lolita. Ela também é original, vive lá há mais de 50 anos. 
— Seu Duda gosta quando faço batata frita — entrega. 
Casa construída em "L", com quatro quartos na área principal, é branca, de aberturas marrons e decoração singela. O toque contemporâneo se dá pelo televisor e pelas fotos da família. Entre os cinco empregados, está Eloí. Fiel capataz dos Kroeff, traz os cavalos para a sessão de fotos. Lá pelas tantas da conversa, a surpresa: 
— A senhora sabia que o doutor Fernando (o pai) aparece aqui? — diz Eloí. 
— Como assim? 
— Minha mulher me disse para não contar para ninguém, mas como ele apareceu para outros dois também, estou falando. Já vi o doutor Fernando bem ali, entre aquelas árvores. 
Duda ri, dá corda à conversa em torno da memória do pai. Fernando Kroeff, morto há 11 anos, é 
personagem conhecido no Estado. Foi presidente do Grêmio em 1958 e patrono. 
Grande fazendeiro, era o dono da área do Parque de Exposição de Esteio. 
— Fui batizado naquela casa branca onde a governadora fica — relembra o novo presidente do Grêmio. 
Duda administra os negócios de um escritório na Carlos Gomes. Chegou a cursar Administração de Empresas, largou e acabou se formando em Educação Física. Trabalha com os dois sobrinhos e é com eles que o presidente conta para poder assumir mais tarefas e ter tardes livres para o Grêmio. 
— Há quem o considere um bon vivant. Concorda? 
— Bon vivant? Essa é boa — diverte-se. — Trabalhei minha vida inteira, desde os 15 anos com o meu pai. 
Duda não é de fugir de respostas. Quando não gosta, discorda. 
— Entre alguns grupos no Grêmio, comenta-se que quem vai mandar no Grêmio é o Cacalo e você vai aparecer... 
— De jeito nenhum. Sou um cara calmo e cortês. Mas eu estou no comando, ninguém me coordena. Claro que o 
Cacalo é experiente, um vitorioso, mas não concordo com muitas idéias dele. Me 
aconselho com ele, assim como com o Fábio Koff. 
Os dois foram presidentes do Grêmio e grandes catalisadores de votos para Duda na eleição. 
— Sou tranqüilo, mas tenho outro por dentro. Há, sim, coisas que me irritam e me tiram do sério. 
— Como... 
— Vigarice. Tenho nojo de vigário. 
Foi este o principal motivo pelo qual vinha adiando a candidatura. Esse lado do mundo do futebol de negócios escusos e o uso dos clubes para prestígio e benefício próprio. Duda Kroeff rebate: 
— Trabalho para o Grêmio. É ele em primeiro lugar. 
Bom papo e conciliador são as características enumeradas por adversários e aliados. A mulher Luciana corrobora: 
— Ele é principalmente conciliador, mas tem um jeito firme. Quando abraça algo, abraça com uma crença muito forte. E, sim, fica bravo — revela a psicanalista, com quem é casado. 
O casal divide a paixão 
pelos filhos, Sofia, 10 anos, e Alexandre, quase três. Divide ainda a paixão com esporte, viagens. Entre os 
roteiros estão Jurerê e Nova York, e bons restaurantes. Mas Duda convive com um Gre-Nal. Luciana é colorada e não esconde. 
— Meu sogro sempre dizia que ser gremista é um estado de espírito. Digo então que estou gremista. Não seco o Grêmio e vou ao Olímpico. Quero que ele tenha sucesso — diz ela, no apartamento do casal, em que na poltrona há um Papai Noel vermelho e um azul. 
O novo presidente foi casado outras duas vezes e é pai de seis filhos, ao todo. E já é vovô. Com vida profissional e familiar tão estabilizada, nem todos os filhos apoiaram com mesmo entusiasmo a nova função do pai. Mas o comentário de um deles o fez sentir aquela inflada no peito, digna das grandes decisões. 
— Pai, tu não vives dizendo que és apaixonado pelo Grêmio? — provocou Ricardo. — Tu tens que aceitar, porque ser presidente do Grêmio é pegar essa paixão com as mãos! 
A posse está marcada para 22 de dezembro. 
O 
esportista 
Futebol foi sempre o esporte de Duda Kroeff. 
— Sou canhoto — conta o ex- lateral-esquerdo do Safurfa, time de várzea de Porto Alegre. 
— Você jogava bem? 
— Posso dizer que eu não era muito ruim. 
Jogou ainda futsal pela equipe do Leopoldina Juvenil, quando chegou a enfrentar o time de Vitorio Piffero, presidente do Inter. 
— Uma vez fiz um gol no Inter. O cara cobrou escanteio e acertei de primeira. Depois tomamos uns quatro (risos). Joguei também contra o Grêmio, mas nunca fiz gol. 
Quando Duda largou a ala-esquerda, se dedicou ao tênis e, mais recentemente, estava empolgado com as corridas na esteira da academia de ginásticam, perto de casa, e onde treinava três vezes por semana. Até identificar uma lesão nas costas. Esporte, brinca ele, é coisa para gente jovem. Por isso, o professor de Educação Física formado faz musculação e caminha, mas foge dos gramados para evitar lesões. 
Já esteve em quatro Copas do Mundos: 
de 1974, na Alemanha, de 1978, na Argentina, de 1982, na Espanha, e de 1994, nos 
Estados Unidos. O esportista 
A relação com o pai 
Dos tempos de guri, o presidente eleito do Grêmio lembra que o pai, Fernando Kroeff, gostava de levá-lo às reuniões. Presidente e patrono do clube, era procurado pelos demais dirigentes para assuntos delicados. Era com Fernando que os cardeais, a cúpula tricolor que mandava no clube, se aconselhava. 
— O pai gostava de me levar às reuniões. Havia um restaurante na Bordini, o Escandinávia. Gostava da comida de lá. Mas eu tinha uns 12 anos e achava um saco. Depois, com 14 anos, já entendia e achava as conversas interessantes. 
— Para mim ele parecia o cara mais inteligente do mundo. Era um homem muito forte. 
Mas também de poucas palavras, revela. Está aí uma diferença do estilo de pai que é hoje. 
É ao pai que Fernando Antônio deve o apelido Duda. 
— Desde pequeno ele me chamou assim. 
Duda conta que o pai não o pressionava dizendo "um dias tu serás presidente do Grêmio". Quem brincava 
sempre eram os amigos. E no dia da eleição, ficou surpreso. No Olímpico recebendo os votantes, ele conta que apenas umas 20 pessoas se dirigiram a ele, fazendo referência ao pai. 
Filhos e casamento 
A família do novo presidente do Grêmio é grande e estará toda reunida no Natal. Duda tem seis filhos: Fernando, 30 anos, Jorge, 29, Christiana, 24, Ricardo, 21, Sofia, 10, e o caçula, Alexandre, que completa três anos em janeiro. O mais velho mora em Barcelona, onde joga futebol em um time da terceira divisão espanhola, o Rubi. Fernando deu a Duda o primeiro neto, Lorenzo. Na noite de 24 de dezembro, o dirigente estará vestido de Papai Noel para comandar a festa com a mulher, Luciana. 
— Adoro. Sempre me vesti de Papai Noel para os meus filhos. Sou um cara muito ligado à família. 
Os amigos brincam que a fama de conciliador de Kroeff é comprovada pela harmonia que consegue manter em casa entre os filhos de 
três casamentos. 
O novo presidente mora em um 
apartamento na Bela Vista, em Porto Alegre, com a mulher, Luciana, e os dois filhos do casal. Gosta de cinema, o último filme a que assistiu foi Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. É também um bom leitor de policiais. Ele e Luciana se conheceram quando foram colegas na Aliança Francesa. As aulas renderam o casamento e um francês intermediário, segundo ele. Já inglês, fala fluentemente.
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