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Esportes  | 23/11/2013 15h06min

Pelé revela: "Eu quase joguei no Grêmio"

Ex-jogador conta história do início da carreira, quando atuou em Porto Alegre aos 16 anos

Luiz Zini Pires  |  luiz.zini@zerohora.com.br

Uma lista com mais de 200 nomes, dezenas de pronúncias diferentes, cada um com o e-mail como passaporte, habita os laptops dos assessores de Pelé. São jornalistas da Europa, maioria, Ásia, África, Oceania e das três Américas, que buscam entrevistas exclusivas com o melhor jogador de futebol de todos os tempos. Eles usam o inglês nos pedidos e sugerem 30 minutos, uma hora, de atenção em qualquer lugar. O entrevistado pode definir a hora, o país, o local. 

ZH conseguiu um espaço de 20 rapidíssimos minutos na esgoelada agenda do ex-craque de mais de 1,2 mil gols às 13h de quinta passada em uma sala no quarto andar do WTC, torre de 25 andares da capital paulista – parte da entrevista foi publicada na edição de sexta-feira.

Assista ao vídeo

 

Aos 73 anos, Pelé ainda se ressente de uma delicada cirurgia no quadril direito, em novembro passado. Ficou 45 dias quase imóvel em uma cama no hospital. Ainda manca um pouco. Ao pisar na sala, encontro o Rei acomodado numa confortável cadeira, atrás de uma mesa, autografando camisas amarelas e azuis da Seleção Brasileira. Desenha a mais famosa e conhecida assinatura do mundo. No traço único, uma minúscula bolinha de futebol substitui o assento agudo no segundo “e” do nome Pelé.

Me aproximo, digo quem sou, falo de ZH e de Porto Alegre. Ele estende a mão (um aperto firme) e usa sorriso de boas-vindas.

– Só um segundinho, preciso terminar de autografar esta camisa.

Espero. Esperaria anos.

– Sabe que tenho uma filha gaúcha, a Flávia (fisioterapeuta em São Paulo)?

Digo que sim, aproveito a deixa e faço uma brincadeira com Sua Majestade.

– Sabe Pelé, eu venho em missão secreta.

Ele larga a camisa,  levanta a caneta de tinta preta e me olha, bem mais sério.

– A dupla Gre-Nal me enviou. Como os atacantes não fazem gol, quero oferecer um contrato. Você atua 90 minutos pelo Grêmio e 90 pelo Inter, um jogo com cada camisa. Os gaúchos precisam de um goleador, Pelé?

Ele dá uma longa risada e me diz:

– Sabe que eu quase joguei no Grêmio?

O que? Como? Quando? Eu cutuco o fotógrafo Diego Vara ao meu lado e pergunto, sem me preocupar como o tempo da entrevista que se esgota com a rapidez da aceleração de um Pelé em busca do gol?

– Posso gravar, Pelé?

– Pode.

O ex-jogador vai em frente. A sua história exclusiva vale ouro. Paga o preço de precisar levantar às 4h da madrugada e pegar um avião com destino a São Paulo e uma forte turbulência antes do nascer do Sol.

– Tenho várias histórias a respeito do início da carreira do Pelé. Uns dizem que Pelé veio ao Corinthians treinar como infantil, mandaram embora e ele voltou para Bauru (risos). Tem muitas história. Mas uma que é verdadeira. Quando eu estava no Santos, no início da carreira, tinha uns empréstimos que o Santos fazia com os jovens para ganhar experiência. Nesta época, o Santos fez excursões pelo Sul. Jogou em Pelotas, em Rio Grande. E quase que eu fico no Grêmio. Quase que eu fui emprestado. Teve uma consulta se alguns dos garotos poderiam ficar e eu era um deles. De vez em quando eu brinco: “Quase que eu reinicio minha carreira no Grêmio.”

– Quantos anos você tinha na época?

– Eu estava com 15 para 16 anos. Com 16, eu fiz o jogo da Seleção na Copa Roca. Foi a minha primeira vez na Seleção. Com 17, eu estava na Copa do Mundo (1958, na Suécia). Então, com 16 anos, neste início de carreira, quase que eu vou jogar lá no Grêmio.

Mas não jogou.

Fez do Santos o time mais famoso do Século 20. Fez do Brasil a Meca da bola.

Rei adolescente, por Jones Lopes da Silva:

Pedi ao colega Jones Lopes da Silva, um especialista em Pelé, que me lembrasse da visita do ex-jogador ao Estado nos anos 1950. Ele recorda.

“Perdão, Pelé, você tinha 16 anos e 136 dias de vida quando começou excursão de oito amistosos pelo Sul com o Santos de Jair Rosa Pinto, Dorval, Pagão e Del Vecchio. Foi de 12 a 31 de março de 1957. Você era o caçula. A delegação parou no antigo Hotel São Luiz, na Farrapos, 45, em Porto Alegre, e o Dorval o levou para um passeio pela quadra. Na estreia, apenas seu sétimo jogo, o Grêmio venceu por 3 a 2, no Olímpico. O Santos pediu revanche: fez 5 a 0. A gira continuou contra Riograndense, Pelotas, Brasil, dupla Baguá, Renner e combinado Flamengo-Juventude, de Caxias - quando foi titular. Pelé, ou Pilé, mal lhe conheciam, você marcou em Bagé o terceiro dos seus 1.282 gols: fez o quarto em Caxias. Ainda viu os grilhões nas charqueadas de Pelotas e tomou banho em arroio. Realmente, em julho, jogaria pela Seleção, e nunca mais seria um anônimo.” 

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