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Geral  | 29/07/2013 17h19min

Religiosos e ativistas comentam declaração do Papa sobre os gays

Durante o retorno à Europa, Francisco disse não querer julgar os homossexuais

A manifestação do papa Francisco sobre não querer julgar os homossexuais, proferida durante o voo de retorno ao Vaticano na madrugada desta segunda-feira, não chegou a causar surpresa dentro da Igreja Católica.

- Essa foi sempre a doutrina da Igreja. A Igreja respeita o que as pessoas são - declarou a Zero Hora o arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings.

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Entre representantes de entidades gays, a frase do Pontífice ("Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?") foi recebida como uma posição avançada do representante máximo da Igreja Católica - que, formalmente, ainda condena a homossexualidade.

- Só pelo fato de não atacar a comunidade gay já ajuda muito. Já me dá uma esperança de que a Igreja possa, futuramente, mudar - afirma o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno.


Veja algumas opiniões sobre o tema:

"Essa foi sempre a doutrina da Igreja. Achei positivo, mas não tem algo novo. A Igreja respeita o que as pessoas são. Nunca se discrimina uma pessoa por aquilo que ela é. Alguns nascem com uma tendência para esta linha (homossexual). Se a pessoa faz escândalo com isso, se age fora das normas sociais, causa estranheza. Não é privilégio dos gays fazer escândalo, os héteros também fazem."
Dom Dadeus Grings, arcebispo metropolitano

"Não achei nada especial. Isso eu digo há muito tempo, falo isso na minha diocese há muitos anos. O que a pessoa precisa, realmente, é se encontrar com Deus. Precisa responder aos anseios de Deus. Jesus Cristo não olha sexo, não olha condição humana, não olha cor. Não cabe a nós julgar. Mas isso não significa aprovação de casamento gay, isso é outra coisa."
Dom Zeno Hastenteufel, bispo da diocese de Novo Hamburgo e bispo referencial da Pastoral Familiar da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - Regional Sul 3

"Nossa, gostei tanto da declaração do Papa! Segue o que ele tem demonstrado em suas manifestações, de absoluta inclusão e aceitação. Outros padres já se manifestaram, mas não era oficial. Claro que isso não revela aceitação ao vínculo homoafetivo, é a aceitação da pessoa, a Igreja faz essa distinção. Mas não dá para deixar de reconhecer que é um avanço."
Maria Berenice Dias, advogada e presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) federal

"Fiquei feliz com a declaração, me surpreendeu. Só pelo fato de não atacar a comunidade gay já ajuda muito. Já me dá uma esperança de que a Igreja possa, futuramente, mudar. Tínhamos o histórico dos papas anteriores, condenando a nossa comunidade. Acho que abre uma porta, uma esperança. A Igreja precisa assumir o debate sobre os direitos da comunidade."
Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT)

"Não é uma mudança do ponto de vista moral, é de ordem pastoral. É extremamente positiva e importante para marcar uma posição, não de ordem normativa, mas de ordem pastoral, de respeito, de confiança. Ele não entra no mérito da questão, mas tem uma postura pastoral, de quem deve acolher as pessoas. Ele quer acentuar esse lado de acolhimento e de compreensão."
Frei Luiz Carlos Susin, professor de Teologia na PUCRS

"Não é que seja novidade o que o Papa disse. É o modo como ele fala. Os outros papas, em geral, quando falam sobre esses assuntos, é por meio de discursos, homilias, um texto previamente estabelecido. O papa Francisco tem inovado nesse sentido. O centro de toda a pregação de Cristo é a pesssoa humana. O Papa está nessa esteira."
Leandro Chiarello, diretor da Faculdade de Teologia da PUCRS

"A gente ficou muito feliz. Na verdade, o que Bergoglio fez foi confirmar o que, há anos, já é a doutrina oficial. Embora a doutrina diga que é preciso acolher o gay com respeito, por parte da hierarquia da Igreja e dos fiéis nem sempre era isso que a gente via. É um contraste com o Papa anterior, que não perdia oportunidade para levantar a bandeira contra os gays."
Cristiana Serra, membro do grupo Diversidade Católica

"A declaração de um papa, dizendo quem é ele para julgar se uma pessoa é gay e procura Deus, já é uma abertura muito grande em termos de reconhecimento como ser humano, sem criar nenhum tipo de julgamento que possa levar a um preconceito. Isso deveria ser tratado com a maior naturalidade. Não acho que se chegue no casamento gay, mas a aceitação aos gays acho que será melhor."
Padre Roberto Francisco Daniel, o padre Beto de Bauru (SP), excomungado pela Igreja Católica por suas declarações sobre temas polêmicos como a relação entre pessoas do mesmo sexo, fidelidade, casamento e necessidade de mudanças na estrutura da Igreja

"A frase é forte se comparada com as posições que o Vaticano sempre teve. Os outros papas não iam nessa linha. Essa posição dele parece abrir a possibilidade de outro entendimento por parte da religião. Acho que influenciará as pessoas que acreditam no discurso da Igreja Católica. Mas será que essa é a posição do Vaticano ou é uma posição mais individual do Papa?"

Célio Golin, coordenador do Nuances - Grupo pela Livre Expressão Sexual

 

"Ele lança a questão a todos nós: quem é ele e quem somos nós para julgar a homossexualidade? O ponto chave nessa declaração é abrir mão da ideia de julgamento da sexualidade humana, seja ela qual for. Ele também diz que não podemos marginalizar as pessoas. Não é mais possível hoje qualquer ideia de marginalização da homossexualidade. Por muitos anos, a Igreja tomou a homossexualidade como pecado, desvio de norma, déficit moral. Ele começa a colocar em cena alguns problemas que até então eram internos da Igreja."

Norton Cezar Dal Follo da Rosa Junior, psicanalista e membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA)

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