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Geral  | 27/07/2013 14h01min

Papa argentino esbanja simpatia e espontaneidade em aparições públicas

Desde que desembarcou no Brasil para sua primeira viagem internacional como Papa, Francisco tem conquistado pelo carisma

Itamar Melo  |  itamar.melo@zerohora.com.br

Na tarde de segunda-feira, quando aguardava no centro do Rio pelo primeiro desfile de Francisco no papamóvel, a bibliotecária de Niterói Maria Alice Ferreira,

54 anos, ofereceu sua análise particular sobre a evolução recente do governo da Igreja:

— João Paulo II era aquela simpatia. Bento XVI tinha lá o jeitão dele, mas era capacitado. Agora, esse papa Francisco não tem explicação. Ele é uma simpatia maior ainda, carismático demais.

Instantes depois, quando o papamóvel assomou na esquina e um Francisco sorridente apareceu, beijando crianças e atiçando a massa ao vibrar como se comemorasse um gol do San Lorenzo, seu time na Argentina, Maria Alice deu uma demonstração prática de sua tese. Perdeu as estribeiras e gritou, emocionada. Perto dela, Paula Arcoverde, 28 anos, que conseguira escapar do serviço para ver o Pontífice, surpreendeu-se com as lágrimas que jorravam e escorriam por seu rosto enquanto o Papa passava.

— Ele é muito fofo! Ele emana amor! — descreveu, as mãos ainda tremendo.

Reações comovidas e exaltadas repetiram-se durante toda a semana, no Rio ou em Aparecida (SP), por onde quer que Francisco passasse. Elas foram definidas como profundas manifestações de fé, mas era difícil distingui-las da atitude de um fã diante do astro da música pop ou do cinema que idolatra.

Na noite de quinta-feira, por exemplo, na acolhida que o Papa fez a cerca de 1 milhão de pessoas na Praia de Copacabana, Lorena Portugal, 14 anos, sustentou por mais de um minuto um grito estridente e agudo, como o de uma beatlemaníaca diante de John Lennon, na hora em que Francisco passou diante dela de papamóvel. Quando ficou a dois metros de Francisco, Lorena não se aguentou:

— O Papa é liiiindoo!

Perto dela, uma mulher havia estremecido só de ver, no telão, o Papa subir no papamóvel e acomodar-se na poltrona branca estofada do veículo.

— Ai, meu Deus, é muita santidade! — exclamou.

Em todos os eventos com o Pontífice, os fiéis submeteram-se a horas de espera, a aglomerações sufocantes e a frio e chuva. Tudo isso para chegar mais perto de Francisco, talvez tocá-lo. Em algumas ocasiões, como a missa na basílica de Aparecida, peregrinos passaram até dois dias dormindo na rua, sobre folhas de papelão, para conseguir a disputada senha de acesso — que os mais influentes tentavam obter por meio de apelos desesperados a integrantes da organização.

Quando o Papa finalmente passava a alguns metros de distância, depois das horas de espera e de sacrifício, vinha uma explosão de histeria, mesmo que estivesse de costas e acenando para o outro lado.

À euforia sucedia um certo desinteresse pelo que vinha a seguir e supostamente deveria ser o ponto alto da programação. Em Aparecida, por exemplo, depois que o Pontífice passou pela multidão, grande parte do público ignorou a missa. Preferiu conversar, telefonar ou até mesmo dormir. Na festa de acolhida em Copacabana, milhares de jovens iam embora no exato momento em que Francisco lia seu discurso no palco. Para essas pessoas, o importante não era tanto o que o Papa tinha a dizer. Era o próprio Papa, mais especificamente a presença física do líder.

— Ele é uma revolução para nós, porque nos sentimos muito próximos dele — dizia, no Rio, o argentino Matías Dittieri, 20 anos, orgulhoso de compartilhar a condição de torcedor do San Lorenzo.

Os que prestaram atenção ao que Francisco disse não ouviram nada de muito diferente do que o papa Bento XVI proclamou no Brasil em 2007. Francisco quase sempre leu discursos preparados com meses de antecedência, decepcionando alguns analistas devido à falta de novidades. O próprio discurso contra as drogas, que gerou manchetes país afora, teve um ar de repeteco: em sua visita ao país, Bento XVI foi a uma fazenda de recuperação de dependentes e também se pronunciou sobre o problema.

Mas que diferença entre as duas visitas papais. Faltou a Bento o que Francisco tem de sobra. Tímido, desprovido de carisma, pouco afeito a improvisações, o Papa alemão desfilou em papamóvel blindado, sentado, exibindo um sorriso tímido e acenando sem jeito. Francisco pediu carro aberto e viajou nele de pé, rindo, gesticulando, parando para beijar crianças e até para tomar chimarrão. Fez piadas, rejeitou qualquer tipo de luxo e esforçou-se para falar não em português, mas em "brasileiro". Provou que a santidade, quando acompanhada de informalidade e bom-humor, arrasta multidões.

ZERO HORA
GABRIEL BOUYS / AFP

Empunhando celulares, máquinas fotográficas e filmadoras, uma legião de fiéis registra os passos de Francisco, que abriu mão de carros blindados para se aproximar do povo
Foto:  GABRIEL BOUYS  /  AFP


 
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