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Geral  | 26/07/2013 23h14min

Papa reza pelas vítimas de Santa Maria

Pontífice pediu que fiéis orem pelos familiares das vítimas do incêndio na boate Kiss

Itamar melo e Paulo Germano, enviados especiais/Rio  |  itamar.melo@zerohora.com.br e paulo.germano@zerohora.com.br

Encerrada a encenação da Via-Crúcis, com a praia de Copacabana apinhada de fiéis, o papa Francisco ressaltou o calvário dos pais que perdem seus filhos e pediu uma oração pelos 242 jovens mortos na tragédia em Santa Maria, em janeiro passado. Mais de 1,5 milhão de pessoas, após breves segundos de reflexão, puseram-se a aplaudir Francisco no evento mais marcante da Jornada Mundial da Juventude até aqui.

O Pontífice, que chegou ao palco de papamóvel, novamente provocando histeria ao atravessar multidões, centrou seu discurso na crucificação de Jesus — imagem frequente na encenação que minutos antes emocionava o público — para ilustrar sofrimentos cotidianos, a corrupção na política e até um mea-culpa em nome da Igreja Católica:

— Na Cruz de Cristo, Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho.

E Francisco seguiu dizendo que, "com a cruz, Jesus se une às famílias que choram a trágica perda de seus filhos, como no caso dos 242 jovens, vítimas do incêndio na cidade de Santa Maria, no começo deste ano".

— Rezemos por eles — convocou o Papa.

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Como na quinta-feira, o Santo Padre voltou a percorrer toda a extensão da praia de Copacabana em seu carro aberto. De uma ponta a outra, ao longo dos quatro quilômetros do percurso, centenas de milhares de jovens espremiam-se dos dois lados dos gradis para vê-lo. O Papa beijou crianças, conversou com fiéis e desceu do papamóvel para cumprimentar cadeirantes. No meio do caminho, uma turma de gaúchos bebia chimarrão e exibia bandeiras do Rio Grande do Sul enquanto aguardava o Pontífice.

Os 207 integrantes da diocese de Novo Hamburgo estão acompanhando os eventos de camarote. Alugaram nove dos 11 andares de um prédio na Avenida Atlântica, de frente para o mar e para os principais eventos da Jornada. Ao custo de R$ 700 por cabeça, arremataram 50 quartos por uma semana e estenderam uma imensa bandeira saudando Francisco na fachada. Quando o Papa passou, o grupo de gaúchos vibrou.

— Papa! Papa! Papa! — gritou Andriele dos Santos, 21 anos, enquanto abraçava e beijava as amigas do grupo, exultante.

Era a segunda vez que ela via o Pontífice no mesmo dia. Pela manhã, quando passeava pela região central, o papamóvel apareceu inesperadamente, em uma área com pouca aglomeração de público.

— Corremos muito atrás dele. Acompanhamos por uns dois quilômetros. Foi fantástico — conta.

Enquanto acompanhavam o papamóvel, Débora Stein, 17 anos, beijou seu terço e o jogou em direção ao papamóvel. Um segurança apanhou-o no ar e depositou-o ao lado de Francisco.

— Ganhei esse terço cinco anos atrás, quando entrei no CLJ (Curso de Liderança Juvenil). Sempre que passava pela catedral, rezava esse terço. Ele era muito importante para mim, e agora está com o Papa. É como se todas as minhas orações estivessem com Francisco, para que ele as leve a Cristo — disse Débora.

Quando o Papa chegou ao altar, os jovens lotaram pelo menos três dos quatro quilômetros de areia para assistir à encenação da Via-Crúcis nos telões. Para a maior parte deles, o palco era só um pequeno ponto luminoso à distância, recortado contra o Pão-de-Açúcar. Alguns deitaram na praia, outros sentaram e houve até um grupo de argentinos que improvisou aconchegantes sofás de areia.

Habituada ao Réveillon de Copacabana, Isabella da Rocha, 13 anos, estava impressionada com o que via:

— No Réveillon é muita gente, mas hoje (sexta-feira) tem mais.

A adolescente foi na noite desta sexta-feira a Copacabana com uma tiara sobre a qual afixou duas bandeiras do Brasil. Um hermano abordou-a e pediu que trocasse uma delas pelo estandarte argentino. Isabella topou.

— Sempre dizem que o argentino e o brasileiro nunca estão amigos, mas com esse Papa a gente se uniu. Eu fiz muita amizade com argentinos e até recebi convites para ir a Buenos Aires. Se a minha mãe deixar, eu vou — contou a garota.

Depois que o sol se pôs, um grupo de meninas de Maringá (PR) circulava entre os jovens empunhando lanternas acesas. Buscavam peregrinos de locais insólitos para trocar presentes e perfis de Facebook. Ofereciam chaveiros e pulseiras de santos brasileiros e recebiam em retribuição broches, terços e pins. Bianca Madrona, 16 anos, conseguiu encontrar até uma freira da Islândia no meio da multidão. Em inglês, convenceu a religiosa a assinar uma bandeira do Brasil que já tinha rabiscos em várias línguas, alguns deles em caracteres japoneses.

— Todos têm uma lembrancinha para dar. Eles dizem que estão adorando os brasileiros — relata Bianca.

A fala do papa Francisco:

"Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem gritar. Sobretudo, os inocentes e os indefesos. Com a cruz, Jesus se une às famílias que se encontram em dificuldades e que choram a trágica perda de seus filhos, como no caso dos 242 jovens, vítimas do incêndio na cidade de Santa Maria, no começo deste ano. Rezemos por eles."

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