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Geral  | 25/07/2013 08h39min

Apesar de diferenças culturais, jovens de todo o mundo se unem pela fé no Rio de Janeiro

Milhares de participantes da Jornada Mundial da Juventude estão hospedados em colégio carioca

Paulo Germano, do Rio de Janeiro  |  paulo.germano@zerohora.com.br

Quinze minutos antes da catequese, às oito da manhã, quem sobe ao palco é a turma da Suíça: um garoto loiro pega o violão, ergue os olhos para o auditório e improvisa uma melodia arrastada enquanto seus conterrâneos, sentados na plateia, acompanham com timidez a cantoria. A coisa vai mal, ninguém se empolga — até que o grupo de Ruanda resolve dar uma força.

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Os africanos sacam um bongô no fundo do auditório. Levantam-se das cadeiras sorrindo, os dentes cintilando de tão brancos, e aprendem na hora a letra da música, que já ganha outro vigor com aquele balanço negro. O loirinho do palco arregala os olhos com o salão inteiro cantando — e a delegação do Suriname é a única de boca fechada enquanto todos, em francês, repetem:

— Quando olho para você, eu penso: “Como não louvar a Deus?”

Não que o pessoal do Suriname seja antipático, pelo contrário. É que eles têm uma fixação por palmas. Se você assistir ao vídeo (abaixo) que a reportagem gravou no Colégio Notre Dame Ipanema — uma das instituições que hospedam 180 mil peregrinos durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) —, verá do que os surinameses são capazes batendo palmas.



Um deles bate no tempo certo, o outro vai no contratempo, um terceiro bate duas vezes e breca uma, enquanto outro bate uma e breca duas. Eles se concentram nas palmas, gostam disso e todos aprovam.

— Isso aqui é fantástico porque, embora sejamos todos de uma só religião, é incrível como a mesma doutrina se manifesta nas diferentes culturas — resume o surinamês Simson Reginald, 18 anos, um dos hóspedes do Notre Dame.

Com ordem, sem álcool

É essa atmosfera que colore o Rio de Janeiro desde segunda-feira, quando a Jornada dava seus primeiros passos com o papa Francisco chegando ao país: as ruas da cidade, o calçadão de Norte a Sul, o Arpoador, o Cristo Redentor, os restaurantes, tudo serve de palco para uma profusão de diferenças em busca do mesmo rumo.

— Todos queremos o céu — resume a estudante de Ituiutaba (MG) Carolline Muniz, 22 anos.

No Notre Dame, depois da cantoria no auditório, os fiéis assistiriam ali mesmo à palestra do bispo francês Dominique Iebrun, um dos expoentes da catequese europeia.

As 70 salas de aula e o ginásio do colégio, naquele momento, estão ocupados apenas pelos 1,3 mil sacos de dormir onde os peregrinos vêm passando as noites — divididos, obviamente, em uma ala para homens e outra para mulheres. Não há notícias de escapadelas noturnas nem de qualquer fuzarca fora de hora.

A irmã Araci Maria Ludwig, diretora administrativa da escola, diz que “a ordem se mantém porque são pessoas com princípios de respeito”. De fato, se existe algo em comum entre eles — além da ambição pelo Céu — é a preservação da ordem.

Na terça-feira à noite, quando milhares de fiéis deixaram a praia de Copacabana após a missa de inauguração da Jornada, dezenas (em alguns casos, até uma centena) de jovens caminhavam pelas ruas de mãos dadas para que ninguém se perdesse no caminho de retorno aos alojamentos.

— Nunca vendi tão pouca cerveja na vida — queixava-se o ambulante João Peixoto de Melo, que só faturou com refri.

— Somos um grupo sadio. Não vi ninguém beber até agora — confirma a irlandesa Barbara Nolan, de 20 anos.

Todos os 355 mil inscritos na Jornada Mundial da Juventude receberam oito passagens de ônibus por dia, além de vales-refeições e um kit com camiseta e mochila. Portanto, eles se misturam à população carioca ao procurar os programas que o evento oferece — são filmes religiosos, shows de bandas cristãs, reuniões de oração, apresentações de teatro e dança, tudo em diversas zonas do Rio.

Embora boa parte dos peregrinos seja de classe média, há muitos casos como o de Gino Rosenblad, 28 anos, do Suriname, cuja paróquia passou dois anos arrecadando fundos com festas e rifas para bancar a viagem dos fiéis.

— A Igreja se sente na obrigação de ajudar pessoas sem muito dinheiro, porque nós queremos uma formação espiritual, queremos ser missionários — afirma Gino, interrompendo o show de palmas que acompanhava o rapaz da Suíça.

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