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Geral  | 23/07/2013 00h18min

Papa emociona fiéis e deixa mensagem a peregrinos: "Cristo bota fé nos jovens"

Assédio da multidão pelas ruas do Rio de Janeiro foi respondido com sorrisos largos pelo Pontífice

Atualizada às 10h13min Itamar Melo, Enviado Especial/Rio de Janeiro  |  itamar.melo@zerohora.com.br

O Rio de Janeiro recebeu na tarde de segunda-feira, com uma acolhida calorosa, a primeira visita de um papa latino-americano ao seu continente de origem. Francisco chegou a ser cercado pela multidão, que impediu o avanço de seu veículo, mas não se retraiu. Devolveu o carinho dos peregrinos reunidos para a Jornada Mundial da Juventude com gestos e sorrisos largos. Em encontro com a presidente Dilma Rousseff, o Papa anunciou:

– Não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo.

Como um visitante educado ao entrar na casa do anfitrião, o papa Francisco dirigiu-se ao Brasil, em sua primeira declaração no país, pedindo licença.

– Peço permissão para entrar e passar esta semana com vocês.

>> Leia todas as notícias sobre a vinda do Papa

No pronunciamento de 10 minutos, lido em português com sotaque espanhol, o Pontífice argentino pediu que os jovens católicos evangelizem as nações. Um dos maiores desafios da Igreja no Brasil – e em toda a América Latina – é frear a redução no número de católicos e a perda de espaço para crenças evangélicas. Francisco disse que veio à Jornada Mundial da Juventude para se reunir com jovens de todo o mundo “atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor”.

– Esses jovens falam línguas diferentes, mas encontram em Cristo as respostas para as mais altas e comuns aspirações. Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa. Também os jovens botam fé em Cristo: não temem arriscar a única vida que possuem, pois sabem que não serão desiludidos – declarou o Papa, que na maior parte do tempo manteve o sorriso nos lábios, apesar do cansaço de mais de 14 horas de viagem desde Roma. E esbanjou simpatia:

– Eu aprendi que, para termos acesso ao povo brasileiro é preciso entrar em seu grande coração. Então, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta dos corações dos brasileiros.

Primeira a falar na cerimônia no Guanabara e também bastante sorridente, a presidente Dilma fez referência às manifestações que ocorreram nas ruas do país e admitiu que “ainda há muito a ser feito”:

– Democracia gera desejo de mais democracia. E inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social. Qualidade de vida desperta anseios por mais qualidade de vida. Para nós todos, os avanços que conquistamos são só um começo.

Do lado de fora do palácio, manifestantes queimaram um boneco representando o governador Sergio Cabral. Houve confusão após a saída do Pontífice, e duas pessoas acabaram presas. No Largo do Machado, outro grupo realizou um beijaço gay em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória. “Papa eu abro mão, quero mais dinheiro para saúde e educação”, dizia um cartaz protestando contra gastos públicos com a vinda de Francisco ao país. O Papa não tem agenda pública prevista para o dia de hoje.

>> Acompanhe o trajeto que o Papa irá percorrer em sua passagem pelo Brasil


Nos braços do povo

O Papa que proclama a necessidade de aproximar a Igreja do povo tomou um banho de povo nas ruas centrais do Rio de Janeiro. Milhares de pessoas lotaram calçadas, gramados, passarelas, sacadas de edifícios e até galhos de árvores para ver a passagem do Pontífice no papamóvel. Encontraram um Francisco que não se limitava a sorrir, mas que ria com gosto e até gargalhava. Que não acenava apenas, mas que gesticulava e mexia os braços freneticamente, como a incitar a efusão popular.

O contato direto do Papa com o povo começou ainda antes de ele subir no papável e foi impressionante. No trajeto de carro entre o aeroporto e o Centro, a população e os peregrinos não se contiveram e avançaram sobre o veículo várias vezes. O carro mal conseguia avançar, colocando em desespero os seguranças que faziam a escolta.

Na Avenida Presidente Vargas, a pouca distância do Centro, veio o momento mais tenso e eletrizante. O automóvel de Francisco ficou entalado entre ônibus e carros, e a massa aproveitou para cercá-lo e impedir sua progressão. Se houvesse intenção de violência, como temiam as autoridades, aquele seria o momento perfeito. Mas o povo queria apenas estar perto e tocar o Papa. E ele não se retraiu. Sentado no banco traseiro, com a janela aberta, abençoou e beijou um bebê. Era Miguel, sete meses. Minutos depois, no mesmo lugar (a esquina das Avenidas Almirante Barroso e Rio Branco), o menino era cercado por curiosos e fiéis que se revezavam em fotografar e carregar a criança. Após a passagem, os pequenos Júlia e Lucas, de 10 e sete anos, se divertiam com a repentina atenção atraída pelo irmão.

Às 17h, mais de uma hora depois de desembarcar no Rio, Francisco finalmente conseguiu subir no papamóvel, à espera na catedral do Rio, para um trajeto no centro da cidade, onde a multidão o aguardava havia horas. À medida que o Papa se aproximava em meio a corredores de gente, a população explodia em um alarido ensurdecedor.

Paula Arcoverde, 28 anos, que nesta semana vai trabalhar todos os dias com a camiseta da Jornada Mundial da Juventude, implorou ao chefe para ser liberada do serviço mais cedo e desceu do escritório para a rua a tempo de ver o Papa a poucos metros de distância. – Lágrimas correram sem eu nem sentir. É tão forte que não dá para expressar em palavras. Ele é muito fofo, muito simples, e isso passa para a gente. Não tem jeito, ele emana amor – derramava-se Paula.

“Salve o Santo Padre”, gritavam peregrinos

Foi a primeira vez que um Pontífice desfilou em papamóvel aberto fora de Roma em mais de 30 anos, mas Francisco não parecia preocupado. Durante o trajeto de meia hora, pediu várias vezes que o veículo parasse para cumprimentar fiéis, apertar mãos estendidas e beijar várias crianças. – Francisco! Francisco! Salve o Santo Padre! – gritavam os peregrinos.

A voluntária da Jornada Maiara Souza da Silva, de 27 anos, estava a dois metros do Papa, na Avenida Graça Aranha, quando ele ordenou ao motorista que freasse e chamou com um gesto de mão uma mãe que carregava um bebê ao colo.

– Cheguei a um metro e ouvi ele abençoando a criança “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Meu coração está batendo rápido até agora, tenho um arrepio no meu corpo e sinto vontade de chorar sem parar. Não consigo esquecer o rosto do Papa. Deu para perceber que ele quer o calor do povo – contou Maiara, enquanto mostrava a foto de Francisco batida à queima-roupa.

O seminarista de Natal José Rodrigues, 23 anos, escalou a parede de um prédio para conseguir ver o Papa. Ao lado dele, também pendurado, um argentino focou a câmera gritou:

– Mirá, Francisco! Mirá!

Quando voltou-se para onde a dupla estava e acenou, a comoção foi tão grande que os dois desconhecidos descobriram-se fundidos em um abraço. Rodrigues não se conteve e saiu correndo atrás do Pontífice por todo o percurso de meia hora. Dezenas de jovens fizeram o mesmo, ensandecidos, eufóricos, alguns em lágrimas, outros levando escadas sob os braços para enxergar melhor.

– Dei toda a volta atrás dele e vi que estava muito feliz, com um sorriso acolhedor. Ele gesticulava como se estivesse comemorando um gol. Foi a maior inspiração que tive na minha vida – relatou o seminarista.

O que mais entusiasmou os fiéis foi o gestual caloroso e o desejo de interagir de Francisco. O servidor público Joadir de Moura, 61 anos, testemunhou a visita de João Paulo II, há mais de três décadas, e afirma que a vibração de ontem foi muito maior:

– Não tem nem comparação o calor humano. Esse papa é muito do povo. Eu me emocionei. Dava vontade de sair correndo atrás do papamóvel também.

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