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Geral  | 09/07/2013 05h33min

Raio X aponta carências no Corpo de Bombeiros de Porto Alegre

Das 13 unidades da corporação, oito estão habilitadas para operar em toda a cidade

José Luís Costa  |  joseluis.costa@zerohora.com.br

Labaredas começavam a engolir parte do segundo piso do Mercado Público de Porto Alegre, sábado à noite, enquanto bombeiros tentavam, em vão, abrir um hidrante próximo à prefeitura.

Uma peça interna estava quebrada, possivelmente por um ato de vandalismo, e não funcionou. Em meio ao tumulto, um bombeiro lembrou que a antiga estação Mauá, quase ao lado da prefeitura, desativada havia dois anos, tinha um hidrante que poderia ser usado. Um portão de ferro foi arrombado, uma mangueira foi conectada ao equipamento e logo a água jorrou para ajudar a debelar as chamas que consumiriam 10% do prédio.

Saiba mais:
>Veja o mapa das estações da Capital
> Leia todas as notícias sobre o incêndio no Mercado Público

O episódio é um exemplo de como o 1º Comando Regional de Bombeiros (1º CRB), enfrenta incêndios em Porto Alegre.

— Se ainda existisse a estação Mauá e duas escadas mecânicas estivessem a nossa disposição, quem sabe, teríamos diminuído a área atingida pelo fogo — lamenta o major Rodrigo Dutra, subcomandante do 1º CRB, e coordenador do núcleo de oficiais bombeiros da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (Asofbm).

Das 13 estações de combate a incêndio previstas para a Capital, 10 estão em atividade, mas apenas oito são habilitadas para operar em toda a cidade (a estação Mauá foi fechada, duas existem apenas no papel, uma só atende ao aeroporto, e outra, dependendo de horários, pode, no máximo, servir de apoio). O quadro de pessoal sofre com um déficit de 31,1%, considerando o efetivo previsto pela Brigada Militar. Se levar em conta estimativas internacionais, a crise de pessoal chega a 50%. Um dos problemas mais graves é a falta de uma equipe especializada em lidar com acidentes com produtos químicos ou radiológicos.

Em termos de equipamentos, as oito estações operacionais contam com 10 caminhões de combate a incêndio — a maioria com mais de 15 anos de uso, passando boa parte do tempo em oficinas. O necessário seria, pelo menos, o dobro. O 1º CRB dispõe de uma escada mecânica (Magirus), quando o mínimo necessário seriam quatro.

Risco de ações no Guaíba

Outro equipamento que ajudaria a garantir a segurança na Capital seria uma lancha-bomba, com capacidade de sucção de água do Guaíba.

— Existem navios que atracam no porto, e há ainda o Catamarã. Se acontece um incêndio com essas embarcações, só temos um bote salva-vidas — afirma o major.

O 1º CRB chegou a ter duas lanchas, fabricadas nas décadas de 20 e 30, em uso até 1996, ano do incêndio no Edifício Cacique, até então, o último grande incêndio na Capital:

— Na época, a estrutura até era melhor. A situação atual é preocupante. Este ano, tivemos ocorrências graves no Estado, com repercussão mundial. Temos apenas um trunfo que é a qualificação humana. O pessoal é bem treinado e faz milagres.

O presidente da Associação de Bombeiros do Rio Grande do Sul (Abergs), Ubirajara Ramos, acrescenta:

— Temos dedicação profissional e uma estrutura amadora.

Separação da corporação é analisada pelo Piratini

Debatida há décadas, a desvinculação do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar (BM) está de novo em discussão. E, desta vez, com mais ênfase. Há cerca de dois meses, o Conselho Superior da BM — formado pelos coronéis da ativa, a elite da tropa — indicou que a separação seria o melhor caminho a ser seguido pela corporação. No dia 2 de julho, Dia Nacional do Bombeiro, um projeto gestado pelo comando-geral da Brigada foi encaminhado para análise da Casa Civil, no Palácio Piratini.

O projeto prevê autonomia administrativa e financeira para os bombeiros, embora ainda sob a tutela da BM.

— É um avanço, início da separação — analisa a deputada estadual, Miriam Marroni (PT), estudiosa do assunto.

Apenas no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo e na Bahia os bombeiros são braços das polícias militares. O porta-voz do comando-geral da BM, tenente-coronel Eviltom Pereira Diaz, evitou comentar detalhes do projeto.

Sobre a estrutura dos bombeiros na Capital, Eviltom afirmou que as deficiências são históricas. Lembrou que estão sendo adquiridos três carros e uma auto plataforma — caminhão com um braço conectado a um cesto, no qual um bombeiro pode se aproximar de áreas em chamas a uma altura de até 80 metros.

O mapa da precariedade no Corpo de Bombeiros, em Porto Alegre

Efetivo
Previsto: 511 bombeiros, conforme cálculo da Brigada Militar
Existente: 352 bombeiros
Déficit: 31,1%

Quarteis
Existente: 10 unidades operacionais
Ideal: 13 quarteis é considerado número suficiente para atender à demanda da Capital
Déficit: 23,1%

Efetivo por estação
Existente: entre 15 e 20 em média em cada estação
Ideal: 36 bombeiros, entre atendentes, motoristas e combatentes operacionais, além de dois caminhões-tanques (um reserva)
Déficit: 58,3% e 44,4%

— Proporcionalmente, existe um bombeiros para cada 4 mil habitantes
— Segundo norma da entidade americana NAFP (sigla em inglês de Associação Nacional de Proteção a Incêndio), a proporção mínima é de um bombeiro para cada 2 mil moradores. Por essa regra, a Capital deveria 704 bombeiros, defasagem de 50%.

O que ainda é necessário
— Pelo menos quatro escadas ou plataformas mecânicas (para atender as regiões Sul, Norte, Leste e Oeste)
— Uma lancha-bomba para atuar em eventuais incêndios em embarcações no Guaíba.
— Uma equipe de 30 bombeiros especialistas em combate a incêndios e acidentes com produtos químicos, bacteriológicos, radiológicos e nucleares

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