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Geral  | 08/07/2013 19h09min

Curiosos e clientes conferem estragos e compartilham lembranças do Mercado Público

Com as bancas fechadas nesta segunda-feira, primeiro dia útil após o incêndio, prédio histórico é observado de longe

Atualizada às 19h09min Larissa Roso  |  larissa.roso@zerohora.com.br

No primeiro dia útil após o incêndio, uma cerca plástica rodeando o prédio afastava os curiosos e orientava a caminhada de quem precisava circundar o Mercado e não podia chegar à calçada. A entrada da Avenida Borges de Medeiros concentrou os observadores, que compunham uma amostra da mistura de gente que costuma povoar o Centro. Uns interessados apenas em comparar as imagens transmitidas ao vivo pela TV, no sábado, com o estrago real, outros improvisando um inventário de afetos e memórias no meio da rua. 
– Achei terrível aquele fogaréu levantando tudo para o céu. Pensei: lá se foi o nosso patrimônio – conta o porteiro Jorge Fagundes da Silva, 70 anos, que em 1968 trabalhou como pintor no edifício histórico. – Pego às 11h. Hoje vim antes para olhar e lembrar do tempo antigo – justifica o empregado de um restaurante na Vigário José Inácio, uma hora antes do início do expediente. 
Parado ao lado, Alberto Flores, 74 anos, corta o relato do desconhecido para informar que não deveria opinar sobre o tema. Não é pelo risco de se emocionar e ser flagrado em lágrimas, é porque se exaspera com as irresponsabilidades.
– Me enervo! Por que estudam se não executam? Cadê a ética? E os engenheiros? Tudo aqui funciona na base da burrice – acusa o projetista hidrossanitário.

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Os passantes esboçam teorias para as causas do fogo, arriscam percentuais sobre a porção total avariada pelas chamas, lamentam a falta de equipamentos do Corpo de Bombeiros. Muitos tiram fotos – duas meninas posam para um clique forçando uma expressão consternada, a boca curvada para baixo. A advogada e designer de moda Tatiane Ferrari, 37 anos, capta uma imagem para postar no Instagram e mal consegue falar, chorando bastante, as mãos trêmulas:
– É muito triste.
O incidente revolveu lembranças e também atrapalhou os hábitos de quem ordena a rotina da casa a partir das compras nas sortidas bancas do Mercado. A recepcionista Gelci Ferreira Araujo, 53 anos, não sabe se mantém o convite aos amigos que saboreariam um mocotó no próximo sábado, alegando desconhecer outro local que venda pata, tripa, mondongo e feijão branco de qualidade. Também atento ao vaivém dos funcionários, que retiravam tortas, pães, grãos e frutas secas para serem armazenados fora dali até a reabertura das lojas, Catarino Munhoz de Camargo, 80 anos, pensava de onde tirar as porções de guisado de segunda e pés de galinha – "sem a canela" – que engrossam o arroz de Piti, Alan e Tati.
– Esses cachorros são mais bem tratados do que o dono deles – diverte-se o aposentado, frequentador do Mercado desde 1956. – Tá brabo. Eu achava que tinha sido menos coisa. Quanta gente desempregada, né? – avalia, mirando o segundo pavimento.
Henriqueta Duarte, 64 anos, deteve-se por alguns minutos diante do portão, antes de seguir para o culto do meio-dia em uma igreja próxima. Tentava localizar lá dentro o caçula, balconista, morador do Jardim Leopoldina que costuma levantar às 4h30min. Queria saber se estava tudo bem, se ele permaneceria na vaga depois do acontecido. Hoje aposentada, Henriqueta trabalhou na padaria Copabacana, por 16 anos, como auxiliar de serviços gerais. Partiu planejando encomendar uma oração aos pastores:
– Vou pedir para ver se melhora isso aí.

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