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Geral  | 08/07/2013 06h02min

As últimas horas do Mercado Público antes do incêndio

O sábado havia sido movimentado, alegre e lucrativo no local símbolo de Porto Alegre

Paulo Germano  |  paulo.germano@zerohora.com.br

Que dia espetacular seria aquele: primeiro sábado do mês, a clientela com dinheiro no bolso, temperatura aprazível. Rodrigo Tomasel, sócio do restaurante Nova Vida, saltou entusiasmado da cama. Aliás, sábado é sempre um grande dia — as pessoas visitam o Mercado Público para comer, passear, gastar, não apenas para cruzar corredores em busca da estação de trem ou do terminal de ônibus. É outro tipo de movimento, menos apressado, mais risonho.

— Um típico sábado feliz de inverno — recorda Tomasel.

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E foi assim até o fim do expediente, às 18h30min. O Nova Vida vendia sanduíches de mortadela sem parar enquanto a loja de aquários Stanivet, no primeiro piso, recebia crianças embasbacadas com os peixinhos ornamentais. Só que aqueles peixes, ao contrário das poucas pessoas que restariam no prédio, não conseguiriam fugir mais tarde. Ainda assim o gerente da loja, Paulo Roberto Niada, mesmo sem saber do fogaréu que invadiria o Mercado, empenhava-se em protegê-los.

— Esse peixe aqui, o Betta, você pode levar para casa no saquinho plástico, mas ele só aguenta umas oito horas. Depois, pode até morrer — ensinou Niada a uma menina de Pelotas que voltaria à sua cidade no fim da tarde.

Aconselhada pelos pais, a garota disse "já volto, tio" e prometeu retornar à loja dali a duas horas, após um sorvete na Banca 40. E o dia foi avançando, as horas de horror se aproximavam com os proprietários da Banca 11 combinando um churrasco para o início da noite. Chamaram três funcionários para acompanhá-los no pior convescote possível.

Jorcir Rodrigues de Almeida, rodeado por familiares e convidados, salgava a carne em casa às 20h. No mesmo horário, no Mercado, restava o pessoal da faxina limpando os resíduos de um dia lucrativo — e mais um ou outro lojista trocando lâmpadas, conferindo estoques. Só se ouviam o esfregar dos trapos no chão, o eco de algumas vozes, o som de portas de ferro fechando. Tudo quase na penumbra.

Até que, pela primeira vez naquele dia, o Mercado se perturbou: as faxineiras, no centro do térreo, iniciaram uma gritaria quando avistaram uma labareda se imiscuindo entre as telhas, no segundo andar. Três delas saíram correndo, outras ainda permaneceram, incrédulas. No churrasco dos funcionários da Banca 11, a filha de Jorcir logo viu uma foto, no Facebook: o incêndio era violento.

— Meu Deus, o Mercado está pegando fogo, está queimando tudo — gritava Jorcir, já chorando, enquanto assistia às imagens na televisão.

Enquanto o Mercado ardia, continuaram lá dentro apenas os peixes da Stanivet. O gerente passou a noite em desespero — só na manhã de ontem lhe permitiram entrar na loja. Morreram uma carpa e 11 peixes Betta. O 12º se salvou porque a menina havia voltado para comprá-lo após o sorvete.

ZERO HORA
Carlos Macedo / Agência RBS

Sujeira e restos de móveis empilhados revelam parte do estrago causado pelo fogo nos restaurantes do segundo piso
Foto:  Carlos Macedo  /  Agência RBS


 
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