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Geral  | 22/06/2013 05h02min

Fases e personagens que compõem o padrão dos atos em Porto Alegre

Itamar Melo e Marcelo Monteiro  |  itamar.melo@zerohora.com.br, marcelo.monteiro@zerohora.com.br

Os atos ocorridos em Porto Alegre na segunda e na quinta-feira revelaram um mesmo padrão — semelhantes a outros protestos pelo Brasil — com três momentos bem distintos. Também evidenciou-se a existência de participantes com perfis diversos, que desempenham um papel singular em cada uma das fases da manifestação. Entenda como funciona.

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1) A CONCENTRAÇÃO

O primeiro momento dos protestos é um ato no Paço dos Açorianos, diante da prefeitura de Porto Alegre. Este tem sido o lugar estabelecido, via Facebook, para o encontro da multidão. A escolha do local está relacionada com a pauta original do movimento: a queda da tarifa do transporte público.

Nos primeiros protestos, houve depredação e violência no local, mas depois da massificação das manifestações os atos diante da prefeitura se tornaram marcadamente pacíficos.

A massa pacífica

Diante da prefeitura, o protagonista é uma multidão apartidária, formada em sua maioria por jovens. Eles se esforçam por preparar cartazes criativos, pintam o rosto de verde e amarelo e condenam qualquer manifestação partidária durante o protesto. Há euforia nesse grupo. Os jovens mostram-se orgulhosos por estar na rua e comentam entre si que estão fazendo história.

Os militantes

No meio da massa, há integrantes de partidos, entidades estudantis e outros grupos políticos organizados. Levam bandeiras e faixas. Os que carregam estandartes de partidos são hostilizados pela multidão e criticados por oportunismo. Na segunda-feira, bandeiras do PSTU e do PSOL foram vaiadas. Na quinta, os militantes estavam de novo lá, mas sem as bandeiras.

Entre os militantes, muitos desconfiam da massa. Os militantes tentam direcionar o protesto para algumas causas de sua predileção — propagandeadas em suas faixas.

Os violentos

Esse grupo é formado por centenas de pessoas que se infiltram na manifestação com o objetivo de entrar em confronto com a polícia, promover quebra-quebra e saquear. Durante a concentração, mantêm-se discretos. Alguns ostentam bandeiras e símbolos do anarquismo. Outros são criminosos que querem tirar proveito do caos. Além disso, há militantes políticos que têm feito a apologia da violência.

2) A MARCHA

Depois da cantoria e das palavras de ordem diante da prefeitura, chega a hora de seguir para algum lugar. Como não há líderes reconhecidos, a definição de um roteiro é complicada e gera embates. Durante a marcha, os manifestantes pedem o apoio das pessoas que trabalham e moram ao longo do trajeto. É quando panos brancos tremulam nas janelas e as luzes piscam.

Os militantes

Na marcha, o protagonismo é deles. O esforço é para direcionar o roteiro. Como há entidades distintas, ocorre uma disputa para definir quem lidera. Na quinta, uma facção queria seguir para o Piratini e outra para a ZH. Por causa do impasse, a multidão ficou meia hora parada. Por fim, dividiu-se em duas.

Os militantes são experimentados. Utilizam técnicas para controlar a multidão: criam cordões de isolamento e trocam orientações. No último protesto, fizeram todo mundo abaixar-se na Júlio de Castilhos ao propagar que quem ficasse de pé era a favor do aumento da tarifa. Assim, conseguiram trazer suas faixas para a frente e assumir o controle. Na quinta, venceu o grupo que queria seguir até a Zero Hora. Os que miravam o Piratini revoltaram-se, acusando os adversários de "sabotadores".

Os violentos

Os depredadores começam a aparecer no transcurso da marcha. Dezenas deles colocam-se alguns metros à frente da multidão, sem respeitar a linha demarcada por militantes. Assim, têm espaço para agir. Na segunda, começaram as depredações na Avenida João Pessoa, no momento em que deixaram o Centro: picharam, depredaram estabelecimentos comerciais, danificaram contêineres e ofenderam cidadãos de uma ponta a outra da via. Na quinta-feira, alteraram a estratégia: como o objetivo — apurado pelas autoridades e admitido por militantes radicais — era depredar o prédio de ZH, controlaram-se durante o roteiro na esperança de que a BM lhes franqueasse o acesso à sede do jornal.

A massa pacífica

A grande maioria segue a reboque, formando uma multidão que se estende por centenas de metros. Para muitos, é uma evento social: vê-se gente bebendo vinho e cerveja ou fumando maconha. Alguns que estão na parte da frente revoltam-se com os atos de vandalismo e intervêm, em alguns momentos entrando em conflito com os violentos.

3) CONFRONTO E QUEBRA-QUEBRA

É o momento mais tenso da manifestação e ocorre no final. Geralmente com rostos cobertos e utilizando paus e pedras, vândalos realizam depredações, incêndios e saques pela cidade.

Os violentos

Esta é a fase do protesto em que os violentos tornam-se os protagonistas. Na chegada à Avenida Ipiranga, quinta-feira, eles estão com os rostos cobertos para não ser identificados e retiram da mochila pedras e coquetéis molotov. Seguem direto para o lado da Ipiranga onde fica o prédio de Zero Hora e entram em confronto com a polícia.

Depois da repressão policial, vão recuando pouco a pouco, sempre mantendo o combate com os policiais, que avançam vagarosamente. Enquanto recuam e a manifestação se dispersa, promovem depredações, incêndios e saques pela cidade.

Os militantes

Na marcha de quinta-feira, os militantes concentraram-se com suas faixas e bandeiras no lado da Avenida Ipiranga oposto ao prédio de ZH. A aglomeração de gente era muito maior ali do que do outro lado. Quando os policiais começam a agir, as consequências são sentidas por esse grupo. Como resultado da fuga, provocada pelo arremesso de bombas de gás, as faixas dos militantes ficaram jogadas na pista da Ipiranga.

A massa pacífica

Como o grande contingente pacífico está dezenas ou centenas de metros atrás da vanguarda da marcha, o que eles encontram é uma cena de guerra já instalada quando chegam ao local do confronto. Diante do conflito, muitos concluem que a BM provocou o confronto e se revoltam. A partir desse momento, o caos está instalado. Algumas pessoas choram e muitas vão embora.

Os grupos

Mobilização de esquerda

> Militantes de partidos de esquerda (PSTU e PSOL), sindicalistas (bancários, trabalhadores dos Correios, entre outros), estudantes (membros dos Diretórios Centrais de Estudantes da UFRGS e da PUCRS), organizações apartidárias de esquerda (coletivos), anarquistas e membros de movimentos sociais e do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

> A mobilização resultou na criação do Bloco de Luta pelo Transporte 100% Público.

> A primeira manifestação, que inspiraria outros protestos semelhantes Brasil afora, aconteceu em 27 de março.

Massa heterogênea

> Depois do primeiro protesto em São Paulo, repelido com violência pela Polícia Militar, os novos atos em Porto Alegre e em outras cidades passaram a incorporar mais pessoas e de vertentes ideológicas cada vez mais distintas.

> A massa de ativistas foi engrossada por mais outros movimentos sociais, incluindo grupos de defesa de minorias (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, feministas, negros e indígenas).

> Juntaram-se aos manifestantes categorias diversas como punks, skatistas, skinheads, evangélicos, segmentos conservadores e outros radicais de direita.

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