O advogado Jader Marques, que representa o sócio da boate Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, afirmou nesta manhã em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, que as fotos que circulam nas redes sociais mostrando o uso de artefatos pirotécnicos no interior da casa noturna foram feitas fora do horário de festas.

— É passado como se a todo momento houvesse fogo lá dentro — reclamou o advogado.

Marques explicou ainda que a imagem compartilhada pelo delegado Marcelo Arigony no Facebook que mostra pirotecnia dentro da boate também foi feita fora do horário de funcionamento, durante a gravação de um vídeo para merchandising de uma empresa de bebidas. O advogado voltou a afirmar que nunca houve fogo nas apresentações da banda Gurizada Fandangueira.

— Certamente a dor é tão forte que realmente quando a gente olha para o dono da boate é natural que tenhamos contra ele os piores sentimentos — concluiu Marques.

O Gaúcha Atualidade reproduziu um trecho da entrevista com o empresário gravada no hospital — que não foi ao ar na noite de domingo no Fantástico — em que Kiko afirma ter liberado a saída dos clientes assim que ouviu as pessoas gritando que havia fogo na boate. Ele estava entrando novamente no prédio depois de ter resolvido um problema envolvendo um cliente embriagado do lado de fora. O empresário relatou que voltou ao interior da Kiss para procurar a namorada, que está grávida.

— Algum tempo depois, consegui ver a minha namorada, vi que ela estava bem. [...] Depois começamos a quebrar paredes aonde eu sabia que tinha janelas. Fomos com as mãos mesmo. Usei todas as forças que eu tinha. O que deu para fazer a gente fez — disse no vídeo gravado por celular pelo advogado.

Kiko reforçou que, quando virou sócio da boate, o empreendimento existia há um ano e já contava com todos os alvarás e licenças necessários.

— Na última vistoria, na vistoria que eu participei, me foi indicado pelos bombeiros uma empresa chamada Hidramix, que era de um antigo colega deles e ia me dar toda a assistência que eu precisava. [...] Tudo o que foi solicitado, eu troquei de acordo com o que me pediram.

Clique na imagem e confira o perfil das 237 vítimas

Como aconteceu

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 237 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considerada a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.

Em gráfico, entenda os eventos que originaram o fogo:

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A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com a Polícia Civil, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver o antes e o depois da danceteria:


A festa

Chamada de "Agromerados", a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia.

Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas "Gurizadas Fandangueira", "Pimenta e seus Comparsas", além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.