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Geral  | 04/02/2013 05h11min

Funcionário da Kiss que ajudou na obra admite ter medo de sofrer represálias

Erico Paulus Garcia, hoje importante testemunha do desastre, falou com exclusividade a Zero Hora

Carlos Wagner e Lizie Antonello  |  carlos.wagner@zerohora.com.br, lizie.antonello@diariosm.com.br

Erico Paulus Garcia, 21 anos, técnico em radiologia, professor de artes marciais e barman da Kiss é hoje uma importante testemunha da tragédia que está ajudando a Polícia Civil na reconstituição do que aconteceu naquela noite. Graças à colaboração dele, os agentes estão conseguindo entender como era o cotidiano do estabelecimento. Ele falou que os donos pediam que os funcionários ajudassem nas obras feitas no prédio — uma delas foi a colocação da espuma. Para muitos, é considerado um herói: salvou 15 pessoas. Ontem, recebeu ZH para uma entrevista. A seguir trechos da conversa:

Zero Hora — Como era o cotidiano dos funcionários da Kiss?

Erico Paulus Garcia — Além do nosso trabalho, também dávamos uma mão em outros afazeres, como buscar mercadorias e ajudar em outros serviços.

ZH — Em obras?

Garcia — Sim, o Kiko ligava e pedia para ajudarmos. Lembro que, em 2011, ajudei na construção de dois pubs dentro da Kiss. Foi graças a essas construções que o movimento aumentou consideravelmente, porque passamos a trabalhar mais dias durante a semana.

ZH — Você lembra quando foi colocada a espuma no teto?

Garcia — Em julho do ano passado. Havia uma reclamação dos vizinhos devido o barulho.

ZH — Você ajudou a colocar a espuma?

Garcia — Eu não gostaria de falar sobre o assunto. Já falei para a polícia.

ZH — No seu depoimento, você confirmou ter sido um dos funcionários que ajudou a colocar a espuma. Por que o temor?

Garcia — O meu medo é sofrer represálias, como estão sofrendo outros colegas meus. Inclusive, há alguns dias, uma menina recebeu um monte de desaforos.

ZH — Há mais informações sobre os detalhes da colocação da espuma?

Garcia — Como disse, não quero falar sofre o assunto.

ZH — Por que sofreria represálias?

Garcia — Há pessoas que não pensam assim e não conseguem separar as coisas. Tenho medo deste tipo de gente.

ZH — O que lembra daquela noite?

Garcia — Recordo de ter ido até o DJ e pego um extintor para ajudar a apagar o incêndio. Ele gritou para mim que a fumaça era tóxica. Eu saí do prédio. Mas voltei para ajudar as pessoas.

ZH — Você sofreu ferimentos?

Garcia — Precisei ficar 24 horas internado. Agora estou bem. Mas jamais a minha vida será a mesma, sempre que tento dormir lembro aqueles rostos.

ZH — Alguma vez ocorreu para vocês que as obras que faziam na Kiss poderiam resultar em uma tragédia?

Garcia — Ninguém pensa que uma coisa dessas vai acontecer. O que se fazia eram melhoramentos, como os pubs.

ZH — Fala-se que naquele noite havia mais de mil clientes na boate?

Garcia — Não tinha mais de 850, nós não tínhamos espaço para essa multidão que andam dizendo.

ZH — Você era funcionário com carteira assinada?

Garcia — Sim, entrei lá em 2009 a convite de uma ex-namorada.

ZH — Como era o Kiko?

Garcia — Um cara muito exigente.


 

Clique na imagem e confira o perfil das 237 vítimas

Como aconteceu

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 237 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considerada a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.

Em gráfico, entenda os eventos que originaram o fogo:

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A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com a Polícia Civil, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver o antes e o depois da danceteria:


A festa

Chamada de "Agromerados", a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia.

Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas "Gurizadas Fandangueira", "Pimenta e seus Comparsas", além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

ZERO HORA
Lauro Alves / Agencia RBS

Graças à colaboração de Garcia, agentes da Polícia Civil estão conseguindo entender como era o cotidiano do estabelecimento
Foto:  Lauro Alves  /  Agencia RBS


 
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