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Polícia  | 07/11/2012 00h47min

Ataques se proliferam em São Paulo

Reportagem de ZH acompanha onda de atentados que tomou conta da capital paulista

Humberto Trezzi | São Paulo  |  humberto.trezzi@zerohora.com.br

Rosto crispado, carabina na mão com o dedo no gatilho, o policial militar olha desconfiado para os lados. Não abre sorriso, não conversa, não informa. Apenas cuida — e como cuida — a entrada da 10ª Delegacia de Polícia (DP) de São Paulo, no bairro da Penha, zona leste. O policial está junto a dois carros destroçados por tiros e que servem de barricada para a DP e também para a 3ª Companhia da Polícia Militar.

Foi esse PM que socorreu, na noite desta terça-feira, o delegado Diogo Zamutti Junior, titular da 57ª DP, no bairro Brasilândia. O policial civil estava próximo da Penha, dirigindo seu J-3 novo em folha, quando dois homens em uma moto emparelharam com o carro e dispararam vários tiros de pistola. Um dos disparos pegou na janela do motorista e acertou o delegado no ombro. Outros pegaram no colete à prova de balas. O policial revidou e conseguiu balear um dos motociclistas.

Ferido, tonto, o delegado dirigiu na contramão pela Avenida Airton Petrin, até encostar, aos gritos, em frente ao posto da PM e à 10ª DP (que funcionam em prédios contíguos).

— Tô ferido, ajuda aí — gritou o delegado, enfim socorrido pelos colegas.

Deixou cair no chão o colete, ensanguentado. Sobreviveu por sorte. Diogo é apenas o mais recente de uma lista de mais de cem policiais paulistas baleados este ano — 90 acabaram morrendo. Eles são alvo de uma onda de ataques sem precedentes nos últimos seis anos, coordenada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa dos presídios brasileiros.

Veja imagens registradas logo após o ataque:

O delegado prendeu há 15 dias uma quadrilha conhecida como Chapa Quente, especializada em assaltar residências e manter os moradores como reféns. Alguns dos bandidos torturavam as vítimas. Conforme a Secretaria da Segurança Pública, a Chapa Quente pagava "pedágio" para o PCC, que cobra de qualquer quadrilha independente um suborno para garantir a segurança dos criminosos quando eles forem presos. Como qualquer paulista sabe, quem manda no sistema penitenciário do mais populoso e importante Estado brasileiro é o Partido do Crime (como os próprios bandidos chamam o PCC).

Mesmo armado e guarnecido por colegas, o delegado Diogo não está imune ao sentimento que domina grande parte dos paulistas: medo. Tanto que ele fugiu da imprensa, ao ser convidado a falar do episódio.

— Foi um atentado, como os outros que estão acontecendo por aí — resumiu, monossilábico e ostentando um grande curativo nas costas.

Atentados que se proliferam mais a cada dia, com ônibus incendiados, postos policiais metralhados e até familiares de agentes da lei executados. Tudo começou como represália do PCC à morte de 12 integrantes da facção que assaltavam um supermercado e foram fuzilados por PMs. De lá para cá, é um festival de mortes, de lado a lado.

Medo que também fez os dois primeiros taxistas abordados por Zero Hora, na noite de terça-feira, recusarem a corrida.

— Brasilândia? Vocês estão loucos? Vou lá, não — disse o nordestino radicado em São Paulo.

A Brasilândia, considerada reduto de parte da cúpula do PCC, estava na terceira noite consecutiva de ocupação pela PM. Mais de 30 viaturas desfilavam na avenida principal da favela, em um vaivém que não tem prazo para terminar. Assim como a maré de violência que engolfa os paulistas.

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