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Geral  | 05/11/2012 19h10min

Autoridades isolam e monitoram criminosos para neutralizar PCC no RS

Receita é aplicada para evitar enraizamento da facção no Estado

Humberto Trezzi  |  humberto.trezzi@zerohora.com.br

Quebra do poder financeiro. Bloqueio de contatos telefônicos. Monitoramento de visitas. Isolamento na hora de ir ao pátio.

Essas são algumas das táticas usadas pelas autoridades gaúchas para impedir o alastramento, no sistema penitenciário do Rio Grande do Sul, da maior facção criminal dos presídios brasileiros, o paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).

Não é por falta de vontade que os quadrilheiros continuam sem raízes no Estado. Conforme revelou Zero Hora na edição de ontem, o PCC distribuiu nas penitenciárias gaúchas um estatuto com 17 mandamentos. Entre eles, o da pena de morte para quem não contribuir para a causa do "Partido do Crime" (como os bandidos chamam a própria organização).

Cópias do estatuto e também de comunicados para a Sintonia RS (a representação gaúcha) foram apreendidas este ano no Presídio Central durante uma varredura feita por policiais militares. O manuscrito estava com um preso paulista, suspeito de planejar extorsões de dentro da cadeia. O PCC determina, entre outras coisas, que seus integrantes organizem coleta de dinheiro e rifas em todos os Estados, para sustentar familiares de membros da facção que estão presos. Existe também orientação para que o "Partido" conquiste espaço dentro das penitenciárias, inclusive por meio de alianças com facções locais.

Uma das razões para que o PCC não tenha vingado no Rio Grande do Sul é que as facções locais repudiam a aliança. O próprio líder máximo do PCC, Marcos Camacho (o Marcola), tentou implementar essa sociedade com facções gaúchas quando esteve preso na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), em 2001. Segundo uma autoridade penitenciária, ele foi ameaçado de morte e teve de ficar isolado, para sua própria segurança.

Naquele mesmo ano um grupo de 18 integrantes do PCC foi enclausurado na Pasc, após tentativa frustrada de assaltarem um avião carregado de ouro, no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Dois quadrilheiros gaúchos chegaram a se aproximar do grupo, os assaltantes Dilonei Melara e Paulo Márcio Duarte da Silva, o Maradona. Ambos eram integrantes da facção Os Manos e conviveram com os paulistas — há indícios de que tenham partilhado advogados e planos de assaltos.

— Mas nunca obtivemos prova concreta de que Os Manos estivessem ligados ao PCC. O Melara foi assassinado, o Maradona transferido a um presídio de segurança máxima do Paraná e aquele grupo de paulistas, gradualmente, abandonou o Sul, sem notícias de que tenham cometido assalto aqui — pondera um administrador de presídios.

Um outro grupo de integrantes do PCC, os cavadores de túneis (que tentaram arrombar cofres de dois bancos no centro de Porto Alegre), foi preso e ficou na Pasc a partir de 2003. Por via das dúvidas, foram totalmente isolados e não conseguiram planejar golpes fora da cadeia, garantem as autoridades. Permanece na Pasc um derradeiro remanescente do PCC, Oséias Cardoso (assaltante conhecido como Português).

Facção sem conexões

Diretor da Susepe, Mário Pelz detalha as táticas já usadas para impedir o alastramento do PPC no Estado:

MONITORAMENTO DE PASSOS E LIGAÇÕES

Todos os forasteiros são monitorados com atenção redobrada, até para evitar articulações nacionais. Isso inclui revistas diuturnas e apreensões de bilhetes.

GALERIA APARTADA

Em um primeiro momento, os integrantes do PCC foram misturados a outros presos. Quando ficou evidente que tinham poder de persuasão e dinheiro, foram concentrados em uma galeria.

PÁTIO ISOLADO

As saídas para tomar sol e jogar bola no pátio, um direito do preso, são feitas em horários diferentes dos de outras facções.

BIBLIOTECA E ADVOGADOS SEPARADOS

Quando ficou evidente que os paulistas tentavam fortalecer contatos dentro de bibliotecas e também com uso de advogados de outras facções, foram providenciadas audiências com os defensores e visitas em separado das dos demais presos.

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