Notícias

Geral  | 12/10/2012 05h34min

Aumento do número de adolescentes com obesidade mórbida faz governo rever idade mínima para cirurgia

Resolução anunciada nesta quinta-feira reduz autorização para jovens de 16 anos

Taís Seibt  |  tais.seibt@zerohora.com.br

O aumento crescente da obesidade mórbida entre os adolescentes levou o Ministério da Saúde a rever a idade mínima permitida para fazer a cirurgia de redução de estômago pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Pesquisa de Orçamento Familiar de 2009 (POF) verificou que entre os 10 e os 19 anos, 21,7% dos brasileiros apresentam excesso de peso — em 1970, esse índice estava em 3,7%.

— Se o SUS diminui a faixa etária mínima para a cirurgia é porque a obesidade começa cada vez mais cedo. É comum crianças de 10 anos chegarem ao consultório com quadro de obesidade grave — observa Cristiane Kopacek, membro do comitê de endocrinologia pediátrica da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul.

A partir de 2013, adolescentes de 16 anos com quadro de obesidade mórbida poderão fazer a cirurgia de redução de estômago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme resolução anunciada nesta quinta-feira pelo Ministério da Saúde. Até então, a idade mínima exigida para o procedimento era de 18 anos.

Conforme o médico Cláudio Mottin, diretor do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS, que atuou na elaboração da portaria atualmente em vigor e coordena um estudo multicêntrico nacional para mapear a cirurgia para obesos graves no Brasil, a mudança da faixa etária segue consensos internacionais.

— É uma adaptação à tendência mundial que poderá contemplar boa parcela da população jovem que necessita de intervenção precoce para evitar uma série de doenças associadas, como problemas cardiovasculares e diabete tipo 2 — destaca Mottin.

É uníssono entre os especialistas que a cirurgia é o último recurso para o tratamento da obesidade, pois o pós-operatório é restritivo, o que exige muito autocontrole. O próprio protocolo do Ministério da Saúde orienta que o paciente deve passar por avaliação clínica e cirúrgica e ter acompanhamento com equipe multidisciplinar durante dois anos. Só quando os métodos convencionais não surtem efeito positivo a cirurgia é recomendada.

— O mais interessante seria fazer um trabalho de educação alimentar para evitar que as crianças cheguem a esse ponto, mas é claro que há um público significativo de adolescentes que não consegue perder peso pela mudança do estilo de vida e pode se beneficiar da cirurgia aos 16 anos — comenta a nutricionista Jussara dos Santos.

A indicação do tratamento para adolescentes é a mesma dos adultos: índice de massa corporal superior a 40. Para pacientes que já apresentam problemas relacionados à obesidade, como hipertensão e diabetes, a indicação da cirurgia é feita com índice de massa corporal superior a 35.

Antônio teve de esperar a maioridade

Gordinho desde criança, o estudante Antônio Fortes Neto, 19 anos, tentou todo tipo de dieta e tomou medicamentos para emagrecer, mas sempre acabava recuperando o peso perdido.

— Desde que me conheço por gente eu tentava emagrecer e não conseguia, só me restava fazer a cirurgia — afirma.

Em 2009, quando seu pai morreu, vítima de um infarto aos 55 anos, Antônio resolveu procurar ajuda médica para se preparar para a cirurgia. Já tinha feito o acompanhamento multidisciplinar e preenchia todos os requisitos para o procedimento, menos o da idade. Precisou esperar completar 18 anos para finalmente ser operado. Com 1m94cm de altura, passou dos 174 quilos para os atuais 115.

— Agora tento manter hábitos saudáveis, como comer em menor quantidade e mais vezes ao dia e ir à academia para não engordar de novo — conta o estudante.

Quase 1,2 mil estão na fila no RS

De acordo com dados repassados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), atualmente, 1.190 pessoas estão em fila de espera para marcação de consulta de avaliação para a cirurgia no Rio Grande do Sul.

O tempo de espera varia conforme o caso. No Hospital São Lucas, onde um terço dos procedimentos é feito pelo SUS, o prazo fica entre seis meses e um ano.

Cláudio Mottin acredita que a nova medida não é motivo para preocupação.

— Haverá um aumento na demanda, mas não deve comprometer a estrutura — projeta.

O Ministério da Saúde promete aumentar em 20% o valor pago pela cirurgia, investir em exames ambulatoriais pré-operatórios e na formação de equipes multiprofissionais para agilizar o acesso ao procedimento.

Além do São Lucas, os hospitais de Clínicas e Conceição, em Porto Alegre, e o Hospital Universitário de Canoas estão credenciados para fazer a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde no Estado.

Ainda este mês, o Hospital de Caridade de Santo Ângelo também passará a oferecer este serviço, com capacidade para oito procedimentos por mês na região das Missões. Em 2011, foram feitas 228 cirurgias bariátricas pelo SUS no Rio Grande do Sul. Em todo o Brasil, foram 5,3 mil.

As mudanças:

- Além de reduzir a idade mínima para 16 anos, a portaria substitui a gastroplastia vertical em banda, técnica em desuso pelos cirurgiões, pela gastroplastia vertical em manga (sleeve), procedimento bariátrico com maior aceitação global.

- O procedimento consiste na retirada de pedaço do estômago, transformando-o em tubo. São permitidas a gastroplastia com derivação intestinal e a gastrectomia com ou sem desvio duodenal.

- Novos exames também passam a ser obrigatórios antes da operação, entre eles, a ultrassonografia de abdômen total, a ecocardiografia transtorácica e a prova de função pulmonar completa com broncodilatador.

- O pacote deverá oportunizar ainda a cirurgia plástica dorsal, recomendada para pacientes que perderam peso. Até agora, só era permitida a cirurgia de correção estética para o abdômen.

ZERO HORA
 
SHOPPING
  • Sem registros
Compare ofertas de produtos na Internet

Grupo RBS  Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2024 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.