Mundo | 24/06/2012 14h59min
Em frente a sua residência, nos arredores de Assunção, o presidente Fernando Lugo concedeu uma rápida entrevista. Em um claro desafio ao governo do presidente recém-empossado do Paraguai, Federico Franco, ele disse que irá à cúpula do Mercosul, que ocorre entre os dias 28 e 29 de junho, em Mendoza, Argentina. Na manhã de domingo, o governo que está no poder havia informado que enviaria o chanceler atual para representar o país e que o mais importante era restabelecer as relações entre Paraguai e Brasil. Leia a seguir trecho da entrevista:
Como o senhor está acompanhando a situação?
Fernando Lugo: Acompanhamos todo tipo de manifestação pacífica para que retorne a ordem constitucional interrompida na sexta-feira, com a ação que foi feita pelo parlamento. Estamos totalmente claros que isso foi um golpe de Estado parlamentar contra a vontade popular, que elegeu Fernando Lugo presidente. Acompanhamos todo tipo de manifestação dos jovens, agricultores, trabalhadores, porque não a situação não está como muitos querem dizer: que aqui não aconteceu nada. Não está tranquilo o Paraguai. Aqui, foi interrompido um processo democrático. Isso vai seguir. Não se pode deixar de exercer o direito cidadão de protestos pacíficos para que volte a paz e a traquilidade.
O senhor teme sanções econômicas contra o Paraguai?
Lugo: Não posso dizer o que devem fazer os outros países. O Paraguai, desde 2008, havia reforçado todo um processo de integração, com co-responsabilidade com os países vizinhos.
O senhor vai à cúpula do Mercosul?
Lugo: Vamos estar na próxima semana na cúpula do Mercosul. E Paraguai está iniciando a presidência rotativa da Unasul. Vamos assumir essa transferência da presidência. Não sabemos se no Peru ou se na própria cúpula do Mercosul.
O senhor pensa em colaborar com Franco para que normalize as relações com os outros países?
Lugo: Esse é um governo que não é legítimo, é um governo falso, que a cidadania não aceita. É um governo que rasgou a institucionalidade da República.
Por que o senhor entende que foi destituído?
Lugo: Há motivos ocultos, que não foram ditos.
O governo chileno chamou para consulta o seu embaixador, mas não se decide se reconhece ou não o governo de Franco. O que o senhor pensa disso?
Lugo: É uma decisão soberana do governo chileno, assim como fez a Venezuela, que neste momento está retirando seu embaixador. Assim como há pouco saiu o embaixador do Brasil. São decisões soberanas dos países que têm responsabilidade sobre a democracia da América Latina.
Qual a saída para o Paraguai neste momento?
Lugo: Tem de haver uma saída que tenha respaldo político e participação cidadão. Não se pode unilateralmente decidir o futuro do Paraguai, forçando, sem argumentos. Nós aceitamos a decisão de deixar a presidência para que não houvesse derramamento de sangue.
Entenda o caso
Ex-bispo católico, Fernando Lugo foi eleito presidente do Paraguai em 2008. O motivo para o pedido de impeachment — proposto ao meio-dia de quinta-feira e aprovado no final da tarde de sexta, 22 de junho — é o "mau desempenho de suas funções".
A maior razão que levou a oposição a desencadear o processo foi a execução de seis policiais e 11 sem-terra em um confronto que ocorreu no dia 15 de junho, em Curuguaty, a 250km da capital Assunção.
A Câmara dos Deputados aprovou o pedido de julgamento político para destituir Lugo — por 76 votos a um. Na sequência, o Senado confirmou a decisão final para o impeachment para as 17h30min desta sexta. A condenação dependia da aprovação de 30 dos 45 senadores (dois terços).
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