Revelada pelo anfitrião, a estranha visita feita na noite de terça-feira por policiais civis ao presidente do Detran, Sérgio Buchmann, teve a participação de um personagem do Piratini.

Zero Hora apurou ontem que o chefe de gabinete da governadora Yeda Crusius, Ricardo Lied, acompanhou os integrantes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) que foram avisar Buchmann de que um filho dele, Fábio, 26 anos, seria preso.

Buchmann desconfiou da visita. Desgastado no governo Yeda, temeu que se tratasse de uma cilada. Por isso, ele próprio decidiu expor o fato, apesar de envolver um drama familiar. Segundo contou a ZH, no encontro de terça-feira os interlocutores sugeriram que ele fizesse contato com o filho para alertá-lo de que seria preso. Fruto de seu primeiro casamento, o rapaz vive fora da casa do pai e os dois têm uma relação distante.

Buchmann entendeu que, se acatasse o conselho para interferir, poderia levantar suspeitas de uso do cargo para favorecer o filho. Imaginou também que o telefone de Fábio poderia estar grampeado a fim de que um eventual diálogo entre os dois fosse usado para desgastá-lo no Detran. Por isso, decidiu não fazer contato com o filho e informou ZH, que publicou a notícia ontem. Na madrugada de quarta-feira, horas depois da visita, Fábio foi preso pelo Denarc em casa, no bairro Cidade Baixa, com 23 quilos de maconha e meio quilo de cocaína.

Sobre a detenção do filho, Buchmann declarou a ZH na noite de quarta-feira:

– Estou sangrando por dentro. Estou expondo uma tragédia familiar, mas entendo que, como homem público, não posso esconder nada. A polícia tinha de fazer o seu trabalho.

O chefe de gabinete da governadora foi procurado ontem para esclarecer sua participação na operação policial. Não se manifestou nem retornou ligações. A assessoria de imprensa do Palácio Piratini também silenciou, apesar dos recados deixados em celulares. A polícia não confirmou que agentes foram acompanhados por Lied na visita ao presidente do Detran.

Sem apuração prévia, os policiais teriam deduzido que o rapaz morava com o pai e se dirigiram ao local na noite de terça-feira sob o comando do delegado Luiz Fernando Martins, da 2ª Delegacia do Denarc, e acompanhados pelo assessor do Piratini. Nos bastidores da corporação, a explicação corrente é de que policiais teriam procurado Lied para facilitar o acesso a Buchmann.

Até a tarde de ontem, Buchmann não havia sido avisado oficialmente pela polícia ou por outra autoridade sobre a prisão de seu filho, ocorrida na véspera. Ele confirmou a prisão por intermédio de amigos. O presidente do Detran foi procurado ontem por membros do Executivo, como o chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, para reuniões, mas evitou encontros.

Na Polícia Civil, houve desencontro de informações. O chefe da corporação, João Paulo Martins, disse a Zero Hora que o caso estava sendo investigado (leia entrevista na página 18). A direção do Denarc marcou uma coletiva para as 17h, mas o contato com a imprensa acabou cancelado por ordem do chefe de Polícia.

A prisão de Fábio pode se transformar num novo capítulo da trajetória de embates de seu pai em três meses à frente do Detran. Ele vem perdendo respaldo no governo por ter rechaçado o pagamento de uma suposta dívida cobrada pela Atento Service, empresa terceirizada que prestou serviço de guincho e depósito à autarquia na Capital.