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 | 04/11/2010 03h56min

Placas que sinalizam áreas de pesca e de surfe em Capão estão guardadas em depósito

As placas que poderiam ter impedido a morte de jovem estão em depósito por causa da burocracia

Gustavo Azevedo  |  gustavo.azevedo@zerohora.com.br

Estão em um depósito, na prefeitura de Capão da Canoa, as placas que poderiam ter salvo a vida do surfista Thiago Rufatto, 18 anos, morto no final da tarde de segunda-feira, ao ficar preso ao cabo de uma rede de pesca. Na areia, onde elas deveriam estar, postes nus são praticamente o único rastro da sinalização para avisar sobre as áreas destinadas à pesca.

> Veja como é a demarcação na área central de Capão de Canoa

A sinalização, que já poderia ter sido instalada, está no depósito, longe das ondas, por causa da burocracia. Segundo o secretário de Turismo do município, André Avelino dos Santos, 12 placas novas chegaram na segunda-feira, depois de um processo de licitação que se estendeu por cerca de quatro meses. A promessa é que sejam colocadas a partir de hoje. 

— O material tem de passar por licitação. Houve recursos e demorou. O vencedor foi uma empresa de Santa Catarina, que só nos forneceu nesta semana – explicou Santos.
Sem a placa, a vítima e seu grupo de amigos avançaram, sem perceber, para uma área restrita à pesca. Com a forte correnteza, os jovens acabaram percorrendo quase dois quilômetros em direção ao norte e ultrapassaram o limite destinado a lazer e esporte.

Na divisa entre as áreas, restou apenas o poste, sem a placa que deveria alertá-los. Cerca de 200 metros adiante, amarrado a um carretel de madeira, o cabo de pesca segue em direção ao mar e se perde 300 metros para dentro da água. A corda está no local correto, dentro do setor de pesca. Cerca de 500 metros depois, há outro poste, também sem sinalização.

Numa orla de 19 mil metros, Capão tem metade da extensão destinada à pesca. A demarcação parece uma colcha de retalhos, transformando cada metro de praia numa arapuca. Na divisa de cada área, deveria haver placas e postes pintados com cores diferentes. Próximo da temporada de verão, poucas restaram.

— O material foi furtado ou alvo de vandalismo. Fiscalizamos, mas é difícil controlar — afirma o secretário.

O delegado de Capão, Heraldo Guerreiro, espera a necropsia para encaminhar o inquérito. Segundo ele, a prefeitura pode ser responsabilizada, se for comprovada a negligência.

ROTINA TRÁGICA
ABRIL DE 1988
Redes mataram 49 surfistas desde 1978, uma morte a cada oito meses. Capítulos dessa história:
- Um surfista de 16 anos morre em Capão, dois meses depois de a prefeitura proibir a pesca por causa do risco para esportistas.
FEVEREIRO DE 1991
- Em pleno fim de semana de verão, Fábio Lima, 18 anos, morre em uma área não destinada à pesca em Balneário Pinhal.
JULHO DE 2002
- No mesmo fim de semana, dois surfistas morrem, um em Cidreira e outro em Nova Tramandaí. Os casos expõem a falta de fiscalização das áreas de pesca.
JUNHO DE 2004
- ZH noticia: “Surfista morre preso a cabo de pesca”. A vítima é Daniel Silva, 20 anos, morto em Rainha do Mar. O episódio revela o descumprimento da lei que prevê placas indicativas.
MAIO DE 2005
- Menos de um ano depois, o mesmo título se repete em ZH: “Surfista morre presa a cabo de pesca.” Dessa vez, a vítima é Júlia Rosito, 21 anos, morta em Cidreira.
ABRIL DE 2009
- Lucas Dias, 22 anos, morre em Capão Novo, e os surfistas desencadeiam mais uma campanha para melhorar a delimitação.

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