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Conteúdo: unimedespacovida  | 12/10/2009 15h12min

A virtude do equilíbrio

Doutorando em filosofia explica a importância da generosidade

Convidado a refletir sobre generosidade, o professor e terapeuta Pablo Mendes, doutorando em filosofia, enviou um texto para o projeto Unimed Espaço Vida. 

Abaixo, a íntegra do texto: 

Generosidade, uma virtude atemporal, saudável e que pode mudar o mundo! 

A generosidade é uma virtude! E toda virtude, segundo o notável filósofo grego Aristóteles, é um equilíbrio entre dois extremos instáveis e igualmente prejudiciais, quando transgredidos.

Mas qual a razão de reportarmos a Aristóteles para tratarmos com clareza do tema da generosidade? Sobretudo, tal motivo deve-se ao fato de a Grécia antiga - cenário onde este notável filósofo viveu - ser, indubitavelmente, o berço da civilização ocidental. 

Aristóteles (em grego Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Filósofo grego, discípulo de Platão, foi professor de Alexandre, o Grande. É considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos. Reconhecido como o pai da lógica, do pensamento lógico, foi também um grande sistematizador de todo o pensamento clássico ocidental. Aristóteles situa-se entre os mais influentes filósofos gregos e, ao lado de Sócrates e Platão, transformou a filosofia pré-socrática, construindo os principais fundamentos do pensamento ocidental. Aristóteles trouxe contribuições fundamentais em diversas áreas do conhecimento humano, com efeito: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. É considerado por muitos estudiosos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. Sua influência também pode ser percebida na obra "A Divina Comédia", de Dante Alighieri, uma vez que toda a astronomia dantesca se funda em Aristóteles e seus comentadores.

Aristóteles foi filósofo pioneiro na sistematização da ética enquanto disciplina autônoma, configurando-se numa filosofia prática. Tal sistematização distinguiu a ética da política. Nesse sentido, a ética refere-se à ação voluntária e moral do indivíduo, enquanto a política refere-se às vinculações do indivíduo com a sociedade. Assim, a ética é uma palavra que pode ser caracterizada como a ciência da conduta que designa as concepções morais nas quais um ser humano se apóia, nutre fé. 

A ética aristotélica, através de seu famoso livro intitulado Ética a Nicômaco, escrito no século IV a.C., trabalha a noção da justa medida, isto é, a ação que habita no equilíbrio entre o excesso e a falta, e que se configura como a virtude. Através desta noção de virtude, enquanto uma ação equilibrada, e vício como uma ação extrema, seja para a falta ou para o excesso, Aristóteles neste livro incrível apresenta uma ética atemporal. Em outras palavras, na obra Ética a Nicômaco, o leitor poderá entre tantas riquezas disposta no texto, espantar-se com o fato de o conteúdo apresentar uma ética que perdura até os dias de hoje plenamente atual. 

Esta obra clássica trata de forma clara e distinta das virtudes e dos vícios como forma de conduta do bem viver. E entre várias virtudes, Aristóteles elenca a Generosidade, que como todas as virtudes e todos os vícios, habita no equilíbrio entre o excesso e a falta. Ou melhor, para Aristóteles generosidade de menos é avareza e generosidade em demasia é extravagância. Para Aristóteles, o homem tem um único objetivo a ser perseguido: o bem. Bem que conduz à felicidade! 

Praticar a generosidade é, antes de qualquer coisa, agir equilibrado, com retidão e sabedoria. Um ato equilibrado, executado com a sabedoria necessária para que o seu feito transcorra conforme a dose acertada diante de cada momento, desafio existencial. Tal dose, assim como no universo farmacológico, para configura-se como remédio ou antídoto capaz de salvar vidas, capaz de proporcionar saúde ou, ao contrário, para configurar como veneno, convertendo-se em algo destrutivo, dependerá sobremaneira da acertitude da dosagem residente sempre entre o excesso e a falta. Essa justa medida, isto é, o equilíbrio entre o excesso e a falta, é certamente a virtude e o caminho para a realização humana. 

Mais tarde, com o advento do Cristianismo na civilização ocidental, o conceito de virtude sofreu transformação, questão que certamente poderá ser temática para um próximo artigo. Entretanto, vale ressaltar que a virtude, na época dos gregos, não é idêntica ao conceito atual, influenciado pelo cristianismo. A virtude grega era no sentido da excelência de cada ação, de fazer bem feito, na justa medida, de modo equilibrado cada pequeno ato. Desse modo, a virtude é um equilíbrio entre dois extremos instáveis e igualmente prejudiciais. Já o vício é, ao contrário, o desequilíbrio entre os extremos, entre o excesso e a falta perante uma ação qualquer. 

Seguindo a teoria aristotélica da virtude como um estado de meio termo, podemos dizer que a pessoa avarenta está mais afastada da virtude do que a pessoa esbanjadora. A pessoa avarenta se caracteriza por gostar muito de receber e muito pouco de dar. À medida que a pessoa envelhece e se habitua a receber muito e a dar pouco ou nada, pode ir transformando essa condição num vício triste e incurável. Já a pessoa esbanjadora, à medida que vai empobrecendo, por conseguinte acaba por se aproximar mais do meio termo. Com um pouco de habituação e uma boa orientação, a pessoa esbanjadora pode tornar-se generosa, mas a pessoa avarenta tem a tendência a se afastar cada vez mais da virtude, da justa medida.

A pessoa generosa sente mais prazer em dar às pessoas certas, nas quantidades adequadas e da forma correta do que em receber. A pessoa avarenta é a que leva a riqueza mais a sério do que a dose que convém. A pessoa esbanjadora é a que é intemperada no ato de gastar, por exemplo. 

A virtude da generosidade é muito apreciada porque é mais elogiado e digno de apreço quem dá do que quem recebe, porque não receber é mais fácil do que dar. Enquanto o generoso sente prazer no dar, o avarento goza com o guardar e, por vezes, chega ao ponto de apreciar a obtenção da riqueza a partir de fontes qualquer, sem precedentes ou ilícitas.

A generosidade é uma virtude porque procura finalidades retas, isto é, dar às pessoas certas, nas quantidades adequadas, no momento certo e da forma correta. A avareza é um vício porque visa a finalidades baixas, ou seja, guardar para si o máximo de riqueza, revelando deficiência no dar e excesso no receber. Como é mais fácil receber do que dar pode ser facilmente muito mais comum a avareza do que a generosidade. 

A pessoa generosa sente prazer a dar. Aquele que dá por obrigação não pode ser considerado generoso e muito menos o que sofre com o dar. Aquele que dá às pessoas erradas, ou não dá com objetivos retos, nobres, também não pode ser considerado generoso.

Há algumas condições inerentes aos atos generosos. Este independe da quantidade que se dá, mas do estado do doador. O que se dá tem de provir de fontes corretas, lícitas. Dá-se apenas porque se gosta de dar, sem quaisquer outras finalidades ou razões. O generoso é o que dá de acordo com as suas posses e em função de finalidades retas. Aquele que dá mais do que pode não é generoso, mas perdulário. A generosidade é uma justa medida relacionada com o dar e receber riqueza, e a pessoa generosa dá e gasta a quantidade certa, equilibrada. O generoso é mais pronto a dar benefícios do que a receber.

Por fim, podemos pensar que a generosidade como forma de qualidade de vida é uma opção, por exemplo, para quem deseja ser feliz e percebe que se conhecendo melhor e compreendendo com mais propriedade o mundo a sua volta pode certamente contribuir mais e obter a paz, a felicidade desejada... Para quem constata que a generosidade praticada a si mesmo e aos outros pode sim mudar o mundo a sua volta para melhor... Afinal, não saímos ilesos de nenhum relacionamento, pois aquilo que somos afeta as pessoas a nossa volta, como também o modo de ser destas pessoas nos afeta. E desse modo, de um rosto simpático que podemos ver apenas uma vez na vida, em um aeroporto ou numa rodoviária qualquer, até o contato com um amigo, um parente ou um grande amor, todos nos afetam assim como nós os afetamos. Somente por esta razão justifica doarmos ao outro pelo menos um sorriso breve! É possível percebermos que aquilo que somos e que doamos ao outro contagia as pessoas a nossa volta e muitas vezes aquilo que as pessoas a nossa volta são e nos doam também nos contagia. Se nos fizemos felizes acabaremos fazendo outras pessoas felizes, mas optarmos pela avareza ou extravagância, poderemos nos fazer tristonhos e, por conseguinte, poderemos acabar influenciando outros ao nosso redor. E, se assim for, estaremos em contrapartida denunciando a responsabilidade que representa viver em sociedade de modo saudável.

Bibliografia indicada:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Quetzal, 2004. Tradução portuguesa de António de Castro Caeiro.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática. 1995. 

Filmografia indicada:  

A Corrente do bem

Ficha técnica:
Título Original: Pay It Forward
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 115 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2000
Site Oficial: www.payitforward.com
Estúdio: Warner Bros. / Bel Air Entertainment
Distribuição: Warner Bros.
Direção: Mimi Leder
Roteiro: Leslie Dixon, baseado no livro de Catherine Ryan Hyde
Produção: Peter Abrahms, Robert L. Levy e Steven Reuther
Música: Thomas Newman
Direção de Fotografia: Oliver Stapleton
Desenho de Produção: Leslie Dilley
Direção de Arte: Lawrence A. Hubbs 
Figurino: Renee Erlich Kalfus 
Edição: David Rosenbloom 
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic 

Elenco:
Haley Joel Osment (Trevor McKinney) 
Kevin Spacey (Eugene Simonet)
Helen Hunt (Arlene McKinney) 
James Caviezel (Jerry) 
Shawn Pyfrom (Sean)
Jon Bon Jovi (Ricky) 
Angie Dickinson (Grace) 
Jay Mohr (Chris Chandler) 
Jeanetta Arnette
Marc Donato 
Rusty Meyers 
David Ramsey 

Sinopse:
Eugene Simonet (Kevin Spacey), um professor de Estudos Sociais, faz um desafio aos seus alunos em uma de suas aulas: que eles criem algo que possa mudar o mundo. Trevor McKinney (Haley Joel Osment), um de seus alunos e incentivado pelo desafio do professor, cria um novo jogo, chamado "pay it forward", em que a cada favor que recebe você retribui a três outras pessoas. Surpreendentemente, a idéia funciona, ajudando o próprio Eugene a se desvencilhar de segredos do passado e também a mãe de Trevor, Arlene (Helen Hunt), a encontrar um novo sentido em sua vida. 

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Segundo Pablo Mendes, o generoso é mais pronto a dar benefícios do que a receber


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