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Semana Farroupilha  | 15/09/2009 05h10min

Contos Gauchescos: a saga de João Furtuoso

Confira a segunda parte da série

Dioclécio Lopes  |  dioclecio.lopes@zerohora.com.br

Até domingo, zerohora.com publica a série de contos "Causos de João Furtuoso", em comemoração à Semana Farroupilha. Personagem criado por Dioclécio Lopes, João Furtuoso é protagonista das narrativas ambientadas na zona rural, mais precisamente em um lugar chamado Bom Jardim, palco da difusão dos costumes, dos afazeres e da linguagem utilizada pelas gentes que marcam e mantêm acesa a cultura gaúcha.

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FALTA DE SORTE


O PATRÃO Antônio Balta embonitou a caminhoneta Rural que hibernava em uma garagem feita de ripas. Precisava de gamerial para combater os malditos formigueiros, de sal grosso para as vacas magras, de remédios para as bicheiras de algumas juntas de bois, de pregos e parafusos para alguns consertos nas carretas e carroças, de óleo e peças para o Massey Ferguson e, sem dúvida, um mimo para a esposa Elcira.

João Furtuoso já o esperava na porteira, todo aprumado em cima das botas bem-lustradas, bombachas caprichosamente passadas pela Negra Carminha, cabelos aparados pela tesoura precisa do Aparício. Enquanto aguardava o patrão, cofiava o bigode e apalpava a aba do chapéu - mais faceiro que guri chupando pirulito.

"Deus é gaúcho, de espora e mango, sou maragato...", era uma das músicas que o rádio da velha e boa Rural captava das ondas médias, enquanto ganhava estrada do Bom Jardim, passando pela chácara do Rangel, pelos campos dos Niza, pela estância do Maneco. O sol iluminava os trigais que se espichavam sobre as planícies, enquanto os quero-queros trovavam alegres pelos ares.

Já na cidade, conta-se que (temeridade!) antes das compras vieram os tragos; dos tragos, as prosas; das prosas, os causos de mulheres bonitas e fogosas. E essas histórias calientes, meio que sem querer, atiçaram os instintos de virilidade naqueles dois homens que passavam a maior parte do tempo manejando bichos e sementes, cravando na terra enxadas e arados. E não foi preciso muita conversa fiada para logo logo desembarcarem nas casas das luzes coloridas.

E foi nos galopes das danças, nas escaramuças e meneadas, nestas incursões prazerosas, mas às vezes traiçoeiras, que (barbaridade!) lhes sumiram as botas e as carteiras. E na procura nervosa sob a penumbra, tatearam como loucos tudo que puderam, mas sem nada encontrar.

E assim tiveram que se tocar de volta para a Estância do Minuano quase ao raiar do dia, desalinhados, descalços, famintos e com o ponteiro da gasolina rondando a reserva. Eles mais sérios que defuntos e por seus cálculos, ao chegarem em casa, mais sujos que pau de galinheiro. 

— Credo, homidideus, quidistinu, hein?! — disse Furtuoso, apertando a aba do chapéu de barbicacho, enquanto o patrão Antônio Balta cofiava a barba nevada ao mesmo tempo que exercitava a inteligência para a composição de uma farsa.

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Ilustração Zero Hora  / 

Velha e boa Rural ganhou a estrada do Bom Jardim, passando pela chácara do Rangel, pelos campos dos Niza, pela estância do Maneco
Foto:  Ilustração Zero Hora


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