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Inter Centenário  | 28/03/2009 21h16min

Conselheiro descobre nova versão para fundação do Inter

Detalhes alteram a história conhecida até as vésperas do centenário

Leandro behs  |  leandro.behs@zerohora.com.br

 Às vésperas dos 100 anos do Inter, a história oficial da fundação do clube é reescrita. Contrariando a versão atual, Henrique Poppe Leão teria sido o grande idealizador do clube criado na Porto Alegre de 4 de abril de 1909. E mais: ele não seria um comerciante paulista.

Por meio de aprofundada pesquisa, o conselheiro Tiago Vaz revela, por exemplo, que o Inter não nasceu da costela do Grêmio, mas foi gerado do idealismo contrário à elitização do esporte e de um romance que se iniciava. Fundamentado em jornais do período, o trabalho de Vaz foi acolhido pela direção. A pesquisa será publicada na edição de abril da Revista do Inter.

Ao contrário da história corrente, Henrique não era paulista, mas fluminense — e transfere-se ainda jovem para São Paulo, onde seu irmãos nasceram. E não era comerciante, mas, sim, jornalista ligado ao Partido Republicano Riograndense (PRR). Prova disso é seu obituário, escrito por colegas do jornal A Rua, de Porto Alegre, em homenagem a seu diretor de redação, morto em 16 de agosto de 1916.

Em 1901, a família mudou-se para Porto Alegre, possivelmente porque o pai morrera em São Paulo. A mãe, Leonilda, e os filhos, Henrique, o mais velhos dos irmãos Poppe, então com 20 anos, José, Carlos, Adelaide e Luiz, vieram a convite de Thomé Castro Madeira, irmão de Leonilda, que residia na cidade e trabalhava no cartório do Supremo Tribunal, com trânsito nos principais círculos sociais.

Fundação num porão e o primeiro campo

Em Porto Alegre, Henrique Poppe trabalhou na loja Ao Preço Fixo, precursora da Lojas Americanas. Em seguida, por influência do tio Thomé Castro Madeira, filiou-se ao PRR, tornou-se funcionário da Secretaria do Conselho da Intendência (prefeitura), além de escrever para A Federação (jornal do PRR). Ainda trabalharia nos jornais Echo do Povo, O Diário, Gazeta do Povo, O Exemplo, e foi diretor de redação de A Rua.

O Estado vivia sob o positivismo. Um dos dogmas da doutrina é que o indivíduo pode eternizar-se enquanto for lembrado por sua criação. O governo havia determinado a criação de novos espaços públicos para práticas esportivas, a fim de formar jovens para o Exército. É nesse contexto que as bases para a fundação do Inter começaram a ser definidas.

Henrique articulou a criação do clube, algo comum no período, no qual diversos grupos sociais passaram a se reunir e a fundar agremiações. Aos 18 anos, João Leopoldo Seferin, que emprestou o porão da casa do pai para a reunião de fundação do Inter, na Rua da Redenção, 141 – atual Avenida João Pessoa, na altura do número 1.025 –, foi eleito presidente.

Para dar credibilidade ao clube, o capitão do Exército Graciliano Ortiz é escolhido presidente de honra do Inter. Além de militar, Ortiz também era o diretor do Asseio Público – e homem de prestígio junto a José Montaury, intendente de Porto Alegre. Foi através de Ortiz que o Inter, recém-fundado, obteve junto à Intendência o seu primeiro campo: a Ilhota – atual Praça Sport Club Internacional, ao lado do Hospital Porto Alegre, no bairro Cidade Baixa.

Não teria havido rejeição do Grêmio

É possível que Ortiz não tenha sido convidado por Henrique apenas para emprestar prestígio à entidade. Por trás deste convite havia um romance. Sete meses após a fundação, Henrique casou-se com Maria Conceição Ortiz, filha de Graciliano. Henrique sempre foi o homem por trás do clube. Jamais jogou pelo Inter, presidiu a entidade em 1910, enquanto seus irmãos, José e Luiz, foram os primeiros titulares.

Além do Inter, Henrique fundou outras entidades: o Círculo de Imprensa, o Clube Dançante Caixeiral, o Sport Club Municipal, o Club Político 17 de Junho, o Filhos do Progresso e a Liga de Foot-Ball do Rio Grande do Sul. 

– Entendo que eles sequer procuraram o Grêmio para jogar, pois sabiam tratar-se de um clube fechado. O Inter nasce com valores sólidos, é difícil acreditar que fosse criado por causa de uma rejeição – afirma Vaz.

A edição de A Rua confirma a obra de Henrique. Foi publicada três dias após a sua morte, aos 35 anos, por uremia (doença provocada pelo mau funcionamento dos rins, incapazes de filtrar as impurezas do sangue). Henrique não teve filhos. Foi enterrado no cemitério da Santa Casa, na sepultura número 68 do 3° quadro, conforme descrevem registros da época.

A vitória sobre o rival antes de morrer

A página do jornal é guardada até hoje por Carlos Bandeira Poppe, delegado aposentado, que, aos 73 anos, vive no Rio de Janeiro. É filho de Luiz e sobrinho de Henrique. No próximo dia 4, ele doará ao museu do Inter o original de A Rua e uma caixa contendo cartas da família, além de fotos dos Poppe. Logo após a morte de Henrique, José e Luiz deixaram Porto Alegre e o Inter. José foi para São Paulo, enquanto Luiz mudou-se para o Rio. Lá, casou-se e envolveu-se com a política. Trabalhou no Ministério da Agricultura, durante a presidência de Getúlio Vargas, e perdeu contato com o clube que ajudou a fundar. Luiz morreu no Rio, em 1960, aos 69 anos. 

– Meu pai amava Porto Alegre. Não sei por que foi embora, nunca me disse. Tinha muitas saudades da cidade, do Inter e das conversas de bar sobre o clube. Eles eram muito novinhos quando fundaram o Inter, não sei como assumiram tamanha responsabilidade. Fizeram por amor ao esporte. Contava que a bandeira deles era acabar com o elitismo do futebol. Acho que os três morreram felizes – conta Carlos.

Antes da morte, Henrique viu o Inter crescer, ser campeão da cidade, em 1913, e derrotar pela primeira vez o Grêmio. Foi em 1915, 10 meses antes de morrer. O primeiro clube a ser desafiado pelo Inter, e que havia seis jogos mostrava-se imbatível, enfim, caía. Após seis jogos, com duas derrotas por 10 gols, o Inter goleava o Grêmio por 4 a 1, na Baixada, a casa do adversário, vencia o rival pela primeira vez e iniciava um novo ciclo na sua vida.

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