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Festival de Cinema  | 14/08/2011 18h52min

Os desafios do Festival de Gramado nos seu 40 anos

Próxima edição deve tentar trazer o público que enche as ruas da cidade para dentro do Palácio dos Festivais

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br


O 39º Festival de Gramado terminou sem maiores novidades — a mostra latino-americana continuou sendo no geral superior à brasileira e o cinema permaneceu com público muito pequeno ao longo de algumas noites, apesar do agito do lado de fora do Palácio dos Festivais. É por isso, e porque a próxima edição marca uma data redonda e se anuncia como festiva e de muita celebração do passado, que o evento precisa, mais do que nunca, se ver no espelho.

Para além das já batidas discussões sobre cinema autoral versus investimento no turismo e no glamour, Gramado precisa esquentar. Trazer o público que enche as ruas da cidade para dentro do Palácio dos Festivais e envolvê-lo não apenas com os astros e as estrelas, mas com o seu trabalho propriamente dito. Os filmes precisam de vaias, ou aplausos, qualquer coisa que não as recepções burocráticas que vêm recebendo ano após ano, como se não fizessem parte do interesse da maioria das pessoas que estão na Serra.

Não faz sentido que um evento que recebe mais de R$ 3 milhões de patrocínio, grande parte deste montante via leis de renúncia fiscal, cobre até R$ 130 por um ingresso. Também é contraditório exibir num dia o documentário de temática indígena As Hiper Mulheres e, no dia seguinte, uma comédia popular como O Carteiro. Ou se faz um festival que aposta no cinema autoral, ou se investe no grande público. Enquanto tentar as duas coisas, Gramado permanecerá dando a sensação de desencontro entre o que se passa dentro e o que se passa fora da sala de cinema.

É bom ressaltar que, apesar de os filmes nacionais continuarem muito irregulares, a seleção de 2011 não pode ser considerada inferior à de 2010. Em suas diferenças, bons filmes como Riscado e As Hiper Mulheres, e os ótimos hors concours O Palhaço e Sudoeste, deram estofo ao festival. Do mesmo modo, a boa seleção latino-americana invariavelmente garantiu ao menos uma boa sessão por noite. Se foi atencioso na seleção dos filmes de fora do Brasil, no entanto, a organização se atrapalhou e permitiu que quatro dos sete concorrentes fossem exibidos em constrangedoras cópias de serviço em DVD, com resolução baixa e marcas d'água sobre as imagens.

Ou Gramado dá o devido valor aos latinos, que tantas vezes salvaram o festival, ou os exclui da programação de vez. O problema é que tirá-los da competição reduziria inevitável e drasticamente a qualidade geral do evento. Este dilema, ao menos, parece fácil de resolver: antecipa-se o prazo de divulgação dos selecionados, dando mais tempo para o envio das cópias e, pronto, respeitam-se tanto os autores dos filmes quanto o público que for vê-los no Palácio dos Festivais. Além de manter a identidade internacional que Gramado construiu, o que assegura o seu diferencial no cada vez maior e mais diversificado universo dos festivais de cinema realizados no Brasil.
 

ZERO HORA
Edison Vara / PressPhoto

Ou Gramado dá o devido valor aos latinos, ou os exclui da programação de vez. Na foto, Sebastian Hiriart, vencedor de três estatuetas de Reginaldo Faria por "A Tiro de Piedra".
Foto:  Edison Vara  /  PressPhoto


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