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Eleições  | 17/06/2010 05h28min

"Eu gostaria que Fogaça apoiasse Dilma e estivesse no palanque dela", diz Tarso Genro

Em entrevista, o ex-ministro fez questão de dizer que é o candidato de Lula no Estado

Leandro Fontoura e Rosane de Oliveira  |  leandro.fontoura@zerohora.com.br; rosane.oliveira@zerohora.com.br

Conformado com o assédio do PT nacional a José Fogaça – seu principal adversário na disputa pelo governo gaúcho –, Tarso Genro resolveu tentar contornar a saia justa surfando no constrangimento do peemedebista em apoiar Dilma Rousseff:

– Não haveria nenhum problema para mim ver Dilma no palanque de Fogaça.

O ex-ministro fala com naturalidade porque sabe do brete enfrentado pelo concorrente. Fogaça está numa encruzilhada entre a aliança do PMDB nacional com Dilma e a preferência da maioria do PMDB gaúcho a José Serra (PSDB). A declaração, porém, não reduz o desconforto de ter de dividir Dilma e Lula com o adversário. Nesta entrevista, Tarso faz questão de marcar posição:

– Todos sabem que o candidato de Lula aqui sou eu.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem em seu escritório no bairro Moinhos de Vento. Numa sequência de entrevistas iniciada na semana passada, ZH já ouviu Fogaça e Yeda Crusius (PSDB).

Zero Hora – Como o senhor vai organizar as milhares de propostas para o plano de governo recebidas nas caravanas pelo Interior?

Tarso Genro – Uma comissão de programa vem trabalhando as ideias centrais e as vinculando às diretrizes do plano. Neste fim de semana, vamos publicar um documento intermediário. Nos anexos, cada região vai identificar sua contribuição.

ZH – Mas o senhor já sabe o foco de um eventual governo?

Tarso – A base central é o desenvolvimento, vinculando o crescimento do Rio Grande ao crescimento do Brasil e à distribuição de renda. Para isso, as questões-chave são educação, base tecnológica e segurança pública. Não devemos apenas receber investimentos da União, mas também propor investimentos em microrregiões.

ZH – O senhor é favor do pagamento de 14º salário para professores de acordo com desempenho dos alunos?

Tarso – Não. Só pagaríamos um 14º se fosse para todo o magistério estadual, depois do cumprimento de metas pelo governo do Estado de treinamento e qualificação dos professores em que o conjunto do magistério pudesse responder a uma melhoria geral no ensino. A seletividade no meio dos servidores é negativa. Isso pode servir para as empresas privadas, para o Estado, não. O Estado tem de ter metas de treinamento de professores e, a partir disso, exigir o cumprimento de metas para o ensino.

ZH – O que o senhor faria com os pedágios?

Tarso – Primeiro, é preciso negociar com antecipação a esse vencimento (dos contratos de concessão, em 2013). Segundo, é preciso olhar para as experiências do governo federal, que obteve tarifas bem menores. Se for o caso, podemos também fazer as licitações com ajuda e técnica que permita a redução do preço da tarifa. Mas essas negociações têm de ser feitas com a participação da sociedade.

ZH – O senhor manteria a política de déficit zero?

Tarso – Fazer déficit zero não é difícil, basta não gastar, não investir, não corrigir salários e conter gastos. Essa não será nossa política. Vamos ter gestão responsável, com o modelo do governo Lula. Temos de suscitar o desenvolvimento, até para aumentar a arrecadação. Podemos usar o Fundopem para fomentar o desenvolvimento regional, deslocando isenções tributárias para regiões específicas. Podemos ter um déficit sadio. Isso significa ter um planejamento financeiro que, em algum momento, se possa ter um pequeno déficit que redunde em recuperação das finanças públicas e em superávit.

ZH – Lula já disse que não vai fazer campanha onde a base de Dilma estiver dividida. O senhor já conta com a hipótese de ele não subir no palanque do senhor?

Tarso – Não vi o presidente sinalizar isso. Já conversei com ele. E ele falou sobre base dividida. Não vejo isso aqui no Estado. A base da Dilma é PT, PSB, PC do B e PDT. O PMDB até agora tomou uma atitude em relação a essa questão. Então, não sei se Lula vem ou não aqui. Para mim, isso não é decisivo, pois todos sabem que o candidato de Lula aqui sou eu. Além disso, nosso interesse é que a maior parte dos partidos apoie Dilma. Por fim, a vinda dele pode ser substituída por declarações dele a respeito da minha candidatura, o que, aliás, eu já tenho gravadas.

ZH – A vacilação do PMDB gaúcho em relação ao apoio a Dilma conforta o senhor, que não precisaria dividir a candidata com José Fogaça?

Tarso – Eu gostaria que Fogaça apoiasse Dilma e que ele estivesse no palanque dela. Isso não me causa desconforto e não me tira nenhum voto porque a relação da minha candidatura com Lula e Dilma é linear. Dilma poderia ter o apoio do PMDB aqui, pois é um partido aliado nacionalmente. Não haveria nenhum problema para mim ver a Dilma no palanque de Fogaça.

ZH – Mas o eleitor de Dilma não pode achar que votar no senhor ou em Fogaça é a mesma coisa?

Tarso – Mas há processos de compensação. Eu certamente vou ter muitos votos de pessoas que votarão em Serra. Apenas um terço do eleitorado é partidarizado. O resto vota em proposta política. Certamente, Fogaça e Yeda terão o voto de pessoas que vão votar em Dilma.

ZH – Para ampliar alianças no futuro, o PT pode apoiar Manuela D’Ávila (PC do B) para a prefeitura de Porto Alegre em 2012?

Tarso – Para alianças, não é mais um pressuposto o PT estar na cabeça.

ZH – O senhor se preocupa em ter de responder, durante a campanha, sobre a “má companhia” do ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, acusando de envolvimento com a máfia chinesa?

Tarso – Não me preocupa, pois teria a vantagem da boa companhia da Polícia Federal, que estava subordinada a mim e que investiga as pessoas independente de partidos e de cargos.

ZH – O caso Tuma Júnior é um álibi para o senhor, que é acusado de usar a PF contra adversários?

Tarso – Não é um álibi porque isso está sendo feito em todo o país. Isso que ocorreu no Rio Grande do Sul (acusações de uso político da PF) foi um artifício, transitado pela imprensa, por interesse de pessoas que estavam sendo envolvidas em atos de corrupção e que tentaram diluir sua responsabilidade. No caso de Tuma, que exercia uma função no ministério, a investigação foi feita num órgão que estava sob o meu comando. Isso mostra que a PF não tem limites políticos para suas investigações.

ZH – Tuma foi uma escolha sua?

Tarso – Não. Ele é produto da composição do governo.

ZH – De quem partiu a indicação dele?

Tarso – Me reservo (de revelar o padrinho de Tuma Júnior). Eu não conhecia Tuma, mas ele estava fazendo um bom trabalho na secretaria. Infelizmente, a relação de amizade (com Paulo Li, suspeito de chefiar a máfia chinesa em São Paulo) o levou para uma situação política insustentável. É bom que ele tenha saído do cargo para poder se defender de maneira mais livre. Estou torcendo que ele seja absolvido, mas a investigação da PF foi correta e técnica.

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