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Política  | 16/04/2010 04h01min

"Sou uma boa aluna", afirma Dilma Rousseff

Pré-candidata do PT não disse o que fará caso Tarso e Fogaça disputem o segundo turno

Dione Kuhn e Rosane de Oliveiro  |  dione.kuhn@zerohora.com.br, rosane.oliveira@zerohora.com.br

Tão logo desembarcou em Porto Alegre na manhã de ontem, a pré-candidata à Presidência Dilma Rousseff foi direto ao encontro da filha, Paula, grávida de quatro meses, para acompanhá-la em uma ecografia. Dilma saiu da sala de exames deslumbrada com as primeiras imagens de Gabriel, seu primeiro neto.

– É bem diferente da minha época. Você vê a perna esticando, os braços, as mãozinhas. Uma coisa que achei engraçada foi o dedão do pé. A mão não estava na boca porque dizem que ele ainda não tem motricidade. É de arrepiar porque você vê essa coisa fantástica que é a vida. Bate o coração e você fica pensando se ali dentro da barriga é apertado – relatou a candidata à tarde, durante entrevista a Zero Hora.

Dilma, que cumpre um roteiro de três dias no Estado, só foi ao primeiro compromisso de campanha ao meio-dia, em um almoço com empresários na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). À tarde, deu entrevistas exclusivas aos veículos do Grupo RBS no salão nobre da empresa. Ela foi recebida pelo presidente emérito do grupo, Jayme Sirotsky, vice-presidentes e diretores.

À RBS TV, a candidata admitiu subir em dois palanques na campanha no Rio Grande do Sul, mas ressalvou que a aliança com o PMDB ainda não foi selada. Diplomaticamente, fez elogios a Tarso Genro (PT) e a José Fogaça (PMDB), candidatos ao Piratini:

– Tenho muito respeito pelo Tarso. Fomos colegas de ministério. Fogaça é um administrador exemplar. Fizemos muitas parcerias.

Dilma não quis dizer o que fará se Tarso e Fogaça forem para o segundo turno:

– Aprendi que a gente não deve falar sobre hipóteses.

A seguir, a síntese do que disse a ZH:

Zero Hora – Circula pela internet um dossiê que atribui à senhora assaltos a bancos e atos de terrorismo no regime militar. A senhora se sente preparada para a campanha eleitoral?

Dilma Rousseff – Ninguém participa de governo sem aprender a conviver com críticas, deturpações e difamações. Há uma campanha insidiosa porque as pessoas pouco lembram daquela época. No Brasil, não se podia falar, pensar, a imprensa estava sob censura pesada. Não tive nenhuma ação armada. Se tivesse ação armada, não teria recebido condenação de dois anos. Cumpri três anos de cadeia, mas fui condenada a dois.

ZH – Quem estaria por trás dessa campanha que a senhora chama de insidiosa?

Dilma
– Acho que as reações são de setores inconformados com a abertura democrática e que acham que uma pessoa que esteve presa, numa situação de derrota durante todo o período da ditadura, não pode ser hoje vitoriosa.

ZH – Seus adversários levantam dúvidas sobre o que seria o seu governo em matéria de liberdade de expressão. Qual é o seu compromisso?

Dilma
– Adversário só não fala que a gente é bonita, o resto tudo fala. Eu sei o que é viver na ditadura, e sei a pior parte dela. Não acho que faz bem para nenhuma geração o que a minha passou. Você não consegue se desenvolver em toda a plenitude.

ZH – Como a senhora pretende reverter no RS os índices desfavoráveis a sua candidatura?

Dilma – Nós começamos agora. Pesquisa retrata o momento. Você não pode olhar uma pesquisa e falar: bom, fechou a boca do jacaré, empatou e está tudo muito bem. Todo mundo que sentou na cadeira antes se danou.

ZH – A senhora acha possível subir nos palanques de Tarso Genro e José Fogaça no Estado?

Dilma – Não vou trabalhar hipótese, até porque não é prudente. Quando a gente tiver feito aliança nacional, eu posso responder isso. Tem de discutir com o PMDB no plano nacional, no plano local, ver as suscetibilidades. Isso tem de ser feito com cuidado pra não causar problema.

ZH – A senhora trabalha com a possibilidade de ter o PMDB gaúcho todo a seu lado ou a divisão no partido é incontornável?

Dilma – Acho muito difícil trabalhar com a hipótese de ter tudo ao meu lado. Acredito que a grande maioria do PMDB fica conosco.

ZH – Saindo a aliança nacional entre PT e PMDB, existe a possibilidade, segundo as pesquisas, de um segundo turno se dar entre Tarso Genro e José Fogaça. Nesse caso, a senhora ficaria neutra?

Dilma – Ninguém em sã consciência trabalha com hipótese desse tipo. Não é prudente.

ZH – São as hipóteses que as pesquisas mostram.

Dilma
– Mas, atualmente, a gente faz aquela conta de criança: noves fora, noves fora nada ainda. Não podemos tomar posição ainda sobre um quadro em abril, tão indefinido.

ZH – A senhora já consegue fazer com naturalidade o que o presidente faz, como entrar na casa dos eleitores?

Dilma – Perfeitamente, sou uma boa aluna. Nessa relação com ele, tenho anos de praia. Ando pelo Brasil afora com ele há sete anos e meio. Da mesma forma, no Exterior. Eu já vi, por exemplo, na Alemanha, uma multidão aqui, uma multidão ali, devia ter brasileiro misturado com quem não era brasileiro, e nós fizemos a mesma coisa.

ZH – O presidente tem dado conselhos sobre a campanha?

Dilma
– Graças a Deus, dá. O presidente é uma pessoa experiente. Temos uma longa caminhada juntos, a nossa relação é de quem priva da intimidade. Ele pode falar coisas para mim porque ele me conhece, sabe como eu sou, não vai falar coisas desnecessárias para mim.

ZH – A senhora estava acostumada a ter o presidente Lula ao seu lado nos eventos do governo. Está sentindo falta dessa presença?

Dilma – Sempre falo que tenho muita saudade dele. O que me consola é que acho que ele também tem muita saudade minha. Porque convivíamos o dia inteiro.

ZH – A senhora acha que o eleitorado sente diferença com a ausência do presidente?

Dilma – Andei por esse país afora sozinha quantas vezes? O pessoal está inventando. Ser governo e decidir todo dia é muito difícil. Eu cuidei do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), de R$ 636 bilhões, da execução, tinha de discutir isso do Oiapoque ao Chuí. O presidente ia para um lado e eu, para o outro.

ZH – Até que ponto a popularidade do presidente Lula pode resultar em votos a sua candidatura?

Dilma – Se pode resultar em votos para alguém, imagino que seja para mim. Por quê? Porque entrei no Ministério de Minas e Energia, depois fui para Casa Civil, participei de cada um desses programas. Eles têm meu esforço pessoal. Os prefeitos viram, os governadores viram, as pessoas viram isso, então posso reivindicar a continuidade do governo Lula. O povo não acredita em promessa, acredita que quem faz pode fazer mais. Podemos fazer mais, porque fizemos. Essa história que nós temos sorte é verdade, a gente tem também. Feliz do povo que não tem governantes, presidente, ministros pés-frios. Tem meu trabalho nisso, eu me sinto absolutamente legitimada para achar que nesses 76% (de aprovação) tem uma parte que eu contribuí.

ZH – O PMDB se encaminha pra indicar Michel Temer para vice de sua chapa. Qual é a sua relação com o deputado?

Dilma – Tenho uma ótima relação com Michel Temer, respeito bastante o deputado, acho ele uma pessoa talentosa, bom articulador político, excelente presidente da Câmara, uma pessoa tranquila, não aposta no conflito, trabalha no acordo e no consenso. Não posso dizer que ele será candidato porque iria atropelar o PMDB. Acho que é uma coisa que vai ser negociada, mas tem o papel preponderante do partido que está indicando o nome. Considero o Michel Temer uma pessoa de qualidades excepcionais.

ZH – Um dos desafios do próximo governo seria melhorar a qualidade da educação. Isso não se faz só com dinheiro. A senhora pretende melhorar o ensino com metas, com avaliação dos alunos para ver se eles estão realmente aprendendo?

Dilma – Sim, com metas e avaliação. Acho que Fernando Haddad está sendo um bom ministro. Ele fez algumas coisas com muita competência, ele tratou primeiro da avaliação, segundo das metas, terceiro das melhores práticas. Você só pode botar metas e fazer uma avaliação se tiver um conjunto de elementos que definam quais são as melhores práticas pedagógicas, educativas, os melhores métodos, as melhores tecnologias de educação.

ZH – Mas como se chega a melhores resultados?

Dilma – Você nunca terá educação básica, fundamental ou média de qualidade se você não tiver professor. Professor precisa de duas coisas: remuneração adequada e formação continuada, com teste. É preciso testar o professor para ver se ele está em condições de dar aula, se ele pode melhorar, e incentivar. Todo ser humano incentivado dá o melhor de si. Tem de ter educação continuada. A universidade aberta foi feita para isso, a recomposição da universidade federal foi feita para isso. Nós colocamos dinheiro na educação federal, que estava sucateada. Além disso, tem de focar. Temos que formar engenheiros, matemáticos, físicos, químicos. Você não terá inovação em todas as áreas produtivas se não tiver matemática de qualidade, se não tiver engenharia de qualidade.

ZH – O que pesou para o metrô não ter sido incluído na segunda etapa do PAC?

Dilma
– Porque nós não incluímos nenhum metrô. O que nós colocamos foi a quantidade de dinheiro (para a mobilidade urbana) e os critérios. Só vai ter metrô cidade de região metropolitana acima de 3 milhões de habitantes. Porto Alegre tem credenciamento pra isso. Eles têm de escolher qual linha, como vai ser, e apresentar projeto. O quesito metrô ficou como saneamento, habitação. Ficou genérico, para aquela discussão que a gente faz com os municípios. Não entrou nas obras da Copa, mas em compensação aumentamos os recursos para outras obras viárias.

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