A guerra relatada por Mariazinha se passou entre 1912 e 1916, quando cerca de 20 mil camponeses enfrentaram forças militares dos poderes estadual e federal para defender as terras onde viviam. A disputa ocorreu entre Santa Catarina e Paraná. O conflito começou após a empresa norte-americana Brazil Railway Company construir uma estrada de ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Com a conclusão das obras, os mais de 8 mil operários ficaram desempregados e famílias que moravam na área comprada pela companhia foram desapropriadas.

Com o problema social agravado, um movimento messiânico ganhou força. Diversos profetas, beatos e monges pregando ideais de justiça, paz e comunhão, como José Maria e João Maria, tornaram-se referência para o povo caboclo, que foi se aglutinando sem o controle do Estado. Isso afligiu o governo federal, que enviou tropas.

O confronto sangrento – pesquisadores divergem quanto ao número de mortos, que oscila entre 10 e 20 mil – acabou em 20 de outubro de 1916, quando foi assinado o acordo de paz. O ofício estabelecia que as terras da bacia do rio Uruguai pertenceriam a Santa Catarina e as da bacia do Iguaçu seriam do Paraná.

 

MONGES AGLUTINAVAM POVO NO SERTÃO

 

A região do Contestado foi largamente percorrida por dois monges. O primeiro foi João Maria de Agostini, benzedeiro de origem italiana. O outro é João Maria de Jesus. Mas foi um terceiro, chamado José Maria, que aglutinou o povo do sertão do Contestado. José dizia ser irmão de João Maria. Benzia, curava, batizava e reunia gente ao seu redor lendo o livro História do Rei Carlos Magno e seus Doze Pares de França – com ensinamentos de guerra. Atacava duramente as autoridades e a República. Ameaçado pelos coronéis da região, se deslocou com um grupo de sertanejos para o Irani, em terras que o Paraná considerava suas, palco do primeiro combate. Em 22 de outubro de 1912, José Maria morreu após um ataque liderado pelo coronel João Gualberto, também morto no combate.

Saiba mais:

Algumas considerações acerca da presença mulheril na Guerra Sertaneja do Contestado, de Rita Inês Peixe Petrykowski. XVI Seminário Acadêmico APEC, 2011.

Campanha do Contestado: a grande ofensiva, de Demerval Peixoto. Fundação Cultural, 1995.

Contestado, 100 anos em Guerra: As batalhas seguem - A luta pelos espaços de memória, de Nilson Cesar Fraga.

Da Cidade Santa à Corte Celeste: memórias de sertanejos e a Guerra do Contestado, de Delmir José Valentini Universidade do Contestado, 2003.

Guerra do Contestado: a organização da irmandade cabocla, de Marli Auras. Cortez Editoria e Livraria, 1984.

Imagens que (re) constroem história: alegoria e narratividade visual da Guerra Sertaneja do Contestado, de Rita Inês Peixe Petrykowski Tese da UFRGS, 2012.

Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas, de Paulo Pinheiro Machado. Editora da Unicamp, 2004.

Messianismo e Conflito Social: a Guerra Sertaneja do Contestado: 1912-1916, de Maurício Vinhas de Queiroz. Editora Civilização Brasileira S.A, 1996.

Os Rebeldes do Contestado: a saga dos caboclos expulsos pela ferrovia da Soutehrn Corporation em Santa Catarina e Paraná, de Paulo Ramos Derengoski. Editora Tchê!, 1987.

Matança entre caboclos e militares

MARIAZINHA, A FILHA DA GUERRA