Textos: Carlos Wagner
carlos.wagner@zerohora.com.br

Fotos: Mauro Vieira
mauro.vieira@zerohora.com.br


















Joenara é filha do casal Jurema e João Rohleder que, nos anos 70, migraram de São Luiz Gonzaga, no norte do Rio Grande do Sul, para Humaitá (AM). Juciney é filho de Maria e José Barbosa, descendente dos nordestinos que foram levados para o Amazonas durante a II Guerra Mundial para extrair látex das seringueiras, os chamados soldados da borracha. Os dois se casaram e têm um filho, Joaquim, um garoto de 10 anos que usa botas, bombachas e tem um brilho nos olhos quando assiste ao avô Rohleder tocar as músicas do Rio Grande do Sul na gaita. Barbosa fala que, por ser vendedor, portanto uma pessoa que vai a muitos lugares e conversa com pessoas diferentes, ele não teve dificuldades em se adaptar ao modo de vida da família da mulher. – Claro que achei estranho a primeira vez que pisei no CTG. Mas, depois, a gente acaba sendo contagiado pela alegria. E quem não gosta de uma carne assada? – pergunta. Ele está sendo modesto. Durante as reuniões familiares, Juciney é o responsável por assar o peixe, uma tarefa que executa com talento. Joenara disse que nunca se preocupou com o fato do marido não conhecer a maneira de ser dos sulistas. A sua preocupação sempre foi o bem-estar dele e do filho. – Afinal, somos todos brasileiros – arremata a conversa. O herói do Joaquim é o seu avô Rohleder. Nos fins de semana, no sítio da família, a poucos metros da barraca do Rio Madeira, o garoto veste uma bombacha e coloca as botas para ouvir do avô as histórias do Rio Grande do Sul. Enquanto isso, seu pai assa um peixe para o almoço. Essa é a nova foto da família gaúcha no Brasil de Bombachas. Através dos anos, entre os moradores das regiões povoadas pelos migrantes do Sul, consolidou-se a imagem de que gaúcho só casava com gaúcha. E, quando não encontrava o par onde morava, viajava até o Rio Grande do Sul na busca da mulher ou do marido. Essa é uma parte da história. A outra parte é a justificativa do motivo pelo qual isso ocorria. Nos primeiros anos, nos lugarejos que depois se transformaram em cidades, as únicas pessoas que existiam por lá eram as famílias dos desbravadores vindos do sul do Brasil. Portanto, era normal que acabassem formando novas famílias, explica Ronaldo Schiefelbein, 82 anos, um dos pioneiros no povoamento de Sorriso (MT). – Agora, tem mulher bonita de sobra – diz.