Protagonizadas por moradores de bairros de maior poder aquisitivo, as manifestações são fruto da insatisfação com a violência urbana, o desabastecimento e o aumento da inflação, mas têm raízes na tensão social que faz parte do cotidiano de um país transformado por 15 anos de bolivarianismo.
Para entender o contexto que levou à explosão da violência nas ruas, precisamos resgatar episódios da história recente e conhecer algumas características que fazem da Venezuela de hoje um lugar tão peculiar.
Afinal, que país é esse?
Nosso vizinho do norte ocupa uma área pouco maior que a de Mato Grosso e tem população equivalente à Região Sul do Brasil.




A Venezuela tem as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo.


A eleição de Hugo Chávez para a presidência, em 1998, marcou uma mudança no uso desses recursos pelo Estado. Iniciando o primeiro de seus três governos num período de alta na cotação do petróleo, Chávez tirou dos petrodólares o financiamento de diversos programas de inclusão social.






Acusado de autoritário e ditador por seus rivais, o líder controvertido, que resistiu a uma tentativa de golpe de Estado em 2002 e derrotou os partidos de oposição nas urnas, comandou a elaboração de uma nova Constituição para a Venezuela e mudou a lei do país para permitir que o presidente se candidate à reeleição indefinidamente.
Ele também enfrentou forte oposição da imprensa. Desde o final da década passada, mais de 30 estações de rádio e TV venezuelanas tiveram de encerrar as atividades. Um dos casos mais notórios foi a não renovação da concessão da Globovisión, uma das principais emissoras de TV.
Chávez nacionalizou algumas das empresas mais importantes do país, como a gigante do petróleo PDVSA, a CANTV (principal empresa de telecomunicações) e a CADAFE, do setor energético.
Mesmo após sua morte, em 2013, Chávez continuou a interferir nos rumos políticos da Venezuela.
Seu sucessor, Nicolás Maduro, usou e abusou da imagem do comandante bolivariano na campanha eleitoral e derrotou, por uma margem de votos muito pequena, o principal político de oposição, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles.
Sem o carisma de Chávez, Maduro começa a enfrentar forte oposição dos setores descontentes com a economia e com a insegurança nas ruas do país. O índice de homicídios da Venezuela é um dos mais altos do mundo. Dados de 2010 das Nações Unidas apontam uma taxa de 45,1 assassinatos a cada 100 mil habitantes, mas análises de institutos independentes dizem que hoje o número passa de 70 mortes violentas por 100 mil habitantes em Caracas.



Pelo menos 19 jornalistas venezuelanos e estrangeiros disseram ter tido seus equipamentos retirados por forças de segurança e quase 80 profissionais da imprensa foram agredidos durante a cobertura dos protestos, segundo o Sindicato Nacional de Trabajadores de la Prensa.
A economia vive momentos de desconfiança e intranquilidade. Nas ruas, o dólar paralelo vale pelo menos 10 vezes mais que o câmbio oficial, fixado pelo governo em pouco mais de 6,3 bolívares - e até o preço da gasolina, um dos mais baixos do mundo graças aos pesados subsídios do governo, está para ser reajustado.
Para onde vai a Venezuela?
O futuro é uma incógnita e as tensões sociais não desaparecerão por decreto nem pela via da violência. O mandato de Maduro, que será submetido a um referendo revocatório em 2016, pode durar até 2019 - a menos que ele seja alijado do poder pela força ou por um golpe constitucional, o que não seria uma novidade na história do país e do continente.
Créditos:
Texto: Eduardo Nunes
Pesquisa: Eduardo Nunes e Léo Gerchmann
Arte: Diogo Fatturi
Programação: Michel Fontes