Alexandre Ames Prado

19 anos, cursava jornalismo na Unifra.

Filho único, Alexandre era a grande motivação de vida para os pais. A mãe, a aposentada Veleda Maria Ames, 51 anos, tenta preencher o tempo trabalhando como manicure, passando os dias sem pensar muito no amanhã. Já o pai, o agente penitenciário João Carlos da Silva Prado, 57 anos, recolheu-se à retidão do silêncio. O vazio no lar se expressa no apartamento, com todas as coisas acomodadas como estavam quando ele morreu aos 18 anos sem poder concluir o curso de Jornalismo na Unifra. A foto de formatura no Ensino Médio, em 2011, permanece na estante da sala. E a paixão pelo Grêmio foi homenageada no enterro, com um caixão e uma bandeira com as cores do time.

Andressa Ferreira Flores

24 anos, era funcionária da Kiss

O policial civil aposentado Jaderson Tiani Lemos Flores, 52 anos, sempre fez de tudo pelas filhas. Trabalhou, brigou, decepcionou-se e até se separou de outras mulheres. Com a morte da primogênita, Andressa Ferreira Flores, que tinha 24 anos e era funcionária da boate Kiss, ele passou a lutar também pela neta, Amanda, 3 anos, cuja guarda provisória foi dada ao pai, que mora no Sergipe. Ao lado dos irmãos de Andressa, Danieli Ferreira Flores, 21 anos, e Matheus dos Santos Flores, 10 anos, Jaderson se empenha agora em garantir a felicidade de Amanda.

Andrielle Righi da Silva

tinha 22 anos, fazia cursinho pré-vestibular

No logotipo da ONG Para Sempre Cinderelas, Andrielle é representada com o único tênis All Star que aparece ao lado de quatro sapatos de salto alto. Estilo e personalidade sempre marcaram a primogênita do casal Flávio José da Silva, 52 anos, autônomo, e Ligiane Righi da Silva, 44 anos, doceira. Morta aos 22 anos, Andrielle tinha um estilo diferente da irmã, Gabrielle, 18 anos. No entanto, as diferenças mais aproximavam do que as afastavam nos momentos passados em família, como a ida a um restaurante (foto).

Augusto Cezar Neves

19 anos, estudava Ciências da Computação na UFSM

A adoção de Augusto Cezar, em dezembro de 1994, foi a realização de um sonho para a dona de casa Maria Aparecida Neves, 55 anos, e o pintor Cezar Augusto Madruga Neves, 51 anos. Impossibilitada de dar à luz, ela escolheu para completar a família um filho que se tornou motivo de orgulho. Estudioso, Augusto comemorava com os pais cada uma de suas vitórias. Foi assim com a formatura no Ensino Médio, em 2010 (foto), e com a aprovação no vestibular para Ciência da Computação na UFSM, em 2012, curso que ele não pode concluir ao morrer aos 19 anos.

Bibiana Berleze

22 anos, trabalhava em um cursinho preparatório para vestibular

A morte de Bibiana, que tinha 22 anos e trabalhava em um cursinho pré-vestibular, abalou a vida do pai, o empresário Claudio Berleze, 49 anos. Para quem sempre fez tudo pela filha, o alento são as lembranças e a recordação do sonho dela de ser veterinária. O pai também procura lembrar de momentos especiais, como a viagem que ele, Bibiana, a mulher Aline Parcianello Navarro, 32 anos, e a filha irmã Lara Navarro Berleze, 7 anos, fizeram a Bombinhas, em Santa Catarina. O passeio é sempre rememorado com a foto que tiraram em dezembro de 2012.

Carolina Simões Côrte Real

18 anos, estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

Os livros, os perfumes, os bichinhos de pelúcia e as fotos de Carol, que morreu aos 18 anos, permanecem onde estavam na casa em que vivia com a mãe. Clarice Izabel Simões Côrte Real, 47 anos, continuou morando com a filha mesmo depois de recusar o convite do filho mais velho para morar com ele em Santa Catarina. A mudança, inclusive, era uma recomendação médica. Da filha que estudava Tecnologia em Alimentos, a imagem preferida da aposentada é a da festa de 15 anos dela, um sonho que elas realizaram juntas.

Danrlei Darin

18 anos, bailarino

O bailarino Danrlei, que recebeu o nome em homenagem ao ex-goleiro do Grêmio, era o único filho que ainda morava com a mãe - Andrei, 22 anos, vive com o pai, e Maicon, 25 anos, com a mulher. Com a perda do caçula, que pretendia ser arquiteto, a fiscal de loja Jeneci Bica Oliveira, 49 anos, decidiu mudar de casa. Como forma de preencher o tempo e o vazio, passou a cuidar dos quatro filhos do companheiro. No novo lar, ela lembra de Danrlei com as fotos de seus 18 anos, o último aniversário que pode comemorar. Jeneci guarda as imagens em álbuns e em porta-retratos. Seu próximo passo deve ser a criação de um grupo de dança voltado a crianças de rua, um projeto que o filho sonhava realizar, mas não teve tempo de concretizá-lo.

Deivis Marques Gonçalves e Gustavo Marques Gonçalves

33 anos, era conferente de farmácia, e Gustavo Marques Gonçalves, 25 anos, vendedor.

Em 26 de janeiro de 2013, a doceira Elaine Marques Gonçalves, hoje com 62 anos, lamentava os dois anos da morte do marido, o taxista Eloi Gonçalves. Não imaginava que a dor aumentaria logo depois daquele dia com a morte de dois filhos - o conferente de farmácia Deivis, 33 anos, e o vendedor Gustavo, 25. Diante da trágica perda, ela decidiu entender que Deus tem planos traçados e que a ela cabe seguir em frente. A foto antiga, tirada numa churrascaria, é um dos poucos registros que reúnem toda a família.

Jennefer Mendes Ferreira

22 anos, estudava de Psicologia

Jennefer orgulhava os pais por sua responsabilidade e envolvimento, especialmente porque se dedicava ao futuro dos negócios da família. Meses antes de morrer, aos 22 anos, a estudante de Psicologia havia realizado uma reformulação da loja de móveis de escritório em Santa Maria. Jennefer repensou a organização interna do ambiente e propôs novos modelos de gestão. O pai, Adherbal Alves Ferreira, 49 anos, virou um dos familiares das vítimas mais conhecidos ao assumir a presidência da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). No entanto, ele, a mulher, Maria Elizabete Mendes Ferreira, 46 anos, e o filho, Jonathan, 29 anos, prefeririam que o reconhecimento fosse dado ao empenho e à disposição da filha, qualidades que nunca esquecerão.

Lucas Dias de Oliveira

20 anos, começaria curso de inseminação de gado.

O chapéu preto de abas largas de Lucas Dias de Oliveira virou símbolo da dor dos familiares das vítimas da Kiss. É ele que aparece em uma das imagens mais emocionantes após a tragédia, aquela em que cobre o rosto da namorada Yasmin diante do caixão do jovem morto aos 20 anos. Desde então, a mãe, Marise Dias de Oliveira, 50 anos, tem deixado o acessório com os amigos, que prosseguem prestando homenagens ao filho, sempre lembrado pela sua alegria. Longe do marido, Natalício Soares de Oliveira, 53 anos, que está trabalhando no litoral, a dona de casa tenta encontrar forças para seguir. Uma das lembranças mais presentes é a que serve de estímulo: o último retrato tirado com o filho, na virada de 2011 para 2012 (foto).

Luiz Eduardo Viegas Flores

24 anos, oficial escrevente e estudava Direito na Unijuí

O estudante de Psicologia Luiz Eduardo só deixou boas lembranças para a família. Seu jeito brincalhão é uma das principais recordações dos pais, o bancário Paulo Roberto da Silva Flores, 55 anos, e a professora Áurea Viegas Flores, 49 anos, e do irmão Bruno, 19 anos. Além de extrovertido, Dudu, como era carinhosamente chamado pela família e pelos amigos, também demonstrava responsabilidade e afinco nos estudos - aos 24 anos, dividia-se entre o curso de Direito na Unijuí e o trabalho no Fórum como oficial escrevente. Para lidar com o sentimento de luto que permanece na casa, a família procura levar a vida como o jovem gostaria, de forma leve e feliz.

Maria Mariana Rodrigues Ferreira

18 anos, estudava Veterinária na UFSM

Maria Mariana Rodrigues Ferreira costumava cuidar dos três irmãos mais novos: Victor, 13 anos, Liandrea, 11, e Emanuela, nove. Há um ano, a mãe, a dona de casa Isabel dos Reis Rodrigues, 40 anos, não conta mais com a ajuda sempre disposta e a presença da primogênita, que morreu aos 18 anos. A família ainda busca maneiras de se reerguer e conta com apoio da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) para voltar a registrar momentos como o da foto, tirada há alguns anos, num encontro de família.

Ricardo Dariva

24 anos, economista

O último 5 de junho seria um dos dias mais difíceis da vida da professora de literatura Celanira Dariva, 58 anos, e do marido, o professor aposentado Joarez João Dariva, 69 anos. O filho caçula do casal, o economista Ricardo Dariva, completaria 24 se não tivesse sido uma das vítimas da tragédia da Kiss. Mas foi justamente nesse dia, contrariando todas as previsões conforme as ecografias anteriores, que nasceu a primeira neta do casal, a Rafaela, filha dos designers Paula Dariva, 30 anos, e Lucas Santos, 32 anos. Na foto, a pequena já está com sete meses.

Rogério Floriano Cardoso

25 anos, era cabo no 29º BIB

O sonho de Ariane Pires Floriano Aguirre, 48 anos, era ter 12 filhos. Conseguiu ter oito antes da morte do marido, há nove anos. Contudo, a família numerosa, que cresceu com a chegada de genros, noras, netos e até um bisneto, não preenche a ausência de Rogério Floriano Cardoso, o cabo Floriano, que tinha 25 anos quando morreu na tragédia da Kiss. Junto da mãe, Roberto, 27 anos, Eliane, 31, Elen, 16, Roger, 15, Enaira, 21, Eduarda, nove, e Evelyn, oito, sentem falta do irmão especialmente em momentos como o da foto, registro de um dos tantos e sempre divertidos churrascos em família. A foto mostra o último que contou com a família completa, no início de janeiro de 2012.

Vinícius Montardo Rosado

26 anos, estudava Educação Física na Fames

Quando lembram de Vinícius, seus pais recordam que ele teria salvo 14 pessoas no incêndio da Kiss antes de morrer, aos 26 anos. O jogador de rúgbi estava sempre disposto a ajudar - "não tem mau tempo", como dizia. Os pais, o servidor público Ogier de Vargas Rosado, 52 anos, e a dona de casa Lilia Maria Montardo, 54 anos, e a irmã Jéssica, estudante de Direito de 25 anos, não esquecem do jeito bem-humorado de Vinicius, aspecto da personalidade que o estudante de Educação Física da Fames demonstrava toda vez que contava piadas. Como forma de perpetuar esse jeito leve e divertido do filho, os familiares se juntaram a outros pais e criaram a associação beneficente "Ah Muleke", transformando a saudade em solidariedade.