Ao Pé da Letra
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OS REPLICANTES - SURFISTA CALHORDA
"Os surfistas sempre se identificaram com essa música, mas o calhorda sempre era o outro", diverte-se Heron Heinz.
Veja Heron, Carlos Gerbase e Cláudio Heinz falando sobre a letra de Surfista Calhorda.
Nos anos 1980, as lojas de surfe em Porto Alegre eram um negócio inacreditável. Cada bairro tinha três. Foi um boom do surfe. Tinha vários surfistas legais, muita gente surfando no fim de semana e um monte de gente abrindo loja para vender prancha", lembra Carlos Gerbase. Inspirados por esse cenário – e pela tarefa insólita de disputar a atenção feminina com tantos pretensos surfistas –, o ex-baterista dos Replicantes e o baixista Heron Heinz compuseram a canção que acabaria por garantir à banda porto-alegrense visibilidade no restante do país.

Rack na caranga muito louca pra dar banda,
Cheque na carteira recheada de paranga
Prancha importada assombrando a meninada
Corpo de atleta e rosto de Baby Johnson
É, mas quando entra na água
É na primeira braçada
É, ele não vale uma naba
Ele não surfa nada, ele não surfa nada
Tem duas surf shops que só abrem ao meio-dia
Vive da herança milionária de uma tia
Vai pra Nova York estudar advocacia
Ah surfista calhorda, vai surfar n'outra borda
Cláudio: Eu tinha um fusquinha na época e andava ali pela 24 de Outubro, onde tinha as surf shops e todo mundo passava com as pranchas de surf, não sei se foi daí que o Gerbase pegou…
Gerbase: Claro, exato!
Cláudio …inclusive o meu fuquinha tinha rack, nunca botei prancha…
Gerbase: Bahhhh! Tu era calhorda?
Cláudio: Mas era para ficar mais bonito!
Gerbase: E era mais importante ostentar ser surfista do que ser surfista de verdade. Então tinha prancha mas não ia surfar nunca. Esse é o calhorda! Não são os meus colegas que eram bons surfistas, eram os calhordas.
Heron: O gozado é que sempre teve lance de que todos os surfistas se identificaram com essa música, mas o calhorda nunca era o cara. "Ah, eu não sou".
Gerbase: Tem gente que fuma, que gosta, curte, ouve som, mas a própria maconha pode ser uma ostentação também.
Gerbase: No começo eu e o Wander fazíamos uma espécie de coreografia de quem está remando, esperando a onda e surfando.
Gerbase: Baby Johnson pela publicidade na TV, Baby Johnson é o bebê perfeito, lindo, maravilhoso...
Heron: O surfista rosado, loiro de olhos azuis… com cara de Baby Johnson, mesmo.
Heron: Uma das cenas mais legais do clipe é aquela em que a gente faz o teste do dedo para ver para que lado está o vento e cada um aponta para um lado.
Cláudio: Mostra que a gente não sabia nada, surfista nem vê pra que lado está o vento ao chegar na praia, mas tudo bem… (risos)
Gerbase: Para muitos, era mais importante ostentar ser surfista do que ser surfista de verdade. Então tinha prancha, mas não ia surfar nunca. Esse é o calhorda!
Gerbase: Foi crítica a um modo de vida: tem duas surf shops que só abrem ao meio-dia, quer dizer, antes do meio-dia o cara tá dormindo. Vive da herança milionária de uma tia: não fez nada. E vai pra Nova York estudar advocacia!
Heron: E as pessoas falavam que Porto Alegre, embora não tivesse mar, era uma das capitais que mais surf shops tinha.
Gerbase: A gente gostava de ter um personagem: o Astronauta, Surfista Calhorda, o Boy do Subterrâneo. A gente não fazia poesia, não estava interessado em expressar sentimentos, a não ser raiva de vez em quando.