Caxias do Sul A nova realidade grená

A partir de março de 2016, a SER Caxias será apresentada a uma nova realidade. Rebaixada no Gauchão 2015, buscará retornar ao grupo dos principais clubes gaúchos passando pelos tortuosos e nada charmosos caminhos da segunda divisão, também conhecida como Divisão de Acesso.

Para dar uma noção do que espera o clube grená pelos gramados da Segundona, o repórter Andrei Andrade e o fotógrafo Felipe Nyland percorreram as sete cidades em que o Caxias irá jogar na primeira fase da competição: Marau, Panambi, Ijuí, Santo Ângelo, Crissiumal, Frederico Westphalen e Bento Gonçalves.

Em cada destino, a reportagem buscou histórias que possam ilustrar como essas comunidades vivem o futebol e como esses clubes de menor expressão ou mesmo tradicionais adormecidos se preparam para a peleia que dá apenas uma vaga na Série A de 2017.

Ao longo de sete dias, o leitor poderá se familiarizar com os novos rivais do clube do Centenário: FC Marau, SER Panambi, São Luiz, SER Santo Ângelo, Tupi, União Frederiquense, e Esportivo, (esse um velho conhecido). Boa viagem!



Marau E. C. Marau

Onde o futebol é a terceira força

FICHA TÉCNICA

Nome: Futebol Clube Marau
Fundação: 21 de junho de 2013
Distância de Caxias do Sul: 187 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 2h40min
Folha de pagamento estimada: R$ 45 mil mensais

Estádio: Estádio Carlos Renato Bebber (municipal)
Capacidade: 2 mil pessoas
Condições gerais:
Gramado precário, poucas cabines de imprensa, bancos de reservas sem conforto, dificuldade para cumprir com questões de segurança

Futebol nunca foi o esporte preferido da população de Marau. Entre os pouco mais de 36 mil habitantes da cidade, a esperança de ter de volta a grande equipe de futsal da Perdigão, que no início dos anos 90 rivalizava com os grandes do Estado, é maior do que a empolgação com o atual campeão da terceirona gaúcha, título que rendeu ao Futebol Clube Marau uma vaga na Divisão de Acesso que inicia em março.


Ainda mais tradicional que o futsal, o caratê é o esporte em que os atletas de Marau alcançam maior projeção. Não há campeonato disputado em solo gaúcho onde um marauense não esteja derrubando alguém. Muitas vezes esse cara é Douglas Albano, atual campeão gaúcho e um dos melhores caratecas do Brasil.
É ainda em busca de popularidade, portanto, que o Marau, fundado em 2013 por um empresário de Passo Fundo disposto a investir em jovens jogadores, parte para a segunda Divisão de Acesso de sua recente história.

Em Marau, cidade que tem o futsal como preferência e o caratê como especialidade, um clube jovem busca espaço.


– Por muitos anos, Marau foi um celeiro do futsal no Estado. O futebol de campo, por ser recente na cidade, atrai o torcedor aos poucos. Mas é um clube que veio para ficar – comenta Vladimir Hernandez, gerente de futebol.
Com cerca de 800 sócios que mensalmente contribuem com R$ 20, o Marau tem como principal investidor o atual presidente, dono de uma rede de funerárias que estampa a camisa do clube. As reuniões da diretoria ocorrem no subsolo da principal delas, de onde Vladimir deixou um cargo administrativo para se dedicar exclusivamente ao futebol.

– Estou tendo a minha primeira experiência como dirigente. O futebol é apaixonante – empolga-se.
Em uma tarde de segunda-feira, Vladimir foi o responsável por reunir os jogadores e a comissão técnica do time em uma pizzaria da cidade, para a apresentação do grupo à imprensa. Diante de cerca de duas dezenas de jovens, que compõem a maior parte do elenco, ele aproveitou para uma rápida preleção, onde expôs aquela que parece ser a principal preocupação de dirigentes do futebol interiorano:

– Sobre brincos, baladas, essas coisas, a gente vai conversar. Cidade pequena, sabe como é...todo mundo fica sabendo de tudo.



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Estádio na mira de Novelletto

Situado no parque de rodeios da cidade, o Estádio Municipal Carlos Renato Bebber é a casa do Futebol Clube Marau. Porém, a precariedade da estrutura e principalmente as más condições do gramado ameaçam o time a ter de mandar seus jogos na Divisão de Acesso em algum município vizinho, como Passo Fundo, Carazinho ou Nova Prata.

Uma rápida caminhada de uma linha de fundo à outra é suficiente para entender tantas reclamações de equipes adversárias e a preocupação do presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Novelletto, em realizar partidas na casa do Marau. Faltam cabines de imprensa (são apenas quatro), os bancos de reservas se assemelham a paradas de ônibus e o gramado, castigado pelo uso quase diário, é esburacado.

– Temos dificuldades para cumprir as exigências da Federação e do Ministério Público, mas dependemos do município para sanar essas pendências. Se os jogos começassem hoje, não teríamos como mandar jogos aqui. Mas o prefeito nos deu a palavra de que irá fazer as melhorias necessárias em tempo hábil – diz Vladimir Hernandez.

Diretor de Esportes da prefeitura de Marau, Julcemar Spessato, o Tuchê, destaca que a prefeitura tem feito o possível para melhorar o estádio. No início de 2015, foram investidos R$ 190 mil em refletores e foi retirado o cordão que delimitava a pista de terra que circunda o campo, usada pela população para caminhadas. O principal problema, segundo Tuchê, é mesmo o campo, uma vez que não há tempo hábil para plantar um novo gramado até o início da Segundona.



Amigos desde o alojamento

Preparar um time que terá de superar a inexperiência para suportar os percalços da Divisão de Acesso é o desafio que a direção do Marau delegou a uma comissão técnica que também engatinha na casamata. Itaqui, lateral que brilhou com as camisas de Juventude e Grêmio nos anos 90, é o treinador. Para assumir a preparação física, chamou um velho colega de quarto dos tempos de alojamento no Alfredo Jaconi: Lauro, ídolo do Ju, recém-graduado em Educação Física.

- Ter o Laurinho do meu lado traz uma segurança muito grande, porque somos amigos há mais de 20 anos e sei de todo o comprometimento dele – elogia Itaqui.

Antes de chegar a Marau, Jesus Cleiton Pereira da Silva treinou o modesto, porém tradicional Garibaldi, na terceira divisão gaúcha. Foi no clube da terra da Fenachamp que encerrou a carreira de atleta, em 2011. Na nova empreitada, minimiza a estrutura precária. Só não quer um time muito “verde” em campo.

- O clube é novo e está se estruturando. São pessoas bem-intencionadas, mas que também estão experimentando ainda. Temos um orçamento baixo, muitos jogadores da cidade, e ainda estamos buscando amadurecer mais o time. Mas com cuidado e não podendo errar – pondera. Para Laurinho, marcador incansável como se propõem a ser os volantes do interior gaúcho, a estreia como preparador físico é um recomeço no futebol. Confessa ter atendido ao convite por se tratar de um amigo tão próximo, mas tem suas metas para o futuro mais ligadas ao paletó do que ao abrigo do clube:

- Não quero ficar parado no tempo. Meu pensamento é usar essa oportunidade para colocar em prática a minha formação e ao mesmo tempo fazer alguma especialização em gestão esportiva. Sei da dificuldade que é fazer futebol no interior, com pouca estrutua, mas minha vontade de voltar ao esporte e ter uma experiência prática daquilo que estudei falou mais alto.

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Panambi SER Panambi

FICHA TÉCNICA

Nome: Sociedade Esportiva e Recreativa Panambi
Fundação: 1ª de janeiro de 2004
Distância de Caxias do Sul: 368 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 5h
Folha de pagamento estimada: R$ 50 mil mensais

Estádio: Estádio João Marimon Júnior
Capacidade: 2 mil pessoas
Condições gerais:
Gramado em bom estado, iluminação suficiente, cabines de imprensa apertadas, vestiários precisando de ajustes

Em Panambi, o gramado é de Série A. Sob os cuidados do zelador Rudi Dessbessell, o campo do Estádio João Marimon Júnior, o popular Pirata (por ficar no bairro Piratini) é um tapete por onde qualquer craque, verdadeiro ou de fachada, desfilaria sem fazer cara feia. E para o funcionário encarregado de cuidar da casa da SER Panambi, até hoje a maior felicidade foi ter preparado o terreno por onde pisou aquele que talvez seja o mais controverso ídolo do Inter: Adriano Gabiru.

Gramado do Pirata, estádio da SER Panambi, é a menina dos olhos do orgulhoso zelador


É verdade que a passagem dele por Panambi em 2015 teve muito mais retorno de divulgação do que técnico. Foram apenas dois gols e alguns problemas com bebidas alcoólicas, mas nada que já não seja sabido sobre o herói de Yokohama. E ao longo dos 59 anos de vida de Seu Rudi, nenhuma experiência foi mais recompensadora:

– Quase destruí minha sala quando ele fez aquele gol. É meu ídolo. Ver ele jogando aqui e compartilhando com ele todos os dias foi maravilhoso.

Mas o fanatismo pelo time da Capital tem dividido espaço no coração do Seu Rudi com as cores verde e branca do time da cidade. Em seis anos como responsável por manter o estádio limpo e em boas condições, o ex-motorista concursado da prefeitura, agora em desvio de função, tornou-se torcedor ferrenho do Panambi. E esse ano ganhou um motivo a mais não só para torcer, mas também para deixar o campo ainda mais seguro para os atletas.

– Meu filho é professor de Educação Física e esse ano vai ser o preparador físico do time. Isso me engrandece muito como pai e me faz ainda mais torcedor – diz.

O zelador também ressalta que a integridade dos atletas é a maior preocupação:

Até hoje, nunca vi alguém sair daqui com o cotovelo ou o joelho esfolado. Pode levar um tombo, que o gramado suporta para não deixar ninguém lesionado. Esse é o prêmio do meu trabalho.

E a receita para o gramado do Panambi, que no ano passado chegou a emprestar o estádio para um jogo da Série A, entre Caxias e União Frederiquense, ser muito acima da média da Divisão de Acesso, Seu Rudi não esconde:

– O segredo é bastante água. Esse ano fomos privilegiados, porque Deus mandou bastante chuva. Outro é o corte, para ficar sempre bem nivelado e parelho. E nosso técnico usa o gramado o mínimo possível, bem restrito aos jogos. Isso tudo ajuda a eles e ajuda a mim.



Lúcio Collet, treinador da equipe (C) Samir Beituni, vice-presidente do clube (D) e Marcelo Anicet gerente de futebol ao fundo

Ferguson de Panambi

Não há como fugir da comparação. No poderoso Manchester United, a permanência por 27 anos de Sir Alex Ferguson, técnico que aliava o comando da equipe à função de gerenciar o departamento de futebol – cargo que eles chamam de manager – conhece poucos precedentes no esporte. Mas é um exemplo que ajuda a traçar o perfil de Lúcio Collet (ao centro, na foto abaixo), técnico que inicia em 2016 a terceira temporada consecutiva na SER Panambi.

Natural da cidade, Collet construiu a carreira em Santa Cruz do Sul, onde gerenciou o time do Avenida campeão da Segundona em 2011 e também treinou o time sub-19 em campanhas vitoriosas. O bom trânsito entre o escritório e a casamata chamou a atenção dos dirigentes de Panambi, que no final de 2013 o convidaram para assumir um projeto de longo prazo – algo utópico no Brasil, mas que no noroeste gaúcho tem dado mostras de que pode funcionar.

Além de treinar o alviverde nas últimas duas Segundonas, Collet é responsável por lapidar os talentos da base, ao lado do recém-chegado gerente Marcelo Anicet (E, na foto). No último Estadual sub-19, a garotada de Collet foi vice-campeã, desempenho que garantiu a 14 meninos uma chance no atual grupo profissional. O técnico destaca que a valorização da meninada é a principal cobrança da comunidade:

– Embora a Divisão de Acesso seja muito importante, nossa maior luta é para manter o projeto da base. Assumimos o slogan de que jogador bom, o Panambi faz em casa. Nosso torcedor cobra a valorização dos jovens.

Para a Segundona, não mais do que sete “cascudos” irão se somar às pratas da casa de Panambi. Um risco calculado, segundo Collet:

– Sabemos que é um número elevado de jovens, mas pensando na continuidade do trabalho, teremos uma equipe sub-19 mais madura para o segundo semestre.



Cabines de imprensa apertadas demonstram estrutura acanhada

Queremos ser a surpresa

- Nossa cidade tem o futebol na veia
Assim, o vice-presidente da SER Panambi, Samir Beituni (D, na foto ao lado), define o que representa o esporte para a cidade de pouco mais de 38 mil habitantes. Uma paixão traduzida por cerca de 70 times de várzea que peleiam nos campeonatos municipais e por uma ocupação de arquibancada nos jogos do Panambi, que chega a 1,5 mil por jogo (a capacidade do Pirata é de 2 mil lugares).

Nossa obrigação é ficar na Segundona

Fundado em 2004, o clube tem parceria com cerca de 80 empresas locais. O quadro de sócios é pequeno: cerca de 500 que contribuem mensalmente (a maioria da torcida compra o ingresso na bilheteria). Para a Divisão de Acesso, a folha salarial ficará em torno de R$ 50 mil.

– Somos realistas. O regulamento é muito difícil e clubes como Caxias, Pelotas e São Gabriel têm um aporte financeiro maior. Não entraremos apenas para nos manter, mas para ser a surpresa. Nossa obrigação é ficar na Segundona, na Divisão de Acesso. A cidade nos exige isso – explica Samir.

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Ijuí E. C. São Luiz

FICHA TÉCNICA

Nome: Esporte Clube São Luiz
Fundação: 20 de fevereiro de 1938
Distância de Caxias do Sul: 386 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 5h
Folha de pagamento estimada: Não declarado

Estádio: Estádio 19 de Outubro
Capacidade: 11,5 mil pessoas
Condições gerais:
Gramado em bom estado, vestiários e cabines de imprensa idem. Um dos melhores estádios do interior gaúcho

Antes de fisgar o Caxias, o inferno da Segundona buscou em 2014 outro clube de tradição no cenário gaúcho. O São Luiz, de Ijuí, caiu um ano após ter sido vice-campeão da Taça Piratini, perdendo a final para o Inter então comandado por Dunga. Desgraça maior foi regressar à Divisão de Acesso após dez anos na elite justamente no ano mais difícil, o primeiro a dar apenas uma vaga na Série A.


A queda foi trágica para as finanças do clube. De um ano para o outro, perdeu-se a receita da T, que era de R$ 800 mil, e o patrocínio de empresas de porte internacional, que não se dispõem a investir em um campeonato sem transmissões televisivas. Mas o choque de realidade mais intenso ainda se deu dentro de campo, segundo conta o presidente Sadi Pereira.

De finalista de turno a rabaixado uma ano depois, São Luiz quer se reerguer fora de campo

– A diferença é enorme, das condições dos gramados à relação entre os dirigentes. Com Caxias e Juventude sempre tivemos um trato muito bom, mas na Segundona não existe muito isso. Tem lugares onde tu é tratado como inimigo. Dirigente entra em campo, torcedor joga pedra no juiz, a bola some quando teu time tá perdendo, cortam a água no vestiário...são situações que tu não vê na primeira divisão. Nós sentimos muito a queda e acho que o Caxias vai sentir também – alerta.

Após morrer no quadrangular final na primeira tentativa de retornar ao Gauchão, esse ano o São Luiz deve tirar o pé de vez do acelerador, a despeito da cobrança da torcida. Anunciando corte de 40% na folha salarial em relação a 2015, o presidente diz que a preocupação é manter as finanças saudáveis.



– Quando assumimos, a dívida era de mais de R$ 2 milhões, nosso estádio estava indo a leilão e ninguém pagava conta. Hoje equilibramos o clube e nosso objetivo para o último ano de mandato é que continue assim. Só para pagar as dívidas trabalhistas, que eram mais de 50, foram cinco anos – destaca.

Sem demonstrar urgência para subir esse ano, Sadi já trata de se posicionar como um embaixador por melhorias na Divisão de Acesso. Considera que nos próximos anos mais clubes de tradição devem incrementar a disputa e acha que é a hora de valorizar a competição.

– Os regionais estão ficando cada vez mais curtos. Na Série A eram 16 clubes e agora vão ser 12. Dois meses de campeonato e um de treino. É um calendário muito curto. Então é preciso mudar tudo. Eu acredito que o ideal seria fazer um campeonato interestadual e com mais recursos da CBF. A entidade fatura milhões e não repassa nada para os clubes do interior. Pelo contrário, só aumenta o valor das taxas – reclama.

Antes do Caxias chegar, São Luiz de Ijuí abriu caminho para os tradicionais no Grupo B


Testemunha de Paulo Baier

Naquela que talvez seja a safra mais vitoriosa das categorias de base do Grêmio, no início dos anos 90, Sandro Pagliarini era o operário que carregava o piano para talentos que despontaram no time do técnico Felipão, como Arilson, Emerson e Carlos Miguel. Em uma geração que também tinha Roger e Danrlei, o atual gerente de futebol do São Luiz foi peça importante na conquista do Gauchão de 1995, enquanto os titulares conquistavam a Libertadores da América.

Volante pegador, daqueles que fariam até Felipe Melo pensar em ligar para o irmão mais velho, Sandro não conseguiu espaço no time que consagrou o cangaceiro Dinho à frente da defesa. Passou então a proteger as zagas do interior, jogando no Ypiranga, e depois no São Luiz, onde ficou por oito anos. Em Ijuí, testemunhou o surgimento do maior ídolo local e um dos grandes do futebol brasileiro: Paulo Baier.

– O Paulo era um lateral que ia muito bem no apoio, dificilmente errava um cruzamento, mas marcava pouco. Por isso era ficava mais no banco. Só que todos sabiam que ele tinha qualidade. Um dia fomos fazer um amistoso em Criciúma e o São Luiz tinha uma dívida com eles (o time catarinense). O Paulo acabou indo pra lá como parte do pagamento e lá teve uma evolução impressionante – lembra.

O longo tempo de convivência em Ijuí fez com que Sandro se tornasse um dos bons amigos do veterano jogador na cidade. Conversam quase diariamente. – A gente tenta não incomodar muito o Paulo, por ele ter sido o grande jogador que foi. Mas ele é um cara muito simples, que deixa de ir pra praia pra ficar em Ijuí jogando futebol com os amigos – elogia.

Outro bom amigo que os gramados legaram a Sandro é o atual técnico do Caxias, Beto Campos. No início dos anos 2000, ambos jogaram juntos no Avenida, de Santa Cruz.

– O Beto foi um dos melhores centroavantes que passaram pelo futebol do interior – recorda. Pagliarini também atribui ao treinador grená a primeira chance como dirigente, em 2010, no próprio São Luiz, onde está desde então como gerente de futebol.

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Santo Ângelo SER Santo Ângelo

FICHA TÉCNICA

Nome: SER Santo Ângelo
Fundação: 26 de setembro de 1989
Distância de Caxias do Sul: 428 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 5h30min
Folha de pagamento estimada: R$ 45 mil

Estádio: Estádio Zona Sul
Capacidade: 8 mil pessoas
Condições gerais:
Gramado em bom estado, cabines de imprensa e vestiários precisam de reparos

Para técnico de time pequeno, a cobrança do torcedor pode ser muito direta, sem qualquer intermediação que torne a relação um pouco mais impessoal. Em Santo Ângelo, porém, o acesso ao treinador é informal demais até para os padrões interioranos. Para ter um tête-à-tête com Zica Pagliarini, técnico da SER, como os mais íntimos se referem ao time que leva o nome da cidade, basta ir ao Estádio da Zona Sul e pedir pelo dono do bar.

Na SER Santo Ângelo, técnico é dono do bar do estádio e trabalha no clube há 12 anos


Cesar Augusto, o Zica, tem 53 anos e administra a lanchonete do estádio desde 2011, quando trocava o salário de treinador das categorias de base pelo aluguel do espaço. Embora o atendimento aos clientes fique mais a cargo da esposa e das três filhas, Zica está sempre por perto. Na tarde em que o Pioneiro apareceu sem avisar para uma conversa regada a sorvete de creme com chocolate, o professor conversava com o preparador físico Edemar Dalsochio, ambos sentados em torno de uma mesa na rua, pois o calor era infernal.

– Como no futebol a gente acaba ficando mais tempo parado, pelo menos no resto do ano tenho outra atividade. Temos sorte de ter a faculdade aqui na frente, que garante um bom movimento durante a semana – comenta Zica.



Zica sustenta a família com o bar do estádio na maior parte do ano e aumenta a renda como técnico do time. Em 2011, trocava o salário pelo aluguel
Mais fácil é a lancheria, porque tem a família para ajudar. No futebol, a responsabilidade pelo que acontece em campo é toda do treinador

Ex-jogador da várzea local, Zica é conselheiro e presta serviços ao Santo Ângelo desde 2003, a maior parte do tempo junto à base. Em 2015, na primeira temporada como técnico, levou a SER até a segunda fase, superando uma série crise financeira. Nesta nova oportunidade, superação volta a ser a palavra de ordem:

– Nosso clube já teve uma estrutura muito forte por trás, mas hoje não tem mais. Isso nos exige esforço dobrado para manter o futebol ativo. E a Divisão de Acesso se tornou muito difícil, com muitas equipes que já passaram pela Série A. Mas o sonho do torcedor é ver o time de volta à primeira divisão e o nosso trabalho é tornar isso realidade.

Com recursos escassos e a cobrança para devolver o clube da Capital das Missões à elite após 11 anos de frustrações, Zica não titubeia ao responder se é mais difícil administrar um bar ou um time de futebol:



Estrutura embaixo das arquibancadas é modesta e requer reparos

Mês sem treino para economizar

Em clube de orçamento apertado, economizar é o primeiro mandamento. Não importa se o eventual prejuízo técnico possa atrapalhar a campanha do time, como tem sido a principal reclamação do preparador físico do Santo Ângelo, o Moca.

Em 2015, o início da pré-emporada na metade de janeiro garantiu 45 dias de preparação aos missioneiros. Porém, se a força nos músculos garantiu um time mais competitivo, duas semanas a mais de contrato iniciaram uma bola de neve de atrasos salariais. Em dezembro, a crise institucional levou à renúncia do presidente Ricardo Humberto Timm.

– A dificuldade financeira é o nosso principal problema, mas não podemos repetir o que aconteceu no ano passado – comenta Jorge Manuel Ribeiro, mandatário após a renúncia de Timm, sobre os salários.

Esse ano, priorizando o pagamento em dia dos R$ 45 mil mensais da folha, a pré-temporada começou apenas no dia 31 de janeiro, quando todas as equipes do grupo já estavam em plena atividade. Moca teme que a preparação mais curta prejudique a equipe em campo.

Para fazer uma boa Divisão de Acesso, o Santo Ângelo aposta na manutenção de pelo menos metade do time de 2015. Além de 15 contratados, serão integrados seis ou sete meninos do sub-19. Durante a Segundona, os atletas moram em um alojamento no próprio estádio, numa estrutura que requer reparos. Segundo Moca, há um problema tão grave quanto as condições dos quartos: manter a gurizada focada:

– Na frente do estádio, tem a faculdade, cheia de meninas bonitas. Quando acaba o treino, a gurizada toma um banho e já sai para dar em cima. Tem que estar sempre de olho.

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Crissiumal Tupi F. C.

FICHA TÉCNICA

Nome: Tupi F. C.
Fundação: 1º de maio de 1949
Distância de Caxias do Sul: 474 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 6h30min
Folha de pagamento estimada: R$ 60 mil

Estádio: Estádio Minicipal Rubro-Negro
Capacidade: 3 mil pessoas
Condições gerais:
Gramado alto e vestiário do árbitro com porta para a rua em caso dele precisar fugir

– Bem-vindo ao inferno!

É assim que Paulo Moacir Haas, presidente do Tupi Futebol Clube, recebe a reportagem do Pioneiro em uma tarde de 37ºC na menor cidade onde se pratica futebol profissional no Rio Grande do Sul. E o calor fustigante em partidas que precisam ser jogadas à tarde pela falta de iluminação no Estádio Rubro-Negro é só um dos motivos que fazem de Crissiumal, município que faz fronteira fluvial com a Argentina, o destino mais inóspito para os times da Divisão de Acesso.


Por todo canto que se passe ao percorrer o caminho do Grupo B da Segundona, dirigentes e treinadores são unânimes em apontar Crissiumal como o lugar mais difícil para praticar o futebol. Além do calor, fatores como o minúsculo vestiário visitante (“sala vip”, como brincam os locais), a pressão de dirigentes contra os árbitros, gandulas que escondem a bola quando o adversário tem pressa e as condições do gramado são alguns dos ingredientes que fazem das partidas no berço do ex-goleiro Danrlei e onde Taffarel fez as primeiras defesas uma experiência longe de ser considerada tranquila.

Em Crissiumal, Tupi se aproveita de um estádio precário para intimidar árbitros e adversários

– Aqui a grama é alta mesmo, para não deixar o adversário jogar com a bola no chão. E o vestiário do árbitro tem porta que dá para a rua, se precisar fugir. Mas a gente só entrega a chave se tiver beneficiado a gente – confirma o mandatário, sério na primeira afirmação, jocoso na segunda (embora o vestiário de fato tenha a porta para a rua).

Em 2015, o Tupi não perdeu nenhum dos sete jogos do campeonato. O último revés foi na primeira rodada de 2014, para o Cerâmica (a eliminação para o Brasil-Fa, nas quartas de final, foi nos pênaltis). Para o presidente, mérito da química entre torcedor e equipe:



Arquibancada sem manutenção, falta de iluminação, vestiário apertado para visitantes, grama alta e irregular, ou seja, tudo que a entidade máxima do futebol não aprova

– Hoje não cabe mais a violência ou ganhar na marra. O que nos faz muito fortes aqui é a força de vontade dos atletas e a empolgação da torcida. Muitas vezes nos taxam de os “alemão louco” de Crissiumal (risos), mas é porque a gente faz futebol de uma maneira muito difícil. Claro que não conseguimos das as melhores condições, mas procuramos receber a todos da melhor maneira possível

Mas a verdade é que a mística do caldeirão é só parte da história. Boa parte do público que vai aos jogos é espectador quase passivo. Tanto que cadeiras de praia são liberadas no lado oposto às arquibancadas, assim como a cerveja.



Futebol contra o tédio

Um dos torcedores mais assíduos do Tupi talvez seja um dos que melhor sintetizam a importância do futebol para Crissiumal. Dono de uma lancheria na rua principal da cidade, Vilmar Pase (foto), 58 anos, conta que assistir aos jogos do Tupi ou dos torneios de várzea é a diversão possível no pacato município de 14 mil habitantes, onde cerca de cinco mil são aposentados.

– É a diversão que a gente tem por aqui. Não tem outra coisa pra fazer – comenta.

Vilmar sequer é nativo da capital das agroindústrias. Paranaense de Palotina, deixou o emprego como representante comercial para descer ao Rio Grande com a esposa crissiumalense, que o ajuda a manter a lanchonete adquirida há dois anos, época da mudança. Mas não esconde a saudade que sente do Paraná:

– Não me adaptei ainda. Aqui a gente está muito distante de tudo, os acessos são ruins, falta muita coisa. Palotina também é pequena, tem 30 mil habitantes, mas é perto de Cascavel, Marechal Cândido Rondon...

Para Vilmar, aderir ao Tupi não foi apenas uma forma de escapar do marasmo, mas também um meio de se sentir participante da comunidade. Na última temporada, não deixou de ir a um jogo sequer. E considera a torcida um fator decisivo para a campanha invicta em casa na última Divisão de Acesso.

– A torcida empurra muito o time, cobra dos jogadores quando sente que falta vontade. E claro que se for preciso dá aquela pressionada no bandeirinha. Porque perder em casa é proibido – confessa o torcedor.




Para além da mística


Mais do que colocar os adversários para ferver no calor que deve se estender até o fim da primeira fase da Divisão de Acesso, o Tupi também quer ganhar na bola. Pois para alcançar uma classificação não basta ser imbatível no caldeirão e não somar pontos longe de Crissiumal. A aposta para 2016 é em um time que sabe onde pisa ao desfilar pelos esburacados campos do Interior.

– Esse ano a competição será ainda mais difícil. Tem a presença do Caxias e todos os clássicos regionais que são muito acirrados para nós. Trouxemos 17 atletas de fora, muitos deles bastante rodados, e só iremos complementar com a base – comenta o presidente Paulo Haas.

Apesar de partilhar da dificuldade financeira comum aos times do Estado, o investimento do Tupi fica um pouco acima da média das equipes do Grupo B. A folha chega a R$ 60 mil mensais, valor que apenas o Caxias deve superar. Os recursos chegam através dos associados (cerca de 220 contribuintes em dia) e patrocinadores atentos ao que o futebol representa para a região.

A principal aposta do Tupi é o meia Diogo, 30 anos, mais conhecido por ter sido, ao lado do irmão gêmeo Diego, uma promessa não cumprida da base do Inter.

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Frederico Westphalen União Frederiquense

FICHA TÉCNICA

Nome: União Frederiquense de Futebol
Fundação: 3 de agosto de 2010
Distância de Caxias do Sul: 406 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 5h30min
Folha de pagamento estimada: R$ 45 mil

Estádio: Estádio Vermelhão da Colina
Capacidade: 5 mil pessoas
Condições gerais:
Apesar da falta de iluminação, que obriga os jogos a serem marcados para o dia, as condições de gramado, vestiários, cabines de imprensa e segurança

Com previsão para ser inaugurado em 2018, o novo estádio do União Frederiquense talvez seja o projeto mais ambicioso em andamento no Interior gaúcho. Trata-se de uma arena para confortar 10 mil pessoas, com espaço para lojas, restaurantes, amplo estacionamento e estrutura para todo tipo de evento. Erguido em uma área de 11 mil hectares, terá o formato de barril – uma alusão ao antigo nome do município, Vila Barril – e estará próximo ao futuro centro de treinamentos das categorias de base e do profissional, também em fase de construção.

Uma ambiciosa arena multiuso é a aposta do União Frederiquense para mudar de patamar


As obras para a casa que irá substituir o Vermelhão do Colina, este locado junto aos donos do antigo clube Itapajé, iniciaram em julho de 2013. Os R$ 3 milhões orçados são recursos próprios do clube, oriundos da venda de lotes de um condomínio que será construído ao lado da arena. Investimento grande para o tamanho atual, mas ideal para o patamar que o União espera atingir.

– É um projeto visionário, que me deixou encantado quando cheguei aqui. A gente roda o Interior e vê estruturas muito antigas e precárias, e aqui as pessoas estão projetando o futuro. Acho que o União está no caminho certo para se tornar um dos grande clubes do Estado daqui três ou quatro anos – projeta o gerente de futebol José Damasceno, o Zezinho..



Aos 33 anos, Zezinho é um dos mais jovens gestores do futebol gaúcho. Natural de Pelotas, foi jogador dente-de-leite do São Paulo na mesma época de Kaká e Júlio Baptista. No Morumbi, era comandado pelo técnico Lisca, que o levou para o Estádio Beira-Rio em uma leva de meninos gaúchos que atuavam pelo time paulista.

Novo estádio em Frederico Westphalen deve ser inaugurado em 2018 e vai custar R$ 3 milhões

Aos 18 anos, foi dispensado e recomeçou a vida no futsal da ACBF, onde ficou por três anos na virada dos anos 2000. Na carreira de gestor, iniciou em Santa Catarina, passou por Passo Fundo e chegou ao União Frederiquense no fim de 2015, para encaminhar um recomeço do clube após uma passagem deficitária na Série A do Campeonato Gaúcho.

– O União sempre teve bons recursos, mas a participação no Gauchão, principalmente quando se desenhou a luta para não cair, forçou decisões que elevaram os gastos. Este ano tivemos que apertar um pouco o cinto para poder dar uma respirada e pensar em levar a temporada de 2016 de uma forma sadia, sabendo que em 2017 serão duas vagas e aí podemos sonhar em inaugurar o novo estádio entre os grandes clubes.



Projeto: Cartaz no atual estádio mostra a casa nova para daqui a três anos

Geral do Vermelhão


Frederico Westphalen é uma dessas cidades que têm no futebol uma paixão à flor da pele. O esporte está entranhando nos moradores que vibram com os campeonatos de várzea e as rivalidades locais, que levam alguns times amadores a terem investimento equivalente ou até superior ao do clube profissional, o União Frederiquense.

Da fusão de duas tradicionais equipes que penavam para se profissionalizar, o Ipiranga e o Itapajé, em 2010 surgiu o União. E a mistura do verde do Ipiranga com o vermelho do Itapajé (mais o sugestivo branco da paz), deu liga.

– A cidade abraçou o União, porque o nome já sugere isso. Hoje ninguém se identifica mais como torcedor de um ou de outro. E a organizada veio para fidelizar e apoiar o time, indo junto aonde ele for – comenta Jocemar Ramos, 33 anos, presidente da Geral do União.

Joce, como é conhecido, é empresário. Dono de uma galeteria e uma prestadora de serviços. Conta que a torcida agrega cerca de 150 membros cadastrados, que não perdem uma partida do time no Vermelhão da Colina. Nos jogos fora de casa, é fácil encher um ônibus com 40 ou 50 apaixonados.

– É uma torcida de pessoas do bem, ninguém vai ao estádio para brigar. Pelo contrário, a gente sempre procura fazer contato com representantes das torcidas adversárias antes dos jogos, seja quando viajamos ou quando os recebemos – explica.

Tão recente quanto a conquista do carinho da comunidade, foi a ascensão do Leão da Colina. Em 2013, o time não conquistou vaga na Série A por detalhe, perdendo um jogo em casa para o Guarani de Camaquã no quadrangular final. No ano seguinte, o acesso veio em dois jogos contra o Brasil-Fa. A participação no Gauchão, porém, foi tímida e redundou no retorno à Divisão de Acesso.

– Acho que o time não estava pronto ainda. Mas depois que sobe a primeira vez, fica aquela vontade de querer voltar – almeja o torcedor Joce.



Sonho X Realidade: Ex-lateral Jonathan largou a bola depois de viver histórias hilárias

Interior como ele é

Não se pode retratar as agruras do futebol do Interior sem levar em consideração o personagem que mais sente na pele a discrepância de realidades dentro de um mesmo esporte profissional: o jogador.

Morador de Frederico Westphalen, Jonathan Pertile, 27 anos, tentou a carreira nos gramados dos 15 aos 21 anos. Iniciou na base do Caxias, em um time que revelou talentos como Eduardinho, hoje no Náutico, e Rômulo, atualmente na Juventus, da Itália.

Sem firmar espaço, rodou por Paraná, J. Malucelli, Tubarão, Santo Ângelo e Juventus, de Santa Rosa. Como não conseguia passar mais de seis meses em cada clube,desistiu:

– Chega uma idade que tu precisa de um bom empresário. E mesmo assim é difícil. Mora em alojamento precário, recebe com atraso, come o pão que o diabo amassou.

Formado em Ciências Contábeis, o ex-lateral é servidor municipal e até o ano passado coordenava a base do União. Agora, é só conselheiro do clube. Como jogador viveu histórias que Neymar e Messi não acreditariam:

– Vestiário que tem que dividir espaço com o eletricista, jogador que é substituído e vai no bar comprar cerveja. E, por aí, vai. Então, fui estudar!

Assista o vídeo



Bento Gonçalves Esportivo

FICHA TÉCNICA

Nome: União Frederiquense de Futebol
Fundação: 28 de agosto de 1919
Distância de Caxias do Sul: 43 km (condução)
Tempo de viagem estimado: 40min
Folha de pagamento estimada: R$ 50 mil

Estádio: Montanha dos Vinhedos
Capacidade: 15 mil pessoas
Condições gerais:
Gramado precisa de reparos. Boa estrutura de vestiários e cabines de imprensa e arquibancadas em bom estado

Alguns estádios do Interior gaúcho passaram a fazer parte do imaginário do torcedor e fã do futebol jogado no Sul do país. Locais onde mesmo um campeão de UEFA Champions League entraria em campo sabendo que a peleia seria difícil, devido ao bafo da torcida nas arquibancadas bem próximas ao campo. Um desses templos míticos é o antigo Estádio da Montanha, tradicional casa que serviu ao sportivo, de Bento Gonçalves, até 2003. A troca no ano seguinte pela imponente Montanha dos Vinhedos afastou parte da torcida.

Com um estádio afastado da cidade e uma torcida tímida, resta ao Esportivo se impor na bola mesmo


Distante do centro da cidade da mesma forma que as arquibancadas também passaram a ficar longe do gramado, é um estádio considerado rio, como uma casa grande demais para uma família pequena.

Reverter parte desta resistência passa não apenas por um bom trabalho de marketing, mas principalmente por melhores campanhas nas quatro linhas. Nos últimos anos, o Tivo se acostumou a oscilar CAMPO NEUTRO em casa fria e longe mentação correta dos atletas até dinheiro para pagar os salários. Aqui não falta nada, há profissionais em odas as áreas e a gente faz o gerenciamento apenas do campo e do vestiário. Isso que me deixa motivado – destaca Rinaldo Lopes Costa, o Badico.

Fazer do Esportivo uma equipe que volte a se impor em seu estádio é um dos objetivos impostos a Badico não apenas pela direção, mas pelo próprio espírito de ompetição que o consagrou artilheiro do Gauchão pelo Inter-SM, em 1998. Para o bageense, a forma de fazer os adversários voltarem a temer o alviazul da Montanha é pela bola.



– Joguei várias vezes contra o Esportivo na Montanha e sabia que era quase impossível ganhar lá dentro. Como aqui a arquibancada fica muito longe do campo, o fator local terminou e a gente precisa ser capaz de ganhar jogando futebol mesmo, com triangulação e velocidade. Não tem mais como ganhar dando “de bico”. entre a Série A e a Divisão de Acesso.

Em 2015, não foi parar na humilhante terceira divisão por detalhe, salvando-se apenas no último jogo da primeira fase. Esse ano, a nova direção aposta em um conhecedor dos meandros das divisões inferiores do Gauchão: Badico.



Lição do vestiário: Badico tem a missão de fazer o time ser forte como mandantes

Aos 47 anos, o ex-atacante que empilhou gols nos campeonatos gaúchos dos anos 90 ainda busca sucesso como técnico. Mas a experiência comandando times como Inter-SM, Bagé e Farroupilha, de Pelotas, já o tornaram um "cascudo" da casamata. Com a estrutura do time errano, acha que pode alavancar na carreira.

- Sempre encontrei dificuldades logísticas e de estrutura que não me davam a tranquilidade para focar no trabalho em campo. Quando falta estrutura, tu precisa ir atrás desde a alimentação correta dos atletas até dinheiro para pagar os salários. Aqui não falta nada, há profissionais em todas as áreas e a gente faz o gerenciamento apenas do campo e do vestiário. Isso que me deixa motivado _ destaca Rinaldo Lopes Costa, o Badico.

Fazer do Esportivo uma equipe que volte a se impor em seu estádio é um dos objetivos impostos a Badico não apenas pela direção, mas pelo próprio espírito de competição que o consagrou artilheiro do Gauchão pelo Inter-SM, em 1998. Para o bageense, a forma de fazer os adversários voltarem a temer o alviazul da Montanha é pela bola.

- Joguei várias contra o Esportivo na Montanha e sabia que era quase impossível ganhar lá dentro. Como aqui a arquibancada fica muito longe do campo, o fator local terminou e a gente precisa ser capaz de ganhar jogando futebol mesmo, com triangulação, velocidade. Não tem mais como ganhar dando "de bico".



Lição do vestiário: Badico tem a missão de fazer o time ser forte como mandantes

Um time que não acompanha a estrutura


Entre os diversos fatores que levaram ao declínio do Esportivo ao longo da última década e meia, o atual vice-presidente de futebol, Marcelo Vignatti, o Palito, acredita que a falta de continuidade no trabalho das direções que passaram pelo clube impediram a realização de um bom planejamento. De forma que o investimento feito para erguer uma estrutura invejável fora de campo não foi correspondido à altura pelas equipes montadas para representar o Tivo.

- A estrutura aumentou, mas quem passou por aqui não conseguiu fazer com que o futebol acompanhasse. Alguns diretores iniciaram trabalho e não terminaram, pessoas que sempre ajudaram foram se afastando, e com isso o clube passou por um certo abandono. Hoje não tem mais o empresário abnegado que banca o clube com dinheiro do próprio bolso. É preciso fazer um trabalho profissional para manter o clube saudável - avalia o vice-presidente.

Palito é um ex-volante revelado no Estádio da Montanha. No início da carreira, início dos anos 90, chegou a treinar três meses o Real Madrid B, tendo a chance de jogar nos reservas contra Butragueño, Hugo Sanches, Bernd Schuster e outros nomes que brilhavam no poderoso time espanhol. Mas o sonho europeu logo deu lugar à realidade do futebol interiorano, onde ajudou a levar ao acesso o Guarany de Garibaldi em 1992. Aos 30 anos, sem muitas perspectivas, encerrou a carreira no Blumenau. Em dezembro do ano passado, Palito, hoje com 43 anos, recebeu o convite para comandar o futebol do Esportivo após 18 anos longe do futebol _ período em que se dedicou exclusivamente ao comércio de móveis.

Além de buscar melhores resultados em campo, Palito também quer ajudar a incrementar o número de sócios do Esportivo, que hoje não chega a 600. Considera que é preciso estimular a renovação da torcida pela sucessão familiar, pois parte do público que o viu surgir para o futebol já abandonou o hábito de ir ao estádio. Mas sabe que as arquibancadas só voltarão a vibrar com um time capaz de honrar a tradição quase centenária do clube. E o dirigente confia que chegou a vez de entregar isso ao torcedor:

- Tivemos a preocupação de identificar o técnico com o perfil adequado e jogadores que sabem onde vão pisar na Divisão de Acesso, porque já passaram por essa competição e sabem o que esperar de cada adversário. Não temos como saber o resultado desse trabalho, mas acho que não vai ser fácil ganhar do Esportivo.

Assista o vídeo



Design e programação:

Guilherme Ferrari


Arte:

Charles Segat

Reportagem:

Andrei Andrade


Fotografia:

Felipe Nyland