Principal rua do Centro de Blumenau, a XV de Novembro foi tomada pela população radiante que comemorava a volta do Sentinela do Vale. Mais do que as calçadas, a via estava lotada e apenas uma pequena trilha ficou livre para o desfile do grupo de militares do então 23º Regimento de Infantaria, que voltava da fronteira Sul de Santa Catarina nove dias após o golpe que depôs um presidente que tinha título de Cidadão Blumenauense, João Goulart.

Jango, como era conhecido Goulart, foi eleito vice-presidente da República em 1960, ganhando maioria de votos em Blumenau. O presidente, Jânio Quadros, renunciou em 1961, quando os militares já ensaiavam uma tentativa de tomada do poder. Eles queriam impedir que Jango ocupasse a cadeira de presidente, o que ocorreu ainda no mesmo ano.

O golpe militar se concretizou em 1964, quando Jango deixou a sede do governo, no Rio de Janeiro, em 1º de abril. Após seguir para Brasília, o presidente resolveu se refugiar em Porto Alegre. Já no dia seguinte os militares blumenauenses do 23º RI vão para o Litoral Sul do Estado. O objetivo é proteger a divisa caso Jango resolva retornar com tropas do Rio Grando do Sul e o apoio do cunhado Leonel Brizola, deputado federal na época, na tentativa de combater o golpe. De acordo com a historiadora e diretora do Patrimônio Histórico de Blumenau, Sueli Petry, uma parte dos militares ficou em Gaspar, enquanto o restante seguiu até Itajaí e tomou o rumo à região de Criciúma pelo caminho que se transformou na BR-101.

Em uma semana os militares do Sentinela do Vale retornam a Blumenau como heróis e símbolos do novo governo sem terem feito nada além de guardar divisas.

 

 

João Goulart, presidente deposto por autoridades militares há 50 anos, ganhou maioria de votos na eleição de 1960 na cidade e tinha título de Cidadão Blumenauense. Após o golpe que fez o chefe de Estado deixar a sede do governo federal em 1º de abril de 1964, a homenagem foi retirada e Blumenau viveu anos de forte crescimento econômico e apoio ao regime militar

Um dia após o presidente Jango deixar a sede do governo federal, os militares de Blumenau já mostram apoio ao novo governo – que tem o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili, como chefe da República. A tropa do 23º Regimento de Infantaria, conhecida como Sentinela do Vale, vai até o Sul do Estado guardar a divisa com o Rio Grande do Sul, de onde se teme um avante de Jango contra o golpe.

O grupo conhecido como Sentinela do Vale volta a Blumenau uma semana depois e desfila pela rua XV de Novembro lotada de civis que mostram seu apoio ao novo regime militar.

 

Ainda há muita coisa que ficou à sombra dos porões da ditadura. Trazer esses relatos à tona é o desafio da Comissão Nacional da Verdade, que trabalha em todo o país para revelar as violações de Direitos Humanos durante o período em que os militares estiveram no poder. Em Santa Catarina ela é vinculada à Secretaria de Estado da Casa Civil e está em atividade desde março do ano passado.

Mas chegar até as informações é uma tarefa árdua. Segundo a professora e coordenadora do Coletivo Catarinense pela Memória, Verdade e Justiça, Derlei Catarina de Luca, o trabalho é lento, principalmente pela falta de colaboração das Forças Armadas.

– Eles poderiam facilitar, mas apenas uns poucos se dispuseram a falar até agora. Ainda não nos deram acesso aos arquivos, principalmente o Cenimar (Centro de Informações da Marinha), que dirigia a repressão em Santa Catarina.

Apesar da dificuldade, alguns dados já foram possíveis de ser computados. Em todo o Estado foram cerca de 580 prisões, sete assassinatos e três desaparecimentos. No Vale do Itajaí pelo menos 46 pessoas foram presas, sendo 27 em Itajaí e 19 em Blumenau. A maioria dos detidos nas duas cidades tinha ligação com sindicatos.

Para ajudar a elucidar os casos aqui da região foi firmada uma parceria com a Furb, por meio do professor Nildo Inácio. Uma audiência pública já foi realizada na universidade para explicar o trabalho.

– Seguimos trabalhando para encontrar as pessoas. Temos relatos que até um relojoeiro de Blumenau foi preso, chamado de Erwin Lueschner. O engenheiro e Superintendente da Ferrovia Blumenau também está entre os detidos. Ele se chamava Saul Buchelle ou Bueschner, não conseguimos identificar a grafia correta do sobrenome – diz Derlei.

Segundo ela, o objetivo é encontrar os ex-presos ou seus familiares e pede que se alguém conhece ou tem notícias, que procure a comissão pelo -mail coletivomvj@hotmail.com.

 

 

Pesquisa: Derlei Catarina De Luca

Fonte: Entrevistas individuais e processos
existentes na Secretaria de Justiça e Cidadania

 

http://videos.clicrbs.com.br/sc/jornaldesantacatarina/video/jornal-de-santa-catarina/2014/03/anos-golpe-militar-blumenau/71138/

Reportagem especial do Santa relembrou, em 2012, casos investigados pela
Comissão da Verdade no Vale. Clique nas frases e leia os textos na íntegra

As movimentações pré e pós o Golpe Militar em Blumenau.

Fontes: historiadoras Sueli Petry e Cristina Ferreira; publicação Acib Blumenau - 90 Anos de Memória

Edição

 

Amanda Fetzner

Textos

 

Aline Camargo | Julimar Pivatto

Design

 

Aline Fialho | Valquiria Ortiz

Imagens

 

Larissa Neumann | Lucas Amorelli