Para onde caminha

nossa fé

Reportagem: Jean Laurindo

jean.laurindo@santa.com.br

30/6/2017

É A MESMA ESCOLHA DOS SEUS PAIS?

 CATÓLICOS (APOSTÓLICOS + ORTODOXO

 EVANGÉLICOS LUTERANOS
(IELB + IECLB)

 EVANGÉLICOS (PENTECOSTAIS +   NEOPENTECOSTAIS)

 

 ESPÍRITAS

 ATEU

 

SIM

 

NÃO

 

NÃO SEI

 

92,8%

79,7%

50,7%

38,9%

8,1%

6,1%

18,8%

49,3%

55,6%

83,8%

1,0%

1,4%

0,0%

5,6%

8,1%

Pesquisa do projeto de extensão Focus, da Furb, aponta migração de religiões tradicionais e mais diversidade de crenças em Blumenau

 

Até sair de Apiúna para morar em Blumenau, há cinco anos, Jocélia Nunes, hoje com 35, não havia tido contato com outra religião além do catolicismo herdado dos pais. Chegou a fazer primeira comunhão e crisma, mas sentia as idas à missa mecânicas e, de alguma forma, “mornas”, apenas com senso de obrigação. A rotina na cidade nova com mais responsabilidades aumentou a busca por um bem-estar espiritual e por um propósito de vida. A partir de 2014, passou a frequentar assiduamente os cultos da Assembleia de Deus, no bairro Victor Konder. A aceitação dos pais com a opção religiosa veio com o tempo e fez com que, há um mês, ela se batizasse oficialmente na nova religião.

– Espiritualmente foi uma mudança muito grande. Pude trabalhar melhor sentimentos como paciência, tolerância com erros e confiança de que alguém maior rege nossa vida. É uma sensação que me satisfaz – conta.

Simone Andréa Gomes Grasmük nasceu em família católica e casou-se com o marido luterano. Hoje tem 46 anos, mas foi há 12 que ela encontrou o conforto espiritual que demonstra no tom de voz sempre calmo. Depois de começar a ler por conta própria livros sobre espiritismo, resolveu conhecer um centro no bairro Victor Konder. Desde jovem ela ouvia vozes ao seu redor, mas só após seis anos de estudos diz ter desenvolvido a mediunidade para se comunicar com espíritos, algo que hoje lhe dá mais tranquilidade do que nos tempos da antiga religião, da qual se distanciou. Concilia o trabalho de corretora de seguros com o voluntariado feito quatro dias por semana no centro espírita e se diz cada vez mais satisfeita com a escolha.

– A gente sai leve e feliz das palestras. Entendemos melhor as pessoas, nos relacionamos melhor com elas, nos regeneramos com uma energia que não existe lá fora. É uma fé raciocinada, baseada na razão – sustenta a adepta.

Histórias como as de Jocélia e Simone são cada vez mais comuns entre fiéis blumenauenses. Uma pesquisa do projeto de extensão Focus, que envolveu os cursos de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Matemática da Furb, apontou que 30,8% dos entrevistados já mudaram alguma vez de religião ou crença. Entre os que se declararam como membro de alguma religião, 25% (um a cada quatro) admitiram que o grupo religioso não era o mesmo dos pais. O perfil de quem trocou de movimento é de pessoas entre 16 e 59 anos, com ensino superior completo ou incompleto e renda familiar mais elevada, acima de R$ 3,8 mil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JÁ MUDOU DE RELIGIÃO OU

CRENÇA ALGUMA VEZ?

FREQUÊNCIA

SIM

NÃO

NÃO SEI DIZER

185

409

6

Total: 600 pessoas

COM RELAÇÃO A SUA RELIGIÃO OU CRENÇA,
ATUALMENTE, VOCÊ SE CONSIDERA:

EXTREMAMENTE

ENVOLVIDO

 

 

RAZOAVELMENTE

ENVOLVIDO

POUCO

ENVOLVIDO

NADA

ENVOLVIDO

NÃO SEI AVALIAR

 

GRUPO RELIGIOSO

 CATÓLICOS

 (APOSTÓLICOS + ORTODOXO)

 EVANGÉLICOS LUTERANOS

 (IELB + IECLB)

 EVANGÉLICOS

 (PENTECOSTAIS + NEOPENTECOSTAIS)

 ESPÍRITAS

 

18,1%

38,6%

38,6%

4,4%

0,3%

20,3%

37,7%

39,1%

2,9%

0,0%

52,1%

24,7%

19,2%

4,1%

0,0%

44,4%

44,4%

11,1%

0,0%

0,0%

Para o cientista social, pesquisador do tema religião e professor da Furb Josué de Souza, a pesquisa confirma um movimento de diminuição das chamadas religiões tradicionais, como Católica e Luterana. É nesses grupos que está o maior número de pessoas neutras ou pouco satisfeitas com a crença – 22,6% no caso dos católicos. Entre estes, 42,3% dos entrevistados não concordam com algum aspecto da religião, o maior percentual comparado com as demais. Além disso, católicos e luteranos têm os maiores números de pessoas que se disseram pouco ou nada envolvidas com a crença (43% e 42%, respectivamente).

A doutora em Psicologia Social e professora da Furb Catarina Gewehr acredita que o maior acesso às diferentes formas de comunicação aumenta a possibilidade de reflexão das pessoas sobre as escolhas e é uma das chaves para entender as opções por outras devoções.

– A religião ainda mantém a mesma capacidade de comando, mas agora de forma mais fracionada e com discursos mais voltados ao indivíduo e a promessas mais exequíveis – pontua.

Aonde vão os descontentes

Esse menor envolvimento nas religiões tradicionais favorece o crescimento de outros grupos de devoção. Segundo o professor da Furb Josué de Souza, isso acompanha o panorama de mais oferta no mercado de religiões e confere maior diversidade à fé dos blumenauenses – além das diferentes correntes evangélicas, há menções a cultos afro-brasileiros, Testemunhas de Jeová, judaísmo e outros. Entre as que mais absorvem parte dos fiéis descontentes estão duas correntes para muitos inconciliáveis, mas que em Blumenau guardam semelhanças na atração de devotos: os evangélicos e os espíritas. O primeiro grupo representa 15,4% dos que responderam à pesquisa – somando pentecostais e neopentecostais. No Brasil, o número é de 22%, segundo o IBGE, mas também inclui os luteranos, que em Blumenau estão em maior número pela influência da colonização alemã.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VOCÊ ACREDITA EM DEUS OU ALGUM SER SUPERIOR?

FREQUÊNCIA

Sim

Não

563

37

6,1%
NÃO

93,9%

SIM

Total: 600 pessoas

VOCÊ SE DECLARA COMO SENDO DE ALGUM MOVIMENTO RELIGIOSO, RELIGIÃO OU CRENÇA?

FREQUÊNCIA

Sim

Não

475

88

15,6%
NÃO

84,4%

SIM

Somente para aqueles que responderem SIM à questão anterior: 563 entrevistados

Total: 563 pessoas

ESPECIFICAR EVANGÉLICA

FREQUÊNCIA

NÃO ESPECIFICOU

ASSEMBLÉIA DE DEUS

CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL

BATISTA

PROTESTANTE

PRESBITERIANA

ADVENTISTA

OUTRAS* 
COM 1 CITAÇÃO

32

14

3

3

3

2

2

14

Total: 73

ABA, CRISTO VIVE, DEUS É AMOR, DISCÍPULO DE CRISTO, EVANGÉLICA DA CONQUISTA, EVANGÉLICA CRISTÃ, EVANGÉLICA CRISTÃ DO NORTE, GRAÇA DE DEUS, IGREJA EVANGÉLICA LIVRE, MUNDIAL DO PODER DE DEUS, NACIONAL DA CONQUISTA, QUADRANGULAR, BOLA DE NEVE.

QUAL(IS) MOVIMENTO(S) RELIGIOSO(S),

RELIGIÃO(ÕES) OU CRENÇA(S)?

CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

EVANGÉLICA

(PENTECOSTAL OU NEOPENTECOSTAL)

EVANGÉLICA LUTERANA

(IELB + IECLB)

Espírita

TESTEMUNHA DE JEOVÁ

AFRO-BRASILEIRA

CATÓLICA ORTODOXA

JUDIA

OUTRAS*
COM 1 CITAÇÃO

291

73

69

36

5

3

2

2

8

Total: 489

BUDISTA, BRUXARIA TRADICIONAL, CIÊNCIA CRISTÃ, MORMON, CRISTÃO, MOVIMENTO DA UNIDADE, PAGANISMO

Base de cálculo: 475 respondentes. Resposta Múltipla

FREQUÊNCIA

Praticamente metade dos evangélicos entrevistados (49,3%) não tem a mesma opção dos pais – vêm de outras religiões. Contra eles, porém, pesa um aumento da rejeição. Os evangélicos são desaprovados por 37,7% dos fiéis que se disseram contrários a algum grupo religioso.

– Os pentecostais chamam mais gente e as pessoas estão contentes lá. Mas em uma análise de mercado, quem não é da igreja pentecostal tem dificuldade de aceitá-la. Eles estão em um momento positivo, mas têm dificuldade para conquistar novos adeptos – avalia o professor.

O QUANTO VOCÊ DIRIA ESTAR SATISFEITO
COM A SUA RELIGIÃO OU CRENÇA?

 CATÓLICOS (APOSTÓLICOS + ORTODOXOS)

 EVANGÉLICOS LUTERANOS

  (IELB + IECLB)

 EVANGÉLICOS

 (PENTECOSTAIS +   NEOPENTECOSTAIS)

ESPÍRITAS

MUITO SATISFEITO

 

 

SATISFEITO

 

NEM SATISFEITO,

NEM INSATISFEITO

POUCO SATISEITO

 

 

NADA SATISFEITO

 

 

32,4%

40,6%

67,1%

69,4%

44,7%

53,6%

23,3%

27,8%

17,1%

2,9%

5,5%

2,8%

5,5%

2,9%

2,7%

0,0%

0,3%

0,0%

1,4%

0,0%

A escalada do espiritismo

 

Realidade diferente enfrenta o espiritismo. Ele aparece na quarta posição, com 7,6% dos entrevistados – no Brasil, espíritas somavam apenas 2% da população no Censo 2010, do IBGE. É nesta doutrina que está o maior índice de satisfação com a própria religião, com 69,4% dos adeptos muito satisfeitos. Os evangélicos aparecem logo atrás, com 67,1%.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas ao contrário deste últimos, os espíritas sofrem menos com o estigma da rejeição. Pelo contrário. Entre os entrevistados que disseram ter simpatia por algum outro grupo religioso, os espíritas foram os mais lembrados, com 34,6% de admiradores. Eles também são os que menos discordam de aspectos de sua crença (somente 11,1%) e têm o maior número de extremamente ou razoavelmente envolvidos (88,8%).

– Há uma explicação que não está na pesquisa, mas que é o fato de o espiritismo ser uma segunda religião para muitas pessoas, porque ela possibilita o fiel ser católico e espírita ao mesmo tempo. Algo que não ocorre com os pentecostais – pontua Josué de Souza.

Fiéis revelam tolerância religiosa

 

A fama de resistência do blumenauense ao lidar com algumas diferenças não se confirma quando o assunto é religião, segundo a pesquisa do Projeto Focus, da Furb. Ao apresentar dados como os 79,6% dos entrevistados que dizem não rejeitar nenhuma crença, os 67,2% favoráveis ao uso das mídias pelas igrejas para divulgar suas atividades e os 47,8% de acordo à presença de crucifixos em repartições públicas, o estudo revela uma tolerância do morador da cidade ao lidar e ser exposto a diferentes discursos religiosos. Os entrevistados disseram ainda ser a favor de intervenções de grupos religiosos em projetos sociais, penitenciárias e comunidades indígenas.

Mas nem tudo é harmonia entre as correntes de devoção. Apesar desses sinais, 47,8% dos entrevistados disseram que o blumenauense não tolera todas as formas de manifestação religiosa – o número fica ainda maior (69,2%) quando a questão é sobre o respeito dos brasileiros em geral. Nos hábitos os fiéis também mostram um grau maior de conservadorismo. Búzios, tarô, horóscopo, numerologia, banhos de sal grosso, superstições, exorcismo – todas essas manifestações tiveram no mínimo 71% das pessoas afirmando que não acreditam nelas. Para Josué de Souza, a intolerância religiosa do blumenauense, se existe, é no mesmo patamar do registrado no restante do país.

 

Maioria diz que não procura votar em candidatos da igreja

Bancada religiosa, discussão sobre gêneros nas escolas, legalização do aborto, combate à homofobia, facilitação dos processos de divórcio. Todos esses temas polêmicos aumentaram a visibilidade da relação entre religião e política. Em Blumenau, por exemplo, dois vereadores, um deputado estadual e o vice-prefeito têm relações declaradas com correntes religiosas.

Apesar disso, a pesquisa do Projeto Focus mostra que para os fiéis esta conexão entre religião e política não é tão direta. Entre os 600 entrevistados, 63,5% disseram que não procuram votar em pessoas ligadas ao próprio grupo religioso. Os evangélicos são os que mais admitem escolher candidatos da mesma fé (42,5%). Em seguida, aparecem os católicos (27,5%) e os luteranos (26,1%).

O cientista social, pesquisador do assunto e professor da Furb Josué de Souza analisa que na maioria das vezes os fiéis não votam nos candidatos da mesma religião necessariamente por terem os mesmos valores deles, mas sim por questões sociais, já que é ali o ambiente que ele mais frequenta e mantém as principais relações de amizades e até familiares.

Apesar de algumas linhas de estudos e também lideranças defenderem que o aquecimento do mercado da fé fortalece os grupos religiosos, Souza sustenta que essa maior divisão de fiéis entre diferentes crenças e a visão da igreja como um produto faz com que Blumenau caminhe em direção à secularização – processo em que a religião perde influência social. Outra mudança apontada por ele é uma inversão da fé de um caráter coletivo para o individual.

– É o indivíduo quem agora produz o discurso religioso dele. Então vamos ter uma família pentecostal com um espírita, um budista ou alguém que transite em várias religiões. A religião não tem mais uma função de controle do indivíduo. Pelo contrário, é o indivíduo que a controla. Tanto que, se ele quiser, ele muda. Antes havia uma função social da religião, hoje é uma função privada.

 

Pesquisa ouviu 600 moradores
de Blumenau

 

A edição de 2017 da Pesquisa Focus, da Furb, ouviu 600 moradores de Blumenau em abordagens pessoais e por telefone, entre os dias 8 e 22 de maio. O questionário feito aos entrevistados tinha 13 perguntas sobre os hábitos e práticas de religiosidade e espiritualidade dos blumenauenses. O intervalo de confiança é de 95% e a margem de erro, de 4% para mais ou para menos.

A professora do curso de Publicidade e Propaganda Cynthia Boos de Quadros, coordenadora do Projeto Focus, avalia que os resultados convergem com características dos blumenauenses já identificadas em pesquisas anteriores sobre autoimagem e tolerância.

– A pesquisa não aponta surpresas, mas confirma impressões. Os números nacionais do IBGE às vezes são frios. Pela primeira vez a gente consegue mensurar melhor o quanto os fiéis se movimentam em outras práticas, o quanto estão sensíveis ou simpatizam com outras religiões, onde estão os mais arraigados. A pesquisa tem essa intenção de mapear o que significam essas preferências – sinaliza Cynthia.

 

PERFIL DE QUEM MUDOU DE RELIGIÃO:

SEXO

IDADE

NÍVEL DE INSTRUÇÃO

RENDA

47,6%

52,4%

39,5%

45,4%

15,1%

18,4%

33,0%

48,6%

33,0%

42,2%

16,2%

Masculino

Feminino

16 A 35

Ensino Fundamental

Até R$ 3.748

36 A 59

Ensino Médio

Até R$ 9.370

60 +

S (+)

R$ 9.370 (+)

Total: 563 pessoas

Base de cálculo: 185 respondentes

Curiosidades
da pesquisa

O papa é pop (e o padre também)

 

O Papa Francisco foi a figura mais lembrada pelos entrevistados na hora de indicar uma personalidade ou líder religioso que eles admiram. Foram 165 menções, 27,5% do total. E não são só os católicos blumenauenses que admiram o papa argentino. Entre os ateus, 27% deles citaram Francisco como figura de destaque. Logo atrás das respostas “Nenhum” e “Jesus”, aparece uma referência local, o Padre João Bachmann, com 46 votos (7,7%), à frente de nomes como Papa João Paulo II, Chico Xavier, Gandhi, Buda e Dalai Lama.

TEM ADMIRAÇÃO POR ALGUMA PERSONALIDADE
OU LÍDER RELIGIOSO?

FREQUÊNCIA

PAPA FRANCISCO

NENHUM

JESUS

NÃO LEMBRO/NSD

Pe. JOÃO BACHMANN

PAPA JOÃO PAULO II

CHICO XAVIER

GANDHI

BUDA

DALAI LAMA

Pe. FÁBIO DE MELO

SANTA PAULINA

Pe. MARCELO ROSSI

Me. TERESA

NOSSA SRA. APARECIDA

Pe. ALESSANDRO CAMPOS

MARTIN LUTHER KING

Pr. VALDEMIRO SANTIAGO

Pr. SILAS MALAFAIA

OSHO

Pr. CLAUDIO DUARTE

PADRE ZEZINHO

Pe. REGINALDO MANZOTTI

DEUS

PADRE ROBSON

NOSSA SRA. DE FÁTIMA

MARTIN LUTHER KING

 

BISPO DOM RAFAEL

ALAN KARDEC

DOM EVARISTO ARNS

Pr. ROMILDO SOARES

MIS. DAVID MIRANDA

BISPO EDIR MACEDO

OUTROS*  APENAS 1 CITAÇÃO

 

165

150

93

51

46

43

43

41

33

26

25

24

22

21

15

6

6

5

5

5

4

4

4

4

3

3

3

3

3

2

2

2

2

61

*APÓSTOLO DA IGREJA, APÓSTOLO LUIS ARMINO, APÓSTOLO PAULO, AUGUSTOS NICODEMUS, BEZERRA DE MENEZES, BISPO PASCOAL SPENGLER, CALVINO, CANTOR FERNANDINHO, CONFUCIO, DEEPAK CHOPRA, DESATADORA DE NÓS, DIVALDO FRANCO, DIVINO PAI ETERNO, D. ELDER CAMARA, EDUARDO FRANCO, EXU, FREI PASCOAL, GAIKU, GOKU, HERNANDE DIAS LOPES, IRMÃ DIRCE, JOÃO BATISTA, JOSEPH SMITH, MAOMÉ, MARCO FELICIANO, ME. AMMA BHAGUAN, ORIXÁ, OXUM, PE. ANTÔNIO MARIA, PE. ELIO, PE. FABIAN, PE. HEUS, PE. JOSUE, PE. NILO, PE. PAULO RICARDO, PE. ROBERTO, PES. LOCAIS, PAPA PIOX, PR. ANTONIO LEMOS, PR. ANTONIO MARIA, PR. CEZINO BERNARDINO, PR. EDSON MESQUISTA, PR. JORGE LINHARES, PR. JOSE CAMPOS, PR. MARCIO, PRA. MARCIA, PRS. GERAL, PATRICIA MORAES, PAULO JR., PIRIGRAM-CRISTA, RAFAEL ABRANTER, REI ESCANDINAVO, STA. RITA, ST. ANTONIO, ST. ESPÍRITO, SÃO FRANCISCO DE ASSIS, SRI PREM BABA, TAMIGUCHI, VIRGEM MARIA E ZILDA ARNS.

Fé nenhuma

 

A pesquisa Focus, dos alunos da Furb, mostra ainda que Blumenau tem mais pessoas que não se declaram membros de algum movimento religioso. No Brasil, esse percentual é de 8%. Em Santa Catarina, de apenas 3%. Mas em Blumenau esse número chega quase ao dobro do nacional – 15,6%. Um total de 6,1% disseram não acreditar em Deus e em nenhum ser superior. Uma explicação para isso seria o fato de a cidade ter mais pessoas com o perfil dos chamados sem religião, composto em grande maioria por homens, de 16 a 35 anos, com ensino superior completo ou incompleto e renda familiar intermediária, de até R$ 9,3 mil.

Na contramão desse público, a maioria dos que se declararam de alguma religião ou crença têm perfil praticamente oposto, formado por mulheres, com mais de 60 anos, ensino fundamental e renda familiar mais baixa, de até R$ 3,7 mil.

 

 

Fé cega e pé atrás

 

Embora mostrem envolvimento com diferentes religiões, 34,1% dos fiéis blumenauenses entrevistados revelaram discordar de algum aspecto do grupo religioso ao qual pertencem. Os mais questionadores são os católicos, com 42,3%, seguidos pelos luteranos, que têm 24,6% de discordantes. Os pontos mais controversos foram o celibato clerical (12,9%), o dízimo (8,6%) e a contrariedade ao divórcio (3,7%).

 

 

Entre a crença e os fiéis

 

Quando o assunto é a frequência com que o blumenauense se dedica à igreja, as opiniões se dividem. Somam 25,6% os entrevistados que se dizem extremamente envolvidos, 36,4% razoavelmente envolvidos e 33,8% pouco envolvidos. Os evangélicos são os que se dizem mais envolvidos, com 52,1%. Católicos e luteranos os menos envolvidos, com 43% e 42% de pouco ou nada envolvidos. Entre todas as religiões, 55,3% dizem ir sempre ou quase sempre a celebrações religiosas, ao passo que 40% afirmam comparecer às vezes ou raramente e 14,6%, nunca.

– As pessoas não são tão religiosas como a gente acha que são. A gente acha que há uma efervescência religiosa no Brasil e não tem pela baixa frequência, baixo envolvimento – avalia o professor Josué de Souza.

Breno Carlos Willrich, pastor sinodal da Igreja Luterana no
Vale do Itajaí

Neda Altenburg, vice-presidente do Centro Espírita Fé, Amor e Caridade

Lediel dos Santos, vice-presidente da Assembleia de Deus em Blumenau

O que dizem os líderes religiosos

Catolicismo: Preocupação em evangelizar e experienciar

 

O movimento de fiéis em busca de outras religiões é visto pelo catolicismo em Blumenau como reflexo, entre outros fatores, de uma mudança em que as pessoas querem respostas mais conscientes e individuais. Em razão disso, a igreja tem apostado no conceito de experienciar as celebrações, aumentando o contato pessoal do fiel com cada sacramento e a religião. O bispo da Diocese de Blumenau, Dom Rafael Biernaski, comenta que em vez de preparar casais para o casamento em grupos, por exemplo, agora o acompanhamento é feito de forma individual. Também são feitas visitas a casas e comunidades para evangelização. O processo de divulgação, a partir daí, volta a ser de um em um, após suas boas experiências.

– Há um movimento de pessoas buscarem seitas ou novas igrejas, algumas já fizeram duas experiências que não foram boas e aí há uma perda de fé, outras vão e voltam. É um fenômeno, mas que está em movimento e aberto. A Igreja Católica não está preocupada com isso, mas sim em evangelizar – pontua.

 

 

Luteranismo: Ações para
igreja mais atrativa e inclusiva

 

A relação de Blumenau com o luteranismo vem desde a chegada dos 17 imigrantes – todos luteranos – que fundaram a colônia alemã na cidade em 1850. Hoje o número estimado é de 37,3 mil fiéis na cidade – na pesquisa, 14,5% se disseram luteranos. O pastor sinodal da Igreja Luterana no Vale do Itajaí, Breno Carlos Willrich, reconhece que por algum tempo a religião deixou de pensar na atração de fiéis fora das famílias luteranas. Uma parcela da geração hoje na faixa dos 30 anos não teria mantido o mesmo vínculo com a religião e seria a parte menos envolvida dos luteranos hoje. Isso teria resultado também na diminuição de adeptos, mas o pastor ressalta que nos últimos anos a igreja vem apostando em formas mais atrativas, missionárias e inclusivas com o diferente – como a atenção às pessoas com deficiência e as bênçãos matrimoniais para segundos casamentos de divorciados.

– Não temos apenas missões internas, mas também externas. Nossa igreja já não é tão vista como a igreja dos alemães, somos vistos como acolhedores e também atraímos pessoas de outras religiões. Acreditamos que os fiéis não diminuirão mais, entrarão em um curto período de estagnação para crescer um pouco depois – projeta.

 

 

Espiritismo: Aposta nas
respostas oferecidas

 

Em Blumenau há cinco centros espíritas filiados à Federação Espírita Catarinense (FEC). No Centro Espírita Fé, Amor e Caridade (Cefac), considerado o maior deles, no bairro Victor Konder, de 2 a 3 mil pessoas ao mês se reúnem para palestras e grupos de estudos. Segundo a vice-presidente do Cefac, Neda Melo Altenburg, cerca de metade desse público concilia a crença codificada nos livros de Allan Kardec com outras religiões como catolicismo e luteranismo. Neda reconhece que muitos ainda chegam à doutrina espírita para superar momentos de dor ou perda de familiares, mas defende que o aumento de adeptos ocorre porque as pessoas estão mais à procura de esclarecimentos do que de imposições.

– Para qualquer pergunta da vida o espiritismo dá uma resposta, o que nem sempre acontece em outras religiões. As pessoas veem que a vida continua e essa continuidade dá esperança – pontua.

 

 

Evangélicos: Proximidade
de líderes e crítica ao permissivismo

 

A Assembleia de Deus é considerada a maior igreja evangélica do país segundo o Censo 2010 e, na pesquisa do Projeto Focus, foi a que mais teve membros entre o grupo, com 19,2%, à frente das outras 19 religiões evangélicas citadas. O vice-presidente da Assembleia de Deus em Blumenau, pastor Lediel dos Santos, confirma que a igreja recebeu muitos fiéis nos últimos anos e que boa parte viria do catolicismo. Um dos atrativos para isso, segundo ele, seria a maior proximidade dos fiéis com o líder eclesiástico. Ele acredita que a rejeição alta aos evangélicos já limita um crescimento maior, mas diz que essa imagem negativa estaria mais associada às igrejas neopentecostais.

– Os princípios contemporâneos estão cada vez mais liberais, o mundo é relativista e, como às vezes a palavra de Deus vai contra esse permissivismo, gera rejeição. Mas a verdade continua sendo verdade. Eu ficaria preocupado se isso não causasse nenhum tipo de desconforto – avalia, acreditando que a religião deve continuar a crescer nos próximos anos.

Dom Rafael Biernaski, bispo da Diocese de Blumenau

Edição

Mariana Furlan

Reportagem

Jean Laurindo

Imagens

Lucas Correia e

Patrick Rodrigues

Design e desenvolvimento

Arivaldo Hermes