Arte cada vez mais rara
Turismo de 
compras resiste Reportagem: 
Pedro Machado e Jean Laurindo pedro.machado@santa.com.br jean.laurindo@santa.com.br
P
Os caminhos da sobrevivência O soprador que 
inspirou a estátua Uma fábrica de design
Dúvidas no futuro 
da profissão Vida lapidada em cristal

As dificuldades enfrentadas pelo setor não são recentes. Começaram a aparecer ainda no fim dos anos de 1980 e se agravaram no início da década seguinte com a abertura de mercado. A importação de taças e copos, principais produtos feitos na região, atingiu as indústrias locais em cheio. Eram peças de vidro, praticamente idênticas às fabricadas à mão aqui. A diferença é que, pelo fato de serem feitas em escala industrial, custavam de cinco a seis vezes menos que o mesmo modelo em cristal. Havia diferença de qualidade, mas ela nem sempre era percebida pelo consumidor final, que nas prateleiras das lojas acabava escolhendo a opção que pesava menos no bolso.

 

 “Paradas  no tempo”

 

Vidreiro por 22 anos, o atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Vidros e Cristais de Blumenau e Região, José de Andrade, reconhece que a chegada dos importados, de origem principalmente chinesa e tcheca, atrapalhou, mas diz que a redução drástica da atividade se deve também à maneira que as empresas administraram os negócios. Para ele, as indústrias do setor pararam no tempo:

 

— As empresas nunca se modernizaram. Os empresários imaginaram que nunca teriam concorrência e ficaram na mesmice.

 

Presidente do sindicato patronal local, Antônio Marcos Schroth admite que faltou visão estratégica, mas elenca outros pontos, além da competição com os artigos vindos de fora do país, que inviabilizaram a atividade ao longo dos anos. Um deles é o fato de a fabricação de cristais ser considerada uma atividade industrial e, por isso, recolher IPI, quando a produção é majoritariamente artesanal.

 

— Temos uma carga tributária igual a de uma indústria que processa bens de elevado grau de industrialização. É um pleito antigo do setor a isenção do IPI porque estamos preservando uma arte da região — apela Scroth.

 

A produção também é cara. Só a mão de obra representa algo entre 40% e 60% do custo de uma peça. Boa parte dos produtos químicos utilizada é cotada em moeda estrangeira, encarecendo o processo. Além disso, há gastos altos com gás natural, principal fonte de energia das fábricas. Empresários do ramo ainda reclamam que não existe uma política clara que diferencia o que é cristal e o que é vidro.

 

A criação de um selo de indicação geográfica, um atestado da procedência do cristal e que poderia dar novo fôlego ao setor, chegou a ser estudada. O projeto, no entanto, não evoluiu e hoje está parado.

 

Luxo

A empresa de Marcos aposta na exclusividade das peças

Indústria cristaleira de Blumenau luta para sobreviver e manter uma tradição que requer resistência física, sensibilidade e delicadeza

Pedro Machado

pedro.machado@santa.com.br

 

elas mãos do artesão a bola de massa de cristal aos poucos começa a ganhar forma. O ofício não é simples. Ao mesmo tempo que exige resistência física para suportar o calor do forno - que chega a 1.200°C em seu interior - e força para manusear peças que às vezes pesam mais de 15 quilos, requer sensibilidade para traçar o design diferenciado do copo, da taça ou do vaso. Não existe curso nem mesmo um guia oficial de produção. A escola do artista é o chão de fábrica e o molde da peça é determinado pelo olhar da experiência.

 

Filho de pai vidreiro, Toni Michael Ramos começou cedo. Aos 13 anos já atuava dentro de indústria, numa época em que a lei era mais frouxa com o trabalho infantil em ambientes insalubres. Ele conta que levou seis meses só para entender como lidar com o cristal. Um bom profissional do ramo leva, em média, de cinco a 10 anos para dominar com perfeição todas as técnicas e as etapas da produção - e chega a ganhar até mais de R$ 3 mil por mês. Hoje, aos 40, Toni é um artesão rodado. Apesar disso, pondera:

 

— Todo dia é um aprendizado.

 

Toni ilustra um tipo de mão de obra cada vez mais rara na região. Nos anos de 1980, auge do setor de cristais em Blumenau, a atividade empregava cerca de 3 mil pessoas. Hoje esse número não passa de 300 depois que a Cristallerie Strauss anunciou na última semana o encerramento de suas atividades e a demissão de cerca de 200 funcionários. A empresa sucumbiu à crise, mas não foi a única a definhar por problemas financeiros.

 

Em 2009, a pioneira Cristais Hering, criada na década de 1940, fechou as portas após acumular dívidas estimadas em R$ 300 milhões na época. Sobraram, no município, apenas três companhias do ramo. Há também outra em Pomerode. Nestas condições, são casos raros em toda a América do Sul de quem mantém viva a tradição de moldar o cristal puro de modo 100% artesanal.

Talvez o grande pecado da maioria das fábricas de cristais tenha sido não diversificar seu portfólio ou estratégia antes que a crise batesse à porta. Para Antônio Marcos Schroth, que além de presidente do sindicato patronal do setor na região é diretor da Oxford, dificilmente uma empresa que viva só do cristal ou de uma única proposta de produto terá retorno do capital investido ao longo do tempo se não agregar outras tecnologias à produção.

 

— O cristal ainda é viável, mas não pode ser a única estratégia de uma empresa. Quem depender só disso não vai conseguir ter êxito — analisa.

 

Famosa por sua linha de porcelanas, a Oxford entrou no ramo em 2009. Comprou uma fábrica de cristais em Pomerode e incorporou copos e taças do material para ampliar o seu mix de produtos para mesa. A linha ainda é um grão de areia no faturamento do grupo, cerca de 3%, mas o executivo aposta que a força da marca, consolidada em nível nacional, ajude a expandir as vendas também neste segmento.

 

O caso da Cristal Blumenau, por outro lado, é um pouco diferente. O carro-chefe sempre foram os copos e as taças - mesmo segmento de atuação da Strauss -, mais suscetíveis à concorrência dos importados. A situação da empresa é difícil. Nas últimas semanas, um dos três fornos da linha de produção foi desativado e cerca de 25 funcionários foram mandados embora. Os que ficaram estão recebendo os salários de maneira parcelada.

 

Para tentar virar o jogo, a empresa decidiu investir na personalização. Foi durante um curso de sommelier de cervejas que o diretor Ednaldo Machado teve a ideia de criar copos específicos para a bebida em parceria com produtores e cervejarias.

 

— Eu percebi que o cervejeiro tem uma característica em comum: ele vê a receita da cerveja como um filho, tem paixão por ela, e quer vê-la servida num copo adequado — conta.

 

Hoje as encomendas específicas para bebidas especiais - além das cervejas, a empresa também faz copos e taças para vinhos e destilados - representam 40% do faturamento da Cristal Blumenau, que já fez negócios com pelo menos 130 cervejarias. Ampliar o atendimento a esse nicho, surfando até mesmo na onda da gastronomia gourmet, é o caminho para evitar o mesmo fim que outras indústrias já tiveram.

 

— A gente entende que daqui para frente só temos uma chance de sobrevivência, que é aperfeiçoar esse mercado e conter custos para ter fôlego para seguir adiante — diz Machado.

 

Experiencia

Toni (de boné bege) atua no setor desde a adolescência

O cristal manipulado em Blumenau não se transforma apenas em copos e taças. A Vidro House e a Di Murano, as outras duas empresas remanescentes do setor na cidade, apostam em linhas mais decorativas, com alto valor agregado.

 

— Costumo dizer que não somos uma fábrica de cristais, mas sim uma fábrica de design — diz o presidente da Di Murano, Marcos Paulo Cavalli.

 

A empresa foi fundada em 1999 e hoje se destaca na produção de cristais grandes e de luxo, sobretudo vasos de cores variadas. Algumas das peças chegam a levar ouro 24 quilates. Como são mais ricas em detalhes e adornos, podem demorar mais de uma hora para serem feitas - e é por isso que o volume de itens é mais restrito. Para o consumidor final, o preço de alguns desses itens ultrapassa os R$ 5 mil.

 

Os produtos da Di Murano estão presentes em cerca de 400 pontos de venda no país. A empresa também exporta para os Estados Unidos, Europa e Arábia Saudita. Apesar de lidar com um público de maior poder aquisitivo que, em tese, sofre menos nas crises, a empresa não navega em calmaria. Segundo Cavalli, os esforços hoje estão concentrados em manter a estrutura atual e evitar demissões. Também não há muito interesse em ampliar a produção.

 

— Queremos fazer um produto exclusivo, e aumentar o volume faria com que a empresa perdesse essa característica - pondera o executivo.

Homenagem

Carlos foi escolhido para ser o modelo da estátua que fica na Praça Governador Jorge Lacerda, no bairro Itoupava Norte

 

Ademir Richter lembra bem das filas que se formavam na entrada das lojas de cristais entre os anos de 1970 e 1980. Ele foi vendedor de balcão da Cristais Hering e frequentemente se deparava com a chegada de ônibus carregados de turistas que vinham atrás das peças cheias de brilho fabricadas em Blumenau.

 

— Chegamos a fechar uma loja de tanta gente que tinha dentro delas — lembra.

 

Ao lado dos artigos têxteis, os cristais eram os principais itens da lista de produtos que promoviam o turismo de compras, muito forte no município naquela época. A globalização dos negócios e, mais recentemente, a facilidade de aquirir qualquer coisa pela internet fez a prática diminuir, mas ela ainda resiste.

 

Ao deixar a sede da Cristal Blumenau, a reportagem flagrou um ônibus de turismo estacionando em frente à loja de fábrica da empresa. Vinha de Balneário Camboriú e transportava um grupo de cerca de 30 senhoras de Fortaleza (CE) que estavam hospedadas no município do litoral. A guia do passeio, Vera Lúcia Rodrigues, contou que as viagens de compras já foram mais frequentes - a crise, diz ela, diminuiu a demanda. O que não mudou foi o encanto de quem se depara com as peças feitas cuidadosamente à mão.

 

— São lindas. A gente até encontra lá em cima (no Nordeste), só que é muito caro. Tem que aproveitar — disse Arinete Xavier, professora aposentada de 70 anos que integrava o grupo.

 

Jean Laurindo

jean.laurindo@santa.com.br

 

Quando o artista pomerodense Ervin Curt Teichmann visitou o setor de fundição da hoje extinta Cristais Hering, em 1980, a imagem que mais despertou inspiração foi o trabalho manual de Carlos Gianesini, conhecido entre os artesãos como Gato pela agilidade no trabalho. Sindicatos e empresas do ramo haviam solicitado um monumento para homenagear os trabalhadores da produção artesanal de cristais de Blumenau, que teria nos anos seguintes sua época de ouro.

 

Gianesini era soprador de peças grandes da Cristais Hering e moldava um artefato de cristal com a cana – nome dado ao bastão com o qual os artesãos dão forma às taças e jarras com a massa ainda quente – quando o artista parou para observá-lo. Logo se decidiu sobre a figura que poderia representar a categoria.

 

— Eu era prático nisso. Quando vi ele pela fábrica comecei a fazer meu ritual de sempre. Ele estava abaixado, com a mão no rosto, só olhando. Pediu para eu parar de soprar por um instante e gritou: "é isso!". Eu nem sabia para o que era. No dia seguinte eu estava no ateliê dele para posar para a estátua. Levou o dia todo — relembra Gianesini, hoje com 61 anos.

 

A primeira mostra foi elaborada em madeira. Mais tarde, foi reproduzida em concreto, na forma que até hoje enfeita a Praça Governador Jorge Lacerda, próximo ao antigo Cine Mogk, na Rua 2 de Setembro, no bairro Itoupava Norte. A praça foi restaurada em 2012. Como o mercado de cristais, o monumento também sofre com marcas do tempo, como a pintura desgastada da escada ou um pedaço danificado na mão direita da estátua. Não há placas contando mais detalhes sobre a obra ou o trabalhador que representou a categoria. Mesmo assim, o monumento ainda eterniza na paisagem do bairro a imponência que o setor de cristais um dia já representou em Blumenau.


O motivo da escolha da praça é uma incógnita para Gianesini, mas o fato é que desde então o local passou a ser conhecido como a Praça do Soprador e serviu inclusive de ponto de encontro para assembleias trabalhistas da categoria. Trinta e seis anos depois, a fisionomia do antigo encarregado da Cristais Hering está um pouco diferente do semblante eternizado na estátua. Algo que não mudou, porém, foi a satisfação de Gianisini em ter colaborado com algo que enaltece e valoriza os artesãos.


— Não ganhei nada e fiz tudo com muito gosto porque éramos muito unidos. Alguma coisa tinha que acontecer para homenagear os vidreiros, porque os que sofriam de verdade éramos nós. Você não faz ideia do que é trabalhar numa fábrica de cristal no verão de Blumenau — ressalta Gianesini.

 

Cristal no sangue

 

A relação de Carlos Gianesini com o setor de cristais teve início em 1969, quando ele começou a trabalhar na Cristais Hering. Lá desenvolveu diversas funções e chegou a ser encarregado geral. Onde mais atuou foi na produção de jarras, soprando e fazendo o acabamento. Depois, aprendeu a fazer artesanato, habilidade da qual se orgulha até hoje.

 

 — É muito mais complexo porque não tem molde, é tudo feito a mão — explica.

 

Após 19 anos de casa, decidiu assumir um desafio na Di Trevi Indústria de Cristais, de Indaial. A experiência durou dois anos. Conhecedor de todo o processo de fabricação artesanal, Gianesini decidiu abrir a própria empresa de cristais, em 1990.

 

O projeto sobreviveu até 1999 – nos últimos quatro anos, a produção foi transferida de Blumenau para Doutor Pedrinho. A companhia chegou a ter 60 funcionários e produzir 5 mil peças por dia. O foco eram enfeites e peças de artesanato. O fim da década de 1990 marcou também a saída de Gianesini do ramo de cristais. Ele já percebia que a chama que moldava os bons resultados do setor começava a arrefecer.

 

— De 2000 em diante eu não trabalhei mais com cristal. Abri uma empreiteira e agora estou prestes a me aposentar. Acho que o mercado está se acabando. É tudo muito caro, a matéria-prima, a produção. Mão de obra não se encontra mais. Acho mais fácil que o setor sobreviva com fábricas pequenas e mudando o foco, apostando em artesanato, por exemplo — indica, sugerindo um possível sopro de esperança a quem ficou no segmento.

 

A vida de Gianesini no setor de cristais começou aos 14 anos, algo que o orgulha a ponto de defender a possibilidade de menores de idade voltarem a trabalhar nas fábricas do ramo. Para ele, o setor esbarrou em obstáculos como a dificuldade de diversificar produtos e a concorrência com as peças importadas de vidro, que para ele não têm comparação com o cristal artesanal blumenauense — “é como um bolo inglês comum e um bolo de confeitaria”, exemplifica.

 

Os 16 anos longe desse mercado não foram suficientes para afastá-lo de vez dos cristais. A esposa conta que até hoje ele acorda dando ordens a funcionários que já não são seus subordinados há mais de 20 anos.

 

— Dizem que o cristal é feito  com chumbo e que o chumbo entra no sangue e fica. Realmente quem trabalha com isso nunca quer sair e nunca mais esquece — afirma.

Carlos Gianesini saiu do ramo por opção quando enxergou que o mercado de cristais perdia o brilho de anos anteriores. Outras centenas de profissionais, porém, deixaram postos de trabalho no setor de forma mais forçada.

 

Nos últimos meses, Cláudio Novak perdeu as contas de quantos colegas de trabalho tinham pedido a conta ou sido demitidos. Aos 38 anos, ele era encarregado dos foguistas – profissionais que alimentam os fornos com a massa base do cristal e mantêm as temperaturas ideais e trabalhava há 10 anos e sete meses na Cristallerie Strauss, que fechou as portas no dia 24 de junho. Mesmo em crise e com salários sendo pagos com dificuldade, a notícia do encerramento das atividades da empresa foi recebida com surpresa.

 

— Escutávamos dizer que a empresa tinha pedidos, era uma marca tradicional. Nunca imaginávamos que iria fechar — conta.

 

Morador do distrito da Vila Itoupava, Cláudio trabalhou por quatro anos em uma empresa de peças para bicicleta e em outra de peças de porcelana por mais 10. Experiências que poderão ajudar a decidir o futuro. Casado e pai de quatro filhos, ainda no sabe que caminho tomará. Pretende providenciar o seguro-desemprego para ter algum fôlego nos próximos meses. Depois disso, tem sérias dúvidas se conseguirá continuar no ramo de cristais.

 

— Gostei de trabalhar com isso, eu me adaptei bem, em pouco tempo fui promovido. Mas está difícil achar emprego nessa área, sobraram poucas empresas. Talvez seja melhor se contentar e procurar emprego em outra área — cogita.

 

Lapidador da mesma empresa há 28 anos, Ildomar Rutsatz, hoje com 51, também fez parte da leva de demissões que encerrou as atividades da Strauss. Ele afirma que nos últimos meses já vinha sendo difícil de se manter no emprego e ainda se preocupa com valores de rescisão a receber. Não pensa muito no que fazer no futuro, mas reconhece que o setor de cristais não desperta muita esperança de contratações.

 

— A gente reclamava, mas ficou pior. Não é questão de querer, mas se você fica desempregado precisa procurar alguma coisa e se gosta de outra área, não volta mais. Cada um vai ter que procurar alguma coisa. É triste, mas não temos muito o que fazer — aponta.

 

 

A rotina de auxiliar de lapidação na Cristais Hering, empresa fundada em 1951 e que parou de produzir em 2009, foi a primeira experiência profissional de Antônio Scheunemann, hoje com 61 anos. Já nos primeiros anos de trabalho, Antônio foi muito além de carregar os copos e aprendeu segredos das diferentes funções com colegas. Esculpiu pouco a pouco a habilidade e se encantou pelas gravações em copos, arte que executa ainda hoje, após 42 anos.

 

— Para se tornar um lapidador profissional, que faz qualquer coisa mesmo, vai de quatro a cinco anos, e o aprendizado é só na prática mesmo — recorda.

 

O dia a dia de trabalho árduo e aprendizado ajudou o trabalhador na criação das duas filhas e lhe rendeu total domínio para talhar formas e detalhes nas peças refinadas de cristal. Trabalhar com lançamentos e técnicas mais difíceis sempre foi o que lhe deu mais prazer. E uma experiencia que levou para trabalhos futuros.

 

Após 13 anos de trabalho na tradicional fábrica de cristais, Antônio rumou para a loja Moellmann, hoje também extinta, onde permaneceu por 10 anos. Foi ali que se tornou mais conhecido na cidade e um importante personagem de uma era em que os produtos de cristais ocuparam espaço nobre nas prateleiras da economia blumenauense. Antônio exercia sua arte em uma sala montada exclusivamente para dar visibilidade às lapidações e mostrar aos clientes como era o processo e por que o produto era tão delicado e valioso — e, consequentemente, mais caro.

 

— Os turistas que vinham fazer compras sempre falavam que Blumenau era a cidade do cristal, que precisavam vir aqui para fazer compras. Naquela época era mesmo. Hoje não é mais — sentencia.

 

De fato muita coisa mudou desde os primeiros dias de trabalho de Antônio no ramo de cristais, em 1974. O setor foi do apogeu dos anos 1980, quando  funcionários como Antônio recebiam mais de cinco salários mínimos, à queda da década de 1990, com a abertura do mercado nacional aos importados de menor custo, apontados por ele como um dos algozes do segmento.

 

Reinvenção em casa e paciência contra a crise

 

Após a década como lapidador da Moellmann, Antônio se manteve no ramo de cristais, mas reinventou sua atuação. Passou a trabalhar em casa e lapidar copos para lojas de Blumenau e Piçarras. Assim como as maiores empresas do setor, ele também não produz mais no ritmo de outros tempos. Apesar das oito máquinas mantidas no terreno de casa, no bairro Itoupava Central, hoje trabalha cerca de 10 dias no mês, com uma produção média de 50 copos por dia trabalhado.

 

A paciência apontada como ferramenta básica para lapidar as peças de cristal é também uma virtude necessária para superar o momento atual, em que segundo ele “as pessoas querem pagar as contas e não procuram cristal”.

 

Antônio não acredita em uma retomada das grandes empresas que faça tudo voltar a ser como décadas atrás, mas também não pensa em parar de produzir em casa. É uma forma de retribuir as conquistas pessoais e de outros artesãos dos tempos de ouro do cristal aos clientes que ainda buscam os diferenciados artigos blumenauenses.

 

— É doloroso para a gente que viu a potência que era esse ramo, empresas com 1,2 mil funcionários, e hoje ver o setor acabar em nada, sendo que muita gente ainda depende disso. É muito difícil — lamenta.

Cuidado

Antônio lapida peças em uma oficina em casa

Edição: Larissa Gerra larissa.guerra@santa.com.br
Imagens e 
edição de vídeo: Patrick Rodrigues patrick.rodrigues@santa.com.br

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