BLUMENAU 165 ANOS
alimentar

Rede de solidariedade

-E

u não podia ficar doente. Gritei para a fotografia da Irmã Dulce e pedi para que ela me curasse. Eu tinha que levar pão para oito crianças que iam me esperar no terminal no outro dia de manhã, ela sabia disso. Gritei para que ela tirasse aquela dor de mim. Deixei de ir na missa aquela noite, mas acordei bem no outro dia e entreguei todos os pães – conta João Silveira, o João Mineiro, em meio a muitas gargalhadas, sobre o episódio em que sofreu com pedras nos rins.

 

João, que tem 77 anos, ajuda famílias carentes de Blumenau há 21 anos. Começou sozinho, mas logo despertou o espírito solidário em outros blumenauenses. Sem falar nomes, o aposentado deixa escapar que um engenheiro aposentado o leva toda semana na Rua Pedro Krauss, que um morador da Fortaleza paga o leite que ele marca no mercado da Rua Bahia e que duas costureiras fazem roupas para os bebês recém-nascidos que ele conhece.

 

– Tem uma porção de gente que me ajuda, só empresto o ombro para carregar os sacos de pão – diz.

 

Famílias com crianças estão na lista de prioridade de João Mineiro, que visita diariamente padarias da cidade que deixam reservados inúmeros pães para que ele possa distribuir entre as 30 casas que ajuda atualmente. O número, segundo ele, diminuiu depois que um tombo e uma agressão o desaceleraram. Hoje ele reserva o domingo para descansar em vez de emendar uma semana de trabalho na outra. Já perdeu a conta, mas acredita que chegou a ajudar 100 famílias ao mesmo tempo. No total, seriam mais de 300.

 

Católico e devoto de São Vicente de Paulo, padroeiro das obras de caridade, a única coisa que João pede é força nas pernas para que ele siga com o seu propósito:

 

– Até peco em falar, mas adulto eu não ajudo, gosto mesmo é de ir onde tem criança.